O Estado de São Paulo, n. 45969, 27/08/2019. Política, p.A7

 

PF atribui a Maia crimes de lavagem de corrupção

 

 

Luiz Vassallo

Fausto Macedo

Rafael Moraes Moura

27/08/2019

 

 

Segundo investigação, irregularidades vêm de repasses da Odebrecht; deputado nega

 

 

ALOISIO MAURICIO/FOTOARENA

Deputado. Maia, ao participar de evento em SP; presidente da Câmara diz que relatório não tem ‘embasamento fático’

 

Em relatório conclusivo, a Polícia Federal afirma ver “elementos concretos e relevantes” da prática dos crimes de corrupção passiva, lavagem de dinheiro e falsidade ideológica eleitoral (caixa 2) pelo hoje presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), e o ex-prefeito do Rio César Maia. Segundo a PF, pai e filho receberam e tentaram dissimular a origem de R$ 350 mil em “vantagens indevidas” nos anos de 2008 e 2010.

O relatório, assinado pelos delegados Bernardo Guidali Amaral e Orlando Cavalcanti Neves Neto, foi concluído no dia 22 e anexado ao inquérito já aberto no Supremo Tribunal Federal (STF), sob a relatoria do ministro Edson Fachin. No dia 23, Fachin deu 15 dias para a procuradora-geral da República, Raquel Dodge, decidir se oferece denúncia – ela também pode devolver com solicitação de novas investigações.

A investigação foi aberta com base em relatos de três ex-executivos da Odebrecht, em colaboração premiada: o ex-diretor de Infraestrutura, Benedicto Barbosa da Silva Júnior, o ex-executivo da Odebrecht Infraestrutura João Borba Filho e o funcionário do setor de Operações Estruturadas (apontado por investigadores da Lava Jato como o setor de distribuição de propinas da empreiteira) Luiz Eduardo da Rocha Soares.

Segundo a PF, Rodrigo e César Maia praticaram corrupção passiva ao solicitarem e receberem as vantagens indevidas, lavagem de dinheiro ao tentarem dissimular a origem dos recursos e crime eleitoral “na modalidade ‘Caixa 3’”, ao apresentar apenas as informações de cunho estritamente formal das doações repassadas por duas distribuidoras do Grupo Petrópolis, a Leyroz Caxias e a Praiamar” – que teriam agido como intermediárias da Odebrecht nos repasses.

A Polícia Federal também atribui os crimes de lavagem de dinheiro ao ex-chefe de gabinete de César Maia João Marcos Cavalcanti de Albuquerque e lavagem de dinheiro ao empresário Walter Faria, dono do Grupo Petrópolis, e a Roberto Fontes Lopes, sócio e proprietário da Leyroz e da Praiamar. Faria está preso desde o dia 5, após a deflagração da operação Rock City, 62.ª fase da Lava Jato, que acusa a cervejaria de lavar R$ 329 milhões para a Odebrecht, para campanhas eleitorais.

O relatório da PF, aberto em maio de 2017, foi concluído uma semana depois da aprovação, na Câmara, do projeto que define os crimes de abuso de autoridade. Acontece também no momento em que delegados da PF pressionam a Câmara pela aprovação de projeto que propõe mais autonomia à instituição – uma reação às recentes interferências do presidente Jair Bolsonaro na corporação.

 

Defesas. Em nota, Rodrigo Maia afirmou que o relatório não tem “embasamento fático, comprobatório ou legal já que foi baseado exclusivamente em palavras e planilhas produzidas pelos próprios delatores”. Maia diz ainda que todas as doações que recebeu para campanhas eleitorais foram solicitadas dentro da legislação, contabilizadas e declaradas à Justiça. “Nunca houve pagamentos não autorizados por parte da Odebrecht ou de qualquer outra empresa.”

A reportagem entrou em contato com os demais citados, mas não obteve resposta até a conclusão desta edição.