Valor econômico, v.19, n.4700, 28/02/2019. Empresas, p. B4

 

Petrobras lucra R$ 25,8 bi em 2018

André Ramalho 

Camila Maia 

Rodrigo Polito 

Rafael Rosas 

28/02/2019

 

 

Após quatro anos seguidos de prejuízo, a Petrobras anunciou ontem lucro líquido de R$ 25,779 bilhões em 2018, o melhor resultado anual desde 2011, quando a empresa apresentou ganhos de R$ 33,3 bilhões. Com as contas de volta ao azul, a petroleira garantiu aos seus acionistas uma remuneração de R$ 7,1 bilhões, relativos ao exercício do ano passado.

Desse total, a empresa já pagou R$ 2,608 bilhões por meio de juros sobre capital próprio antecipados. A última vez que a empresa pagou dividendos foi em 2014, no valor de R$ 8,7 bilhões, relativos ao exercício de 2013.

Junto com o lucro, a estatal anunciou também a superação de sua meta de desalavancagem. A companhia fechou 2018 com uma relação dívida líquida/Ebitda (lucros antes de juros, impostos, depreciação e amortização) de 2,34 vezes, número inferior à meta de 2,5 vezes traçada no plano de negócios. A dívida líquida caiu 18%, para US$ 69,378 bilhões. Ontem, a petroleira comunicou o pagamento antecipado de R$ 5,9 bilhões em dívidas com bancos nacionais e de US$ 1 bilhão com o Standard Chartered Bank.

A petroleira atribuiu os ganhos de 2018 à valorização de 31% nos preços internacionais do barril, frente a 2017, e a um efeito positivo R$ 2,365 bilhões com a revisão de estimativas de gastos futuros com abandono de campos de produção. As receitas da empresa cresceram 23%, para R$ 349,8 bilhões, diante do aumento dos preços dos derivados no mercado interno. A elevação dos preços ajudou a compensar a queda de 1% dos volumes de venda.

O Ebitda ajustado foi recorde, tendo crescido 50%, para R$ 114,852 bilhões, como resultado das maiores margens nas vendas de derivados no mercado doméstico e das exportações. O fluxo de caixa livre atingiu o seu recorde, de R$ 54,6 bilhões.

Pelo lado das despesas, houve aumento de 10% nas despesas operacionais, para R$ 61,5 bilhões. A companhia atribui o gasto maior, principalmente, ao pagamento de tarifas para utilização de gasodutos - sobretudo após a venda da Nova Transportadora do Sudeste (NTS), em 2017 - e aos maiores gastos com participações governamentais e importações.

As despesas gerais e administrativas, por sua vez, recuaram 4,1%, para R$ 8,932 bilhões, refletindo os menores gastos com consultorias, tecnologia da informação (TI) e serviços administrativos prestados por terceiros. A empresa também atribuiu o corte à disciplina financeira de controle de gastos.

Em nota, o presidente da Petrobras, Roberto Castello Branco, comemorou os resultados de 2018. Segundo o executivo, a venda da refinaria de Pasadena (EUA), "cuja aquisição havia se transformado em símbolo da corrupção no Brasil", e a celebração dos acordos com a Securities and Exchange Commission (SEC) e o Departamento de Justiça americano (DoJ), para encerrar investigações nos Estados Unidos, marcam o "fim de um ciclo doloroso" para a companhia, acionistas, funcionários e a sociedade brasileira.

Assim como seus antecessores, o executivo classificou a Petrobras como vítima do que ele chamou de "prolongado saque perpetrado por uma organização criminosa".

"Celebramos os bons resultados de 2018, mas não podemos nos limitar à visão interna, à comparação conosco mesmo em anos anteriores. Ampliando nosso horizonte para a indústria de petróleo global, reconhecemos humildemente que estamos muito aquém do desejável. Não podemos nos conformar com a situação atual, havendo muito a fazer muitos desafios a superar", disse Castello Branco.

O executivo reforçou, ainda, que a companhia vai continuar buscando redução de custos. "O 'lifting cost' [custo de extração] médio tende a declinar na medida em que os campos do pré-sal, de custo em torno de US$ 7/BOE [barril de óleo equivalente], continuem a aumentar sua fatia na produção total da Petrobras e nossas iniciativas para elevação de produtividade e corte de custos tenham mais sucesso", afirmou Castello Branco.

O resultado de 2018 foi marcado, ainda, por um "impairment" (reconhecimento de perdas no valor de recuperação de ativos) de R$ 7,583 bilhões, com destaque para baixa contábil de R$ 2,775 bilhões em campos de óleo e gás no exterior, associada à redução da participação da empresa nos campos envolvidos na formação de uma joint venture com a Murphy Oil para exploração e produção nos Estados Unidos. Houve também um "impairment" de R$ 1,63 bilhão, relativo ao conjunto de navios da Transpetro, devido ao reconhecimento de perdas com menores valores de fretes projetados.