Correio braziliense, n. 20478, 15/06/2019. Economia, p. 7

 

BC deve manter os juros

Hamilton Ferrari

15/06/2019

 

 

Apesar de a inflação estar baixa e a economia praticamente estagnada, tendência é que a autoridade monetária não corte a taxa básica na reunião da semana que vem. Diretoria do Banco Central pretende aguardar evolução da reforma previdenciária

Mesmo pressionado para reduzir a taxa Selic na próxima reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), o Banco Central (BC) deve manter os juros no mesmo patamar, em 6,5% ao ano. Analistas defendem que, desde o último encontro, em maio, os fundamentos macroeconômicos de pouca demanda e investimentos já demonstram a necessidade de cortes. Ontem, o Índice de Atividade Econômica do BC (IBC-Br) de abril reforçou o cenário desfavorável, com queda de 0,47% no resultado do mês. (veja matéria ao lado)

Apesar de considerar uma redução da Selic necessária, economistas consideram que uma queda na próxima quarta-feira pode gerar ruídos no mercado, já que o presidente do BC, Roberto Campos Neto, tem sinalizado que a intenção é aguardar mais a definição de cenários. A autoridade monetária quer esperar a evolução da reforma da Previdência na Câmara, tema essencial para impedir que a inflação suba drasticamente.

Para o economista do Banco Daycoval Rafael Cardoso, no entanto, a baixa de maio e a expectativa de deflação em junho, além do fraco desempenho da economia, já abririam uma janela para a redução dos juros. “Os fundamentos já mostraram que, desde maio, o BC poderia ter cortado a Selic”, destacou. O Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) está em 4,66% no acumulado de 12 meses, mas os próximos resultados vão levar a taxa para níveis abaixo de 4%, de acordo com analistas. A projeção do mercado é de que o indicador terminará o ano em 3,89%.

Isso porque a falta de consumo e os níveis de atividade setoriais têm refletido no enfraquecimento da economia. No início do ano, os analistas acreditavam que o PIB cresceria 2,5% em 2019. Atualmente, as estimativas estão em 1%, com viés de baixa. O cenário externo tem sido mais favorável, com grandes chances, inclusive, de que os Estados Unidos reduzam os juros. Uma taxa mais alta no país leva a saída de recursos de nações emergentes, como o Brasil.

Cardoso avalia que Campos Neto tem tentado mostrar uma postura mais conservadora para garantir confiança do mercado. “Se fosse um BC com o histórico do Ilan (Goldfajn, antigo presidente), talvez já tivesse agido. Ele ainda está fazendo a sua imagem para passar uma boa impressão para o mercado”, destacou. O economista entende, porém, que é preciso agir, já que os números da economia são desfavoráveis e a recuperação econômica está fraca.

O economista-chefe da Necton Investimentos, André Perfeito, porém, acredita que na reunião de julho o BC não deve escapar de cortar a Selic. “Somam evidências de que existe uma total falta de demanda na economia. Trabalhamos com três cortes neste ano, começando na reunião do próximo mês. As três reduções de 0,25 ponto percentual, o que levariam a Selic para 5,75% ao ano”, destacou. Segundo especialistas, a atividade está estagnada e, caso a reforma da Previdência não passe ou seja aprovada com impacto fiscal pequeno, a tendência é de volta para a recessão profunda.

• Impacto menor em decisão do STF

O Ministério da Economia divulgou nota de esclarecimento sobre o impacto fiscal da decisão do Supremo Tribunal Federal (STF), em abril, sobre créditos a empresas que compram insumos na Zona Franca de Manaus. Na época, o titular da pasta, Paulo Guedes, estimou que seria de R$ 20 bilhões a R$ 30 bilhões por ano, bem acima dos R$ 2,3 bilhões informados ontem. O valor também está abaixo do divulgado pela Procuradoria-Geral da Fazenda Nacional (PGFN), que estimou impacto de R$ 16 bilhões. De acordo com a nota, “se a decisão se estendesse a todos os produtos, o impacto total seria de R$ 16,2 bilhões por ano”. A decisão do STF manteve o direito de empresas que compram insumos isentos de impostos na região contabilizem como crédito tributário o valor do IPI que incidiria sobre o produto.

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IBC-Br reforça possível recessão

 

 

 

 

 

15/06/2019

 

 

 

A queda de 0,47% no Índice de Atividade Econômica (IBC-Br) de abril acendeu um alerta no governo. Após a economia ter caído 0,2% no primeiro trimestre do ano, há riscos de que o Brasil entre em recessão técnica. Isso ocorre quando há dois resultados no vermelho em sequência. Segundo analistas, o segundo trimestre do ano também pode ser negativo.

A estimativa dos economistas é de que o Produto Interno Bruto (PIB) do período fique perto da estabilidade, em 0,2% ou menos. Se ficar abaixo de zero, o país voltará para o estágio recessivo. O economista-chefe da Confederação Nacional do Comércio (CNC), Fábio Bentes, ressaltou que o segundo trimestre não começou bem.

“Tivemos essa queda no IBC-Br de abril. Também começou com queda no comércio. A alta no mês para o setor de serviços não anima nada, porque não compensa a queda de março, por exemplo. E isso tudo acompanha o dado de um mercado de trabalho fraco, que tem recuperação fraca e lenta”, opinou.

O economista Flavio Serrano, do Banco Haitong, explicou que a recessão técnica não significa uma crise profunda, já que demonstra mais uma estagnação da economia. “O que me preocupa é o PIB ter crescimento de 0,1% no quarto trimestre de 2018, cair 0,2% no primeiro de 2019 e também ficar próximo de zero no próximo. Demonstra que não temos condições efetivas de ter recuperação mais forte”, destacou.

Serrano enfatizou também que o governo federal terá um grande desafio após a aprovação da reforma da Previdência, que deve ocorrer, segundo ele, entre setembro e outubro no Congresso. “É ilusão imaginar que todos os problemas acabaram após a aprovação da reforma e que a economia vai crescer de forma pujante. Os nossos problemas são sérios, profundos, estruturais e conjunturais. Teremos que passar por um processo de tentar ganhar competitividade e segurança jurídica, por exemplo, além de outras reformas, como a tributária e os microeconômicas”, defendeu. (HF)