O Estado de São Paulo, n. 45971, 29/08/2019. Metrópole, p. A18

 

Capital tem 1ª morte por sarampo em 22 anos; Estado relata 10.608 casos suspeitos

Paula Felix

Fabiana Cambricoli

Ligia Formenti

29/08/2019

 

 

Saúde. Até agora há 1.637 casos confirmados da doença no Município; no Estado, onde o vírus já chegou a 89 cidades e está em expansão, foram confirmados 2.457 registros. A expectativa do Ministério da Saúde é de que os números comecem a se reduzir

A Secretaria Municipal de Saúde confirmou a primeira morte por sarampo na cidade de São Paulo em 22 anos. Em todo o Estado, há 2.457 registros confirmados da doença e outros 10.608 casos em investigação. A vítima da capital é um homem de 42 anos que não tinha registro de vacinação e apresentava vulnerabilidade para infecções.

“O paciente morreu em 17 de agosto. Ele tinha uma condição clínica que o deixava vulnerável a infecções”, explica Solange Maria Saboia, diretora da Coordenadoria de Vigilância em Saúde (Covisa). A informação da Prefeitura é de que o paciente havia passado por uma cirurgia para retirada do baço e não tinha registro de vacinação contra o sarampo e outras vacinas que protegeriam de deficiência imunitária.

Até o momento, a capital paulista tem 1.637 casos confirmados da doença, que é altamente contagiosa e grave. A atual campanha de vacinação da Prefeitura vai até sábado. Ela foi iniciada em junho e tem como público quem tem entre 15 e 29 anos. Crianças de 6 meses a 1 ano também são vacinadas. De acordo com a diretora da Covisa, 41,4% dos jovens e 62,9% dos bebês foram imunizados até agora.

Segundo o balanço divulgado ontem pelo Ministério da Saúde, a doença agora está presente em 13 Estados. Mas a maioria dos registros está concentrada em São Paulo. Nos outros Estados, há 32 relatos. São Paulo foi também o primeiro a confirmar uma morte provocada pela doença neste novo ciclo do surto, iniciado em junho.

O secretário de Vigilância do Ministério da Saúde, Wanderson Kleber Oliveira, disse considerar que o Município e a região metropolitana de São Paulo vivem uma situação de emergência de saúde local por causa do sarampo. Ele afirmou que há ainda outro óbito suspeito de sarampo no País. O relato é de uma criança menor de 1 ano, no interior de Pernambuco.

Um boletim do Centro de Vigilância Estadual mostra que o vírus já chegou a 89 cidades paulistas. As mais afetadas ficam na região metropolitana, mas a secretaria já prevê que o surto se expanda para outras regiões. “Nas últimas duas semanas percebemos que o vírus está indo para o interior”, disse Helena Sato, diretora de imunização da Secretaria Estadual da Saúde.

Sorocaba, Jundiaí, Catanduva, Bauru, Americana, Aparecida e Vinhedo são algumas das cidades paulistas do interior que já confirmaram casos da doença. Segundo Helena, não haverá, por enquanto, nova campanha focada em algum público específico, mas as vacinas estão disponíveis nos postos de saúde para pessoas de 1 a 59 anos que não têm as duas doses obrigatórias ainda. “Nossa estratégia agora é conscientizar a população sobre a necessidade de se vacinar e realizar bloqueios vacinais em locais onde há casos suspeitos.”

Estratégia. Apesar do aumento do número de casos, o Ministério da Saúde manteve a conduta adotada na semana passada, que é a de estender a vacinação apenas para crianças entre 6 meses e 1 ano, em todo o território nacional. Batizada de dose zero, a estratégia tem como objetivo antecipar a proteção dessa população, considerada mais vulnerável. Nessa faixa etária, a relação é de 46 casos a cada 100 mil habitantes. Entre bebês de 1 a 4 anos, a relação é de 12 casos a cada 100 mil habitantes. Entre jovens de 20 a 29 anos, a taxa de casos é de 10 a cada 100 mil.

Não há intenção de se fazer campanhas de vacinação específicas contra a doença em todo o País. Como o Estado adiantou, essa decisão é tomada por causa dos estoques da vacina. O secretário Oliveira vem repetindo que o imunizante é suficiente para as ações que foram desenhadas até o momento. Não haveria quantitativo para fazer uma campanha para uma extensão maior da população. Nem mesmo para compra no mercado internacional.

Isso porque outros países enfrentam aumento de casos da doença, pressionando a demanda. “Gostaríamos de ter vacina para todos. Mas não há no mundo nenhum país que tenha feito isso. Não há razão”, disse ele.

Estimativa. A expectativa do Ministério da Saúde é de que os números da doença comecem a se reduzir. Os dados reunidos até o momento indicam que o surto atingiu uma fase de estabilidade. “Esse é o cenário da semana passada. Estamos investigando, mas já demonstra uma projeção de pequena tendência de redução de casos”, afirmou o secretário.

Pelo mundo

160 mil casos da doença foram notificados na Europa em 2018 e 2019.

PERGUNTAS & RESPOSTAS

Doença pode causar sequela

1. Como acontece a transmissão do sarampo?

A transmissão ocorre por meio de secreções expelidas ao tossir, espirrar, falar ou respirar, de quatro a seis dias antes e até quatro dias após o aparecimento de manchas vermelhas na pele.

2. Quem deve se vacinar?

Por causa do aumento de casos, crianças de 6 meses a 1 ano devem ser vacinadas (dose extra). Além disso, fica mantido o esquema vacinal, da primeira dose aos 12 meses e da segunda aos 15 meses. Quem tem até 29 anos e tomou só uma dose deve receber a segunda. Quem perdeu o cartão e não sabe quantas doses tomou também precisa se vacinar. A vacina não é indicada para gestantes.

3. Quem já teve sarampo pode ter de novo?

Não. Quem teve sarampo já possui os anticorpos.

4. A vacina é eficaz?

Sim. A imunização evita o sarampo em 98% dos casos.

5. Quais os riscos da doença?

Complicações do sarampo podem deixar sequelas como diminuição da capacidade mental, cegueira, surdez e retardo do crescimento.