Título: Amigo do bicheiro reabre CPI
Autor: Valadares, João
Fonte: Correio Braziliense, 05/10/2012, Política, p. 7

Depois do intervalo das eleições, trabalho da comissão será retomado com depoimento de deputado tucano Após a paralisação dos trabalhos devido às eleições municipais, os integrantes da CPI do Cachoeira vão ouvir, na próxima terça-feira, o deputado Carlos Alberto Leréia (PSDB-GO), flagrado pela Polícia Federal em mais de 100 ligações telefônicas com o bicheiro Carlos Augusto Ramos, o Carlinhos Cachoeira. O parlamentar que, inicialmente, declarou que queria falar para explicar detalhadamente a amizade com o contraventor, deveria ter prestado depoimento em 5 de setembro. No entanto, não apareceu. Apenas encaminhou uma carta à comissão alegando que estava resolvendo "problemas pessoais inadiáveis".

Mesmo com vários indícios de participação no esquema, o político vai falar à CPI na condição de convidado. Inicialmente, iria como investigado, mas os integrantes do colegiado, depois de muita discussão, mudaram o texto de convocação. Por isso, a temperatura política durante a oitiva deve ser elevada. A situação de Leréia começou a ficar mais complicada em abril, após uma série de denúncias sobre a relação do deputado tucano com o esquema milionário comandado por Cachoeira.

Nas conversas telefônicas interceptadas pela Monte Carlo, o parlamentar faz referências a cheques e ao uso de um cartão de crédito do contraventor para pagar a compra de jogos infantis para computador. Em outras gravações, Leréia avisa ao amigo das investigações feitas contra o esquema de jogos ilegais. Cachoeira, então, pede ao deputado, que tem influência no governo de Goiás, que o ajude a afastar policiais e delegados da Polícia Civil do estado. A PF apontou que há indícios do envolvimento comercial de Leréia com o bicheiro, como a sociedade na compra de um avião. Em depoimento reservado aos integrantes da comissão de sindicância, o tucano confirmou todos os casos, mas justificou que a troca de policiais havia sido feita somente por motivos de segurança.

O PSol pediu que a Corregedoria da Câmara abrisse uma investigação contra o parlamentar. Leréia recusava-se a dar entrevistas sobre as revelações. Integrantes do PSDB chegaram a ter certeza da expulsão dele do partido. Pressionado, no dia 3 de maio, ele subiu à tribuna do plenário para dizer que queria ser convocado ou convidado à CPI "imediatamente". Sobreviveu.

Amizade e negócios Durante a análise do caso, a comissão de sindicância da Corregedoria teve acesso aos documentos da CPI nos quais o deputado era citado e ouviu gravações interceptadas pela Polícia Federal. "Constatamos que, ao contrário do que ele disse inicialmente, a relação dele com Cachoeira ia muito além da amizade, eles tratavam de negócios", comentou, na época, o relator do caso, deputado Jerônimo Goergen (PP-RS).

As investigações da CPI, que deveriam ser concluídas até 4 de novembro, podem ter o prazo de conclusão prorrogado. A decisão de suspender os trabalhos foi tomada após um acordo entre líderes governistas e oposicionistas, com um único objetivo: evitar que as informações colhidas tragam prejuízos eleitorais aos candidatos dos mais diversos partidos políticos. Oficialmente, o presidente da comissão, senador Vital do Rêgo (PMDB), e o relator, deputado Odair Cunha (PT-MG), alegaram, além da falta de quórum, a contaminação das sessões pelo clima eleitoral que se instalou no Congresso Nacional.

"Constatamos que, ao contrário do que ele disse inicialmente, a relação dele com Cachoeira ia muito além da amizade, eles tratavam de negócios" Jerônimo Goergen (PP-RS), deputado federal

Brasil Carinhoso Foi publicada ontem no Diário Oficial a sanção da presidente Dilma Rousseff à medida provisória do Brasil Carinhoso, que visa a retirar da extrema pobreza crianças de até 6 anos. Além de elevar a renda mínima das famílias para R$ 70 por pessoa, programa pretende melhorar o acesso à educação e à saúde. Os benefícios começaram a ser implementados em junho, quando a medida provisória foi editada, e já atende a 2,2 milhões de famílias. Segundo dados do Ministério do Desenvolvimento Social, o Brasil Carinhoso já conseguiu reduzir em 40% o número de pessoas que vivem na pobreza extrema.