O Estado de São Paulo, n. 45972, 30/08/2019. Economia, p. B3

 

Modesta, expansão do PIB afasta recessão

Vinicius Neder

Daniela Amorim

Mariana Durão

30/08/2019

 

 

Resultado, estimulado pelo consumo e por investimentos, afasta País da recessão técnica

O ritmo da economia brasileira surpreendeu no 2.º trimestre. O Produto Interno Bruto (PIB) cresceu 0,4% ante o trimestre anterior, segundo dados do IBGE – acima do esperado por analistas, que previam avanço de 0,2%, na pesquisa do Projeções Broadcast. A alta em relação ao 2.º trimestre de 2018 (1,0%) foi o dobro da registrada no 1.º trimestre.

A aceleração da economia foi puxada pelo consumo das famílias e dos investimentos, mas o ritmo da recuperação continua lento. Dois anos e meio após o fim da recessão, o nível da atividade ainda está 4,8% abaixo do registrado antes da crise. “Não dá para dizer que a economia vai entrar numa decolagem mais rápida, ainda falta muito para decolar”, disse o economista-chefe da SulAmérica Investimentos, Newton Camargo Rosa. A construção civil foi destaque, ao voltar a crescer após cinco anos de queda (ler mais na pág. B4).

O ritmo de crescimento do 2.º trimestre foi visto com otimismo por alguns economistas por afastar o País da chamada “recessão técnica” (caracterizada por dois trimestres seguidos de retração) e também por frear o processo de revisões para baixo nas expectativas para a economia. Outros lançaram dúvidas sobre a capacidade de a indústria e os investimentos sustentarem os bons desempenhos.

Para o economista-chefe e sócio da Mauá Capital, Alexandre Ázara, o crescimento do 2.º trimestre “quebrou a dinâmica pessimista” em relação às expectativas para 2020 e “estabilizou” as perspectivas para este ano.

As projeções para 2019 foram revistas para cima, ainda que pouco. Pesquisa do Projeções Broadcast, após o resultado de ontem, aponta para crescimento de 0,9% em 2019, ante 0,8% no levantamento anterior. Oito de 32 instituições consultadas elevaram as estimativas.

“Fomos surpreendidos. A dúvida é se os elementos que surpreenderam vão perdurar”, disse o economista-chefe da Daycoval Asset, Rafael Cardoso. “O 2.º trimestre não muda a história para este ano. Só retoma uma recuperação lenta e gradual”, reforçou Julio Cesar Barros, da Mongeral Aegon Investimentos.

Em sua transmissão semanal pelo Facebook, o presidente Jair Bolsonaro comemorou. “Não sei o que será deste trimestre que já começou, mas o 0,4% é muito bem-vindo.”

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Atividade econômica reage no segundo trimestre do ano

Silvia Matos

Luana Miranda

30/08/2019

 

 

Os dados divulgados pelo IBGE confirmaram o cenário de aceleração do PIB discutido pelo Boletim Macro Ibre há vários meses. A indústria exibiu desempenhos mistos. Por um lado, a indústria extrativa seguiu em trajetória de queda, refletindo a brusca redução da produção de minério de ferro após o desastre em Brumadinho. Por outro,

a indústria de transformação registrou o primeiro trimestre de crescimento após dois trimestres consecutivos de queda e a construção civil finalmente registrou o primeiro avanço interanual desde o início da última recessão.

Em termos interanuais, houve uma aceleração do crescimento de 0,5% no primeiro trimestre para 1,0% no segundo. Se excluirmos as contribuições negativas provenientes da agropecuária e da extrativa, setores que foram contaminados por choques de oferta não antecipados, a aceleração seria ainda maior, de 0,7% no primeiro trimestre para 1,4% no segundo.

O desempenho favorável da construção civil e da importação de bens de capital impulsionou o investimento, que exibiu a primeira reação após dois trimestres de retração. Ainda assim, o investimento está 26% abaixo do pico registrado em 2013. Apesar do avanço, a perspectiva para o crescimento do investimento este ano é desanimadora, apenas 2,4%, inferior ao de 2018. Mas essa projeção inclui as importações de plataformas antigas de petróleo. Ao desconsiderá-las, o investimento cresceria apenas metade deste valor. O consumo das famílias também avançou e continua sendo o principal motor da recuperação no pós-recessão e deve crescer 2,0% no ano.

Para este ano, nossa projeção de crescimento é de 1,2%. A melhora no cenário da confiança, redução moderada da incerteza econômica, afrouxamento das condições financeiras e a liberação dos recursos do FGTS corroboram esse cenário. Contudo, o principal risco para o crescimento deste ano está associado ao cenário externo mais desafiador e ao aumento da aversão ao risco, que pode prejudicar os países emergentes e levar a uma nova rodada de aperto das condições financeiras nacionais.