Título: Mais que coincidências
Autor: Ribas, Sílvio ; Pompeu, Ana
Fonte: Correio Braziliense, 05/10/2012, Economia, p. 10

O ministro de Minas e Energia, Edison Lobão, lamentou "os transtornos que afetaram, ontem, uma parcela da população de Brasília, inclusive o ministério". Ele afirmou que está tomando todas as providências, mas deixou claro que não há como impedir tais situações no futuro. "Não podemos garantir que não vai acontecer mais", disse. "Evitar falhas é impossível", complementou Hermes Chipp, diretor-geral do Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS), órgão responsável pela coordenação e pelo controle da geração e da transmissão de energia elétrica no Sistema Interligado Nacional.

Após a reunião extraordinária do Comitê de Monitoramento do Setor Elétrico (CMSE), convocada para examinar "perturbações dos últimos dias", Lobão avisou que ainda vai entregar relatório detalhado à presidente Dilma Rousseff. Para isso, será criado grupo de trabalho de prevenção de acidentes, com participação de técnicos de Furnas, da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) e de todas as empresas do sistema elétrico. As autoridades insistiram que as repetidas quedas de energia não podem ser definidas como "apagão" e que a manutenção dos equipamentos de Furnas estavam em dia.

"Foi um desligamento seletivo. Quando há excesso de carga, um esquema automático desvia o excedente, de forma que ramais de hospitais, indústrias e linhas de metrô são preservados", explicou Flávio Decat, presidente de Furnas. Lobão assegurou que, apesar de parecer semelhante para os leigos, os cortes de energia no Distrito Federal nada tem a ver com os outros dos últimos dias. Ele desconversou sobre possível falta de fiscalização. "Está havendo (fiscalização), sim, por parte do ministério", afirmou, acrescentando que esquemas especiais darão mais segurança em datas como festas de fim de ano, eleições e Copa.

Fragilidades Para analistas ouvidos pelo Correio, o mais recente blecaute, que aconteceu no Nordeste e no Norte, na noite de 22 de setembro, expôs, no momento em que o país antecipa a renovação de concessões no setor, a fragilidade do sistema elétrico. Na avaliação deles, não houve apenas "coincidências", como alegou Lobão e Chipp.

O grande apagão do mês passado, lembram os especialistas, também partiu de uma pane de transformador, da subestação de outra estatal federal, a Eletronorte, em Imperatriz (MA). O curto-circuito provocou o corte programado de quase um terço do fornecimento de energia dos estados do Nordeste, além do Tocantins e do Pará. Luiz Pinguelli Rosa, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), alertou que o ocorrido na última quarta-feira também não pode ser visto como contratempo normal e que, por isso, deve ser avaliado. "A exemplo do recente apagão no Norte e no Nordeste, existem indícios claros de que as redes de distribuição apresentam problemas estruturais", disse.

O diretor do Centro Brasileiro de Infraestrutura (CBIE), Adriano Pires, afirma que os apagões estão ocorrendo com frequência desde o ano passado e demonstram que há falha séria no sistema nacional de transmissão e de distribuição de eletricidade. Para ele, o governo priorizou a geração de energia nos últimos oito anos e deixou em segundo plano a qualidade dos serviços de distribuição. "Não há problema de oferta. Mas, para o consumidor, o que importa é se a luz chega até a casa dele", disse. Segundo ele, os problemas que têm ocorrido no caminho entre a geração de energia e o consumidor mostram a necessidade de mais investimentos. "Os equipamentos são antigos e precisam ser trocados", acrescentou. (Colaborou Sílvio Ribas)