Título: Esplanada movida a geradores
Autor: Ribas, Sílvio ; Pompeu, Ana
Fonte: Correio Braziliense, 05/10/2012, Economia, p. 10

Para não interromper o julgamento do mensalão, Supremo recorreu a três máquinas, que garantiram o abastecimento. No Planejamento, servidores ficaram presos no elevador

O apagão que atingiu 70% do Distrito Federal obrigou os prédios da Esplanada dos Ministérios a recorrerem a geradores. Nem mesmo a responsável por cuidar do sistema energético brasileiro, a pasta de Minas e Energia, escapou. Depois de ficar 40 minutos no escuro, o ministro Edison Lobão pediu socorro para continuar as reuniões nas quais buscava explicações para a onda de blecautes que está atormentando o país. No Ministério do Trabalho, porém, sem o reforço de geradores, muitos funcionários tiveram que descer pelas escadas, porque os elevadores estavam desligados.

No Mistério do Planejamento, cinco pessoas ficaram presas por quase 10 minutos em um dos oito elevadores do prédio, gerando um princípio de tumulto. Na Agricultura, os transtornos se prolongaram por quase toda a tarde, mesmo com o sistema alternativo de energia ligado. Os geradores também foram acionados do Palácio do Planalto e no Banco Central. A falta de energia na cidade não impediu, porém, que o julgamento do mensalão fosse realizado normalmente no plenário do Supremo Tribunal Federal (STF). Os ministros sequer cogitaram adiar a sessão de ontem. De acordo com a assessoria de imprensa do STF, os três geradores do órgão foram automaticamente acionados a partir de 12h20. A Corte dispõe de um gerador específico para o plenário, que mantém as luzes do local acesas e o sistema de ar condicionado, funcionando. Na posse do ministro Dias Toffoli, em 2009, quando essa interligação do gerador ao ar condicionado ainda não existia, as persianas do plenário chegaram a ser suspensas para ventilar o local e as portas, abertas. Ontem, os ministros chegaram a cogitar repetir o procedimento de três anos atrás, mas não foi necessário, uma vez que o gerador funcionou normalmente durante as seis horas de falta de energia.

Segundo o STF, a única providência prática adotada foi a colocação de aparelhos portáteis de ar condicionado em duas salas, onde estão instalados equipamentos da TV Justiça para a transmissão da sessão. A medida foi necessária porque os equipamentos precisam ser preservados em temperatura baixa.

Já no Tribunal de Justiça do Distrito Federal e Territórios (TJDFT), o expediente foi suspenso e todas as audiências, adiadas. Só funcionaram os fóruns das poucas cidades que não tiveram o fornecimento de energia interrompido. Segundo servidores, em alguns locais, a energia chegou a voltar no meio da tarde, mas a rede do sistema do tribunal permaneceu fora do ar e não foi possível dar continuidade aos processos.

Queixas No setor produtivo, as perdas foram grandes. O Sindicato da Indústria da Construção Civil do Distrito Federal (Sinduscon) estimou que a falta de energia causou prejuízos de quase R$ 3 milhões para o setor. Os cálculos estão baseados nos gastos com mão de obra. "Os trabalhadores ficaram mais de três horas parados. As obras de prédios dependem de elevadores e guindastes, que dependem de energia", explicou o presidente da entidade, Júlio Cesar Peres. "Não há dúvidas que a perda de produção foi muito grande para o setor", enfatizou.

Na cafeteria Franz Café, no Sudoeste, cerca de 70% das vendas foram perdidas. "Isso é uma cafeteria. As pessoas vêm aqui para beber café. Sem as máquinas funcionando para preparar o que os clientes querem, nosso movimento foi quase zero", contou a coordenadora Débora Simplício. A Padaria Pães e Vinhos, do Lago Norte, calculou perdas superiores a R$ 5 mil, devido à ausência de energia. A gerente Karina Rodrigues Ribeiro disse que a produção parou, pois os fornos são todos elétricos. "Deixamos de colocar para assar, aproximadamente, 360 pães de sal, além de pães de queijo e salgados", afirmou. "Os transtornos foram grandes para nós e para a clientela", assinalou.

Para os donos de restaurantes, o governo precisa melhorar urgentemente a prestação de serviços na área de energia, pois os prejuízos têm sido constantes. Segundo Luiz Fernando Rodrigues, gerente do Jubileu, na Asa Norte, a Companhia Energética de Brasília (CEB) tem de se responsabilizar por todas as perdas.