Título: Risco de fraude é quase inexistente
Autor: Pedreira, Vinícius
Fonte: Correio Braziliense, 06/10/2012, Mundo, p. 19

O país adota, pela primeira vez, as urnas eletrônicas e o sistema de identificação biométrica

A poucas horas de uma das eleições presidenciais mais aguardadas dos últimos tempos, os venezuelanos puderam acompanhar as instalações de cerca de 39 mil urnas para o pleito de amanhã. Desde as 8h (hora local) de ontem, as autoridades eleitorais distribuíram os equipamentos nos 13 mil centros de votação espalhados por todo o país. Pelo menos 18 milhões de venezuelanos estão aptos a escolher entre o atual presidente, Hugo Chávez, e o opositor Henrique Capriles Radonski.

Segundo o Conselho Nacional Eleitoral (CNE), 93% dos profissionais que trabalharão nas eleições já foram capacitados e credenciados para atuar no Sistema Automatizado de Votação (SAV). As eleições terão como novidade a introdução de um sistema totalmente eletrônico e computarizado, que faz uso de um dispositivo de identificação de digitais acoplado à máquina de votação — um sistema bio-métrico similar ao das eleições municipais de amanhã, no Brasil. Com ele, o eleitor certifica sua identidade, com o intuito de minimizar o risco de que uma pessoa vote com nome falso.

Mesmo com o encerramento da campanha, Capriles utilizou sua página no microblog Twitter para dirigir-se aos eleitores. "Já sabes! O voto é secreto! Quando estiver frente à urna "Votaporti", publicou. Na quarta-feira, durante o último comício em Barquisimeto, capital do estado de Lara, o opositor enviou um recado irônico ao mandatário. "Quero dizer ao presidente Chávez: seu ciclo termina. Eu agradeço infinitamente de coração pelo senhor ter me permitido ver claramente o rumo que precisamos tomar, o rumo do amor, e não do ódio", disse Capriles. Chávez fez seu último pronunciamento com um tom quase apocalíptico. "O que vai ocorrer na Venezuela daqui a 100 anos dependerá do que acontecer no domingo (amanhã). Por mais problemas que existam, em 7 de outubro, estamos jogando pela vida da pátria", afirmou.

Corrida ao mercado

Especialistas americanos do Centro Carter, que acompanha o atual processo eleitoral venezuelano, descartaram possíveis fraudes e consideraram infundados os temores com o uso do sistema. No entanto, existe, entre a população, a expectativa de um resultado apertado, além do receio de acusações de ilegalidades e de protestos. De acordo com a agência de notícias Reuters, venezuelanos lotaram os supermercados, ontem, para comprar mantimentos, receosos de futuros problemas dentro de uma sociedade dividida e com grande número de armas ilegais.

Os temores são baseados na cédula de votação venezuelana, que traz 12 vezes a imagem de Chávez e 22 vezes a de seu principal adversário. Por serem apoiados por variadas coligações partidárias, cada partido da aliança é representado na cédula com o rosto do candidato apoiado. Caso o voto seja realizado com base na foto da qual o partido já tenha retirado apoio ao candidato, ele perderá a validade. Para tentar contornar o problema, o CNE enviará erratas para serem colocadas em locais visíveis nas seções eleitorais.

A campanha eleitoral foi marcada pela violência. Durante um comício de Capriles na cidade de Barinas, três ativistas da oposição foram mortos a tiros. Também ocorreram incidentes com o uso de armas de fogo e pessoas acabaram feridas com pedradas em alguns eventos. Tanto Capriles quanto Chávez garantiram confiar no novo sistema eletrônico e anunciaram que aceitarão o resultado das urnas.