O Estado de São Paulo, n. 45967, 25/08/2019. Metrópole, p.A17
Breno Pires
25/08/2019
Ambiente. Agentes vão para Pará e Rondônia, que também receberão tropas do Exército, além de Acre, Mato Grosso, Roraima e Tocantins; Defesa obtém liberação de R$ 28 mi. Governadores do Norte falam em falta de recursos e Sudeste e Sul prometem auxílio
Sob solicitação dos Estados, a gestão Jair Bolsonaro ampliou ontem o envio de tropas federais para tentar conter os incêndios na Amazônia, além de acenar com a liberação de recursos bloqueados. O ministro da Justiça e da Segurança Pública, Sérgio Moro, autorizou o envio da Força Nacional para ações de combate ao desmatamento em Pará e Rondônia. São dois dos seis Estados que já acertaram com o governo o envio das Forças Armadas, com base no decreto da Garantia da Lei e da Ordem (GLO). Os outros são Roraima, Tocantins, Acre e Mato Grosso.
O ministro da Defesa, Fernando Azevedo e Silva, informou que o governo deve liberar até R$ 28 milhões como medida emergencial para apoio ao combate às queimadas. A Pasta tem previsto esse valor anual para emprego em GLO – mas os recursos estão contingenciados. Azevedo e Silva disse que o ministro da Economia, Paulo Guedes, se comprometeu a liberá-los. “Lógico que são recursos emergenciais que duram pouco. Eu fui responsável pela intervenção na Maré, no Rio. Era mais ou menos R$ 1 milhão por dia”, disse Silva. Ele destacou que todo o efetivo das Forças Armadas na Amazônia, de 43 mil homens, está disponível para o combate ao fogo, conforme solicitação dos Estados e do governo federal. Ontem, já começaram ações de contenção em Porto Velho com dois C-130 Hércules. As aeronaves podem despejar até 12 mil litros de água em cada ação.
Já o ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, disse que “há um saldo no Fundo Amazônia de mais de R$ 1 bilhão que vem sendo utilizado, inclusive no combate a incêndios”. Ele não esclareceu se haveria destinação específica para o momento. Outras quatro Air Tractor, do ICMBio, foram deslocadas neste sábado de Formosa (GO) a Porto Velho.
Deter. Ainda sem a quantidade de homens que serão enviados, a portaria da Justiça que será publicada amanhã diz que o trabalho da Força Nacional será feito em apoio ao Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama). Mas a tropa já enviou 30 bombeiros de Brasília para Porto Velho (RO) neste sábado.
Os agentes foram deslocados para os locais de alerta do sistema Deter (Desmatamento em Tempo Real), do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe). O monitoramento do desmate por meio do sistema Deter, do Inpe, é alvo de questionamentos do presidente Jair Bolsonaro, que chegou a dizer que o órgão divulgava dados mentirosos, diante da sucessiva publicação de números dando conta de aumento no desmatamento. A crise resultou na exoneração do presidente do instituto, Ricardo Galvão.
Governadores. Os governadores de Acre, Amapá, Amazonas, Maranhão, Mato Grosso, Pará, Rondônia, Roraima e Tocantins, em carta conjunta, pediram ontem ao presidente Jair Bolsonaro “imediatas providências” para viabilizar a cooperação das estruturas dos Estados da Amazônia Legal e do governo federal no combate a focos de incêndio na floresta.
O texto enfatiza a necessidade de uma reunião em caráter de urgência – Bolsonaro já acenou com visita à área – e diz que as medidas necessárias passam por “apoio material para o enfrentamento efetivo ao desmatamento” e incremento das ações de fiscalização. “A proporção das queimadas, a velocidade de alastramento do fogo, a dificuldade de acesso às áreas atingidas, bem como a insuficiência de meios – financeiros, humanos e materiais – para combater o fogo, potencializam o tamanho da destruição e a gravidade do problema.”
Outro consórcio de governadores que divulgou ontem uma carta conjunta foi o que reúne Sul e Sudeste. Dizem os chefes do Executivo que “auxiliarão, se necessário, com estrutura, tecnologia e recursos humanos para contribuir no controle de queimadas”. Na chegada à reunião, o governador de São Paulo, João Doria (PSDB), afirmou que o Brasil “tem de recuar e ter humildade para reconhecer alguns erros”. / COLABORARAM ISADORA DUARTE e VINICIUS RANGEL, ESPECIAL PARA O ESTADO