Título: Do ar, bombas com fragmentos
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Fonte: Correio Braziliense, 15/10/2012, Mundo, p. 13

Segundo ONG, o artefato com maior poder de destruição é lançado em várias regiões do país por tropas de Assad

Aeronaves de Bashar al-Assad laçam bombas de fragmentação contra civis, de acordo com denúncia feita ontem pela organização não governamental (ONG) Human Rights Watch (HRW). O artefato bélico tem um poder de destruição maior. Divide-se em pedaços que se espalham por uma grande área, atingido os alvos indiscriminadamente. Segundo a entidade de defesa dos direitos humanos com sede em Nova Iorque, as armas foram utilizadas, na última semana, em Maaret al-Nooman, no norte do país, para conter o avanço de rebeldes em uma rodovia estratégica da região. Ao manter a estrada sob controle, eles conseguiram cortar o fluxo de reforços militares entre Damasco, a capital, e Aleppo, o centro econômico do país. Vídeos postados por ativistas sírios, de acordo com a ONG, comprovam a prática também em confrontos nas províncias de Idleb (noroeste), Aleppo (norte), Homs (centro), Latakia (costa sul) e em Damasco.

“O desprezo da Síria pela população civil reflete-se claramente na campanha aérea, que inclui agora o lançamento de bombas de fragmentação mortais em zonas habitadas”, declarou Steve Goose, responsável pelas questões de armamento da HRW, em um comunicado divulgado no site da entidade. Também no documento, a ONG mostrou-se preocupada com a possibilidade de homens e crianças se machucarem com pedaços das bombas que não explodiram. Vídeos feitos por integrantes da Human Rights Watch mostram pessoas mexendo nesses lixos bélicos. “As armas de fragmentação foram banidas da maioria dos países e a Síria devia parar imediatamente de utilizar essas armas cegas que continuam a matar e a mutilar”, defendeu Goose.

A partir de imagens divulgadas por ativistas, especialistas consultados pela ONG identificaram que as bombas de fragmentação são a RBK-250/275 e RBK-500, de origem soviética. Não se sabe, porém, quando os artefatos foram adquiridos pelo governo sírio. Para grupos de defesa dos direitos humanos, o uso desse tipo de bomba perto de áreas de moradia de civis pode ser considerado um crime de guerra. Mais de 70 países proibiram o uso desses artefatos por meio da assinatura da Convenção sobre Munições de Fragmentação, que se tornou lei internacional em agosto de 2010. A Síria não ratificou a convenção, que prevê ainda a limpeza das áreas contaminadas pelos pedaços de artefatos e a assistência às vítimas.

Em meio às denúncias, o confronto entre militares e rebeldes não cessou ontem, principalmente no norte do país. De acordo com o Observatório Sírio dos Direitos Humanos (OSDH ), o exército sírio recuperou controle total da mesquita de Omeia, no centro de Aleppo, que havia sido parcialmente tomada pelos rebeldes no dia anterior. Ainda conforme a organização, pelo menos 60 pessoas, entre civis e rebeldes, morreram ontem na Síria. Na capital, o Exército também tomou ruas e trocou tiros com rebeldes.

Turquia revida

A Síria passa ainda por um período de intensificação de conflitos além de suas fronteiras. Ontem, o governo turco anunciou que o espaço aéreo do seu país está totalmente fechado para aeronaves sírias. A medida, divulgada pelo ministro das Relações Exteriores, Ahmet Davutoglu, é uma resposta a uma medida semelhante anunciada pela Síria um dia antes. “Fechamos no sábado nosso espaço aéreo aos voos civis de aviões sírios como já havíamos decidido anteriormente com os voos militares”, disse Davutoglu, durante uma visita à localidade de Konya, no centro da Turquia.

A relação entre os dois países está estremecida desde o início deste mês, quando um ataque proveniente do território sírio matou cinco cidadãos turcos próximo à divisa entre as nações. Na última quarta-feira, a Turquia interceptou um avião sírio que carregava o que eles afirmaram ser munições fabricadas pelos russos a serem entregues às tropas de Bashar al-Assad. A Síria negou e desafiou a Turquia a comprovar a denúncia em público. Também em resposta, Moscou afirmou que não se tratava de armamentos, mas de radares.

Sinais de tortura em dezenas de corpos

A organização opositora Observatório Sírio de Direitos Humanos (OSDH) também divulgou que dezenas de corpos com sinais de tortura foram encontrados ontem, em um hospital na periferia de Damasco. “Sabemos que morreram a tiros, aparentemente em combates com o exército (sírio)”, declarou à agência France-Presse o presidente da OSDH, Rami Abdel Rahmane. Vídeos enviados por militantes no YouTube mostram os cadáveres amontoados em necrotérios para onde foram enviados.

"O desprezo da Síria pela população civil reflete-se claramente na campanha aérea, que inclui agora o lançamento de bombas de fragmentação mortais em zonas habitadas" Steve Goose, integrante da Human Rights Watch