Correio braziliense, n. 20478, 15/06/2019. Política, p. 4

 

PF investiga hacker, diz Moro

15/06/2019

 

 

O ministro questionou a autenticidade das mensagens e afirmou que não considera impróprias as informações repassadas por ele ao coordenador da Lava-Jato . Ele acredita que um grupo criminoso foi contratado para atacar as instituições brasileiras

O ministro da Justiça e Segurança Pública, Sérgio Moro, disse ontem acreditar que o hackeamento das informações do celular do coordenador da operação Lava-Jato, procurador Deltan Dallagnol, foi feito por um grupo contratado, e afirmou que a Polícia Federal está empenhada nas investigações. “Essas investigações, às vezes, levam algum tempo , dada a dificuldade de rastrear. Eu não acredito que seja um autor só. Acho que é um grupo criminoso contratado para atacar as instituições brasileiras”, disse. “Se eles acham que as instituições brasileiras são frágeis e vão se intimidar, estão completamente equivocados. O que vai acontecer é que eles vão ser identificados e punidos na forma da lei”, completou.
Ele disse ainda que não tem certeza sobre a autenticidade das mensagens e questionou  por  que o site The Intercept, que divulgou os diálogos entre ele e  o procurador Deltan Dallagnol, não entregou o material às autoridades. 
“A partir do momento que fique aclarado o que esse ataque criminoso significa, que é um ataque às instituições e, naquilo que for possível, não for identificado alteração do conteúdo das mensagens,  vai ficar claro que não tem nenhuma ilegalidade. Muito pelo contrário. Vai ficar claro que o que tem ali são servidores cumprindo seu dever”, afirmou.  
Descuido 
O ex-juiz da Operação Lava-Jato classificou como “descuido” repassar informações  à procuradoria, que investigava o ex-presidente Lula, por um aplicativo de mensagens, mas afirmou que a prática está prevista e não vê ilicitude. “Isso está previsto expressamente no Código de Processo Penal, artigo 40, e também no artigo 7 da Lei de Ação Civil Pública diz que, quando o juiz tiver conhecimento de fatos que podem constituir crime ou improbidade administrativa, ele comunica o Ministério Público. Basicamente é isso. Eu recebi e repassei. Porque eu não posso fazer essa investigação.”
“Eu acho que simplesmente receber uma notícia-crime e repassar a informação não pode ser qualificado como uma conduta imprópria”, disse. 
“Nós lá na 13ª Vara Federal, pela notoriedade das investigações, recebíamos várias dessas por dia. Eu recebi aquela informação e, aí assim, vamos dizer, foi até um descuido meu, apenas passei pelo aplicativo. Mas não tem nenhuma anormalidade nisso. Não havia nem ação penal em curso”, afirmou.
No diálogo vazado, Dallagnol diz que o denunciante com a suposta pista informada por Moro, sobre o ex-presidente, se recusou a falar com o Ministério Público. O procurador diz, então, a Moro que pensava em fazer intimação oficial com base em  notícia apócrifa. “Melhor formalizar então”, responde Moro, que também falou sobre as investigações em andamento para identificar autores dos ataques em celulares de autoridades.
Sobre as afirmações do ministro Gilmar Mendes, do Supremo Tribunal Federal (STF), segundo as quais as gravações poderiam ser suficientes para eliminar a condenação de Lula, Moro disse que há equívocos. “Existe uma manipulação sensacionalista do conteúdo das mensagens que tem levado parte das autoridades a se equivocar sobre o conteúdo das mensagens”. Ao jornal O Estado de S. Paulo, Moro afirmou que não vai se afastar do cargo.