Título: Munição extra para Haddad
Autor: Lyra, Paulo de Tarso
Fonte: Correio Braziliense, 05/10/2012, Política, p. 5

Oposição acusa o governo federal de tentar beneficiar a campanha petista em São Paulo ao antecipar a validade da lei de cotas nas universidades e sancionar o novo programa de distribuição de renda

Adois dias das eleições municipais, duas ações do governo federal poderão incrementar o discurso do candidato do PT à prefeitura de São Paulo, Fernando Haddad. O ministro da Educação, Aloizio Mercadante, determinou às universidades federais que a nova lei de cotas deve valer para o primeiro vestibular de 2013. Já a presidente Dilma Rousseff publicou ontem no Diário Oficial o Brasil Carinhoso, programa que assegura um mínimo de R$ 70 mensais por pessoa de famílias com crianças de até 6 anos em situação de extrema pobreza.

As duas bandeiras chegam na hora apropriada para que o PT tenha um discurso ainda mais contundente na periferia paulistana — zonas Leste e Sul — onde está concentrado 63% do eleitorado paulistano. Os tucanos criticaram as medidas do governo federal. "É como o Serra tem dito: eles não se cansam de usar a máquina em proveito próprio. Seja anunciando medidas novas ou nomeando ministros", protestou o coordenador de Mobilização da campanha do PSDB, deputado federal Walter Feldman (PSDB-SP), referindo-se à indicação de Marta Suplicy para o Ministério da Cultura. A nomeação seria uma forma de convencer Marta a apoiar Haddad.

Feldman não acredita, contudo, que essa estratégia possa ser bem recebida pelos eleitores. "A população claramente percebe que são ações eleitoreiras. Por que deixar para anunciar essas medidas às vésperas do primeiro turno?", questiona, para completar em seguida: "É uma tentativa, desesperada, de contrapor-se ao ritmo de condenações dos mensaleiros no Supremo Tribunal Federal (STF)".

Para o deputado Paulo Teixeira (PT-SP), as acusações de uso eleitoreiro dos programas federais não passam de desespero da campanha do tucano José Serra diante da possibilidade de ficar fora da disputa. "Haddad vai para o segundo turno pelos seus próprios méritos. A oposição não pode achar que a presidente Dilma tem de abrir mão de governar. São medidas meramente administrativas", defendeu ele.

O fato é que a queda acentuada do candidato do PRB, Celso Russomanno nas duas últimas semanas acirrou a disputa de petistas e tucanos pelo eleitorado ainda indeciso. Antes garantido com folgas na disputa de segundo turno, Russomanno começa a ver sua presença na próxima etapa da eleição ameaçada.

Massacre Aliados do candidato do PRB atribuem a queda ao "massacre" contra ele nas últimas semanas, quando se tornou alvo preferencial de tucanos e petistas. Mas ainda apostam numa reversão do cenário, lembrando que, sem o horário eleitoral gratuito, o impacto dos ataques tende a diminuir. Além disso, Russomanno intensificou a campanha de rua e, segundo seus marqueteiros, ele "é muito forte no corpo a corpo com o eleitorado".

Integrantes dos staffs das campanhas de Serra e Haddad, no entanto, mapearam o ritmo de queda do eleitorado antes disposto a votar em Russomanno e veem um quadro bastante complicado para o rival. "As perdas dele (Russomanno) estão sendo diluídas pelos três candidatos. Chalita (Gabriel Chalita, do PMDB) tem sido o principal beneficiado, mas Haddad e Serra também têm herdado esses eleitores", declarou ao Correio o coordenador da campanha do PT e presidente do diretório municipal, Antonio Donato.

Para Donato, Haddad tem "beliscado" o eleitorado que estava com Russomanno na periferia. Já Serra e Chalita estariam tendo mais êxito na região central da capital e nas áreas nobres. Essa mapeamento seria importante, segundo o petista, para traçar uma estratégia de segundo turno.

Já o coordenador da campanha de Serra, deputado estadual Edson Aparecido, percebe o tucano forte no chamado centro estendido — que vai até as margens da periferia dominada pelo PT. Aparecido não acha impossível a eleição de Serra, mesmo com uma rejeição de 45% medida pelos institutos de pesquisa. "Ele está há três meses apanhando de cinco dos sete adversários. No segundo turno, são apenas dois candidatos e o debate de ideias vai superar os ataques gratuitos", disse Aparecido ao Correio.

"É como o Serra tem dito: eles não se cansam de usar a máquina em proveito próprio" Walter Feldman, Deputado federal e coordenador de Mobilização da campanha de Serra

Militares recebidos a tiros no Rio As tropas do Exército convocadas para trabalhar na segurança das eleições foram recebidas a tiros por supostos traficantes em duas comunidades da Zona Oeste do Rio de Janeiro, na manhã de ontem, segundo a 1ª Divisão do Exército, nas favelas Antares, em Santa Cruz, e Minha Deusa, em Sulacap. Não houve feridos e nenhum criminoso foi preso. Soldados encontraram, um saco plástico com seis munições de fuzil, no provável local dos disparos. Ao todo, 3.545 militares foram convocados para monitorar o trabalho dos fiscais do Tribunal Regional Eleitoral e garantir a realização das atividades eleitorais em favelas cariocas.