O globo, n.31389, 16/07/2019. Mundo, p. 19

 

Ofensiva pró-Eduardo 

Jussara Soares 

Bruno Góes 

Gustava Maia 

16/07/2019

 

 

A indicação do deputado Eduardo Bolsonaro (PSLSP), filho do presidente Jair Bolsonaro, para a embaixada nos Estados Unidos jáé tratada nos bastidores do Palácio do Planalto como “quase certa ”. O anúncio oficial, no entanto, não tem data para ocorrer, e ontem Bolsonaro divulgou um comunicado listando cinco razões para justificar “a eventual nomeação”, entre elas ser “legalmente viável” e “acesso facilitado” ao presidente Donald Trump. O grupo que defende a nomeação de Eduardo, do qual faz parte o chanceler Ernesto Araújo, busca, neste momento, construir o consenso dentro do governo e alinhara“estratégia de comunicação” para minimizar possíveis desgastes.

Entre os auxiliares do presidente, alguns têm se mostrado mais resistentes à indicação, temendo uma repercussão negativa para o governo. É este o ponto que o grupo pró-Eduardo tenta pacificar. Apesar disso, ninguém deverá se colocar publicamente contra a entrega da embaixada ao filho do presidente.

RESISTÊNCIAS NO SENADO

Ao mesmo tempo, governistas trabalham para diminuir as resistências à indicação no Senado, onde os pretendentes ao posto de embaixador são sabatinados na Comissão de Relações Exteriores e no plenário. Senadores prometeram barrar a nomeação, e o governo quer evitar uma derrota nesse sentido. Neste momento, segundo a avaliação de um aliado no Congresso, a divisão entre os parlamentares contra e a favor da indicação está equilibrada. Mas alguns prognósticos são mais pessimistas:

—Acho que hoje ele (Bolsonaro) corre sérios riscos de mandar para o Senado e ser derrotado. A votação é secreta, (a nomeação) não tem precedentes no mundo em países democráticos — avaliou a senadora Simone Tebet (MDBMS), presidente da Comissão de Constituição e Justiça. — Até mesmo algumas pessoas que defendem com unhas e dentes (estão) questionando que esse foi um erro.

Em outra frente de atuação, a Controladoria Geral da União e a Advocacia Geral da União já estariam preparando pareceres favoráveis à nomeação. O chefe do Executivo, segundo assessores, quer evitar uma eventual contestação da indicação na Justiça.

Ontem, Bolsonaro voltou a defendera indicação do filho. Amanhã, o presidente desembarca em Santa Fé, na Argentina, para participar da Cúpula do Mercosul. Eduardo, presidente da Comissão de Relações Exteriores da Câmara, não deve acompanhar o pai desta vez.

—O que eu mais quero é colocar o Brasil no local de destaque no cenário mundial. Por vezes, temos tomado decisões que não agradam a todos. Como a possibilidade de indicar para a embaixada nos Estados Unidos um filho meu, tão criticado pela mídia. Se está sendo criticado, é sinal de que é a pessoa adequada—disse.

Segundo auxiliares do presidente, o Planalto reconhece que a indicação é um dos “movimentos mais arriscados” de Bolso na roa té aqui. Nas contas do presidente, entretanto, o eventual desgaste político de uma acusação de nepotismo é menor do que os ganhos em ter Eduardo buscando reforçar o relacionamento com o governo americano deTrump.

MINISTRO DESTACA FILIAÇÃO

Mais tarde, o ministro-chefe da Secretaria Geral da Presidência, Jorge Oliveira, engrossou o coro de apoio a Eduardo, após sessão solene na Câmara, em homenagem ao Comando de Operações Especiais do Exército, da qual Bolsonaro e o filho também participaram. O ministro defendeu que o deputado tem competência para ocupar o posto e disse discordar de que se trataria de nepotismo. Para Oliveira, que foi chefe de gabinete de Eduardo na Câmara dos Deputados, “a principal” credencial do parlamentar seria, “obviamente”, ser filho do presidente.

A polêmica ideia levou até mesmo o ideólogo de direita Olavo de Carvalho a criticara possibilidade de Eduardo se tornar embaixador do Brasil em Washington. Sob alegação de que o filho do presidente tem uma“missão histórica” no Congresso—ade liderar uma eventual CPI para investigar o Foro de São Paulo — Olavo disse, em vídeo publicado no sábado, que um novo cargo seria a “destruição da carreira” de Eduardo.

Foi preciso seguidores do ideólogo com cargos no Executivo atuarem para contornar acrítica. Olavo voltou às redes sociais domingo e disse que se a ideia de ter Eduardo como embaixador foi de Trump, seria uma “boa notícia”.

Integrantes do Palácio do Planalto avaliam que o presidente Bolsonaro soltou um “balão de ensaio” ao confirmar, em entrevista coletiva na última quinta-feira, que pensava nomear o filho embaixador. Para os auxiliares, Bolsonaro divulgou a informação a fim detestara receptividade da ideia de ter o 03 — como chama o terceiro dos seus herdeiros — em um dos postos mais importantes da diplomacia brasileira. (Colaborou Marco Grillo)

“Por vezes, temos tomado decisões que não agradam a todos. Como a possibilidade de indicar para a embaixada nos Estados Unidos um filho meu, tão criticado pela mídia. Se está sendo criticado, é sinal de que é a pessoa adequada” Jair Bolsonaro, presidente

AS CINCO RAZÕES DO PRESIDENTE PARA MANDAR O FILHO AOS EUA

1 É legalmente viável.

2 Ele [Eduardo] detém a total confiança do presidente Bolsonaro e o acesso facilitado ao mandatário daquela Nação amiga.

3 É presidente da Comissão de Relações Exteriores e Defesa Nacional da Câmara dos Deputados.

4 É conhecedor de relações internacionais.

5 Tem acompanhado comitivas do governo lideradas pelo presidente e internalizado os princípios da atual política externa do Brasil.