Título: Kit gay no centro da polêmica
Autor: Seffrin, Felipe
Fonte: Correio Braziliense, 17/10/2012, Política, p. 3

Em nova rodada de troca de acusações entre os candidatos à prefeitura de São Paulo, Serra reprova a gestão de Haddad no Ministério da Educação e petista diz que o tucano "está estimulando a intolerância"

As discussões em torno do kit gay produzido pelo governo federal entre 2008 e 2009 sob o comando do então ministro da Educação, Fernando Haddad (PT), mantêm o tom agressivo da campanha eleitoral paulistana. Ontem, o candidato petista e José Serra (PSDB) voltaram a trocar acusações. “Quem tem que explicar (o kit gay) é o Haddad, que torrou dinheiro. O problema é que Fernando Haddad é fraco como administrador”, acusou Serra, em entrevista à rádio CBN. Já Haddad condenou o candidato tucano de reforçar o discurso homofóbico. “Indiretamente, ele está estimulando a intolerância. Deveríamos elevar o nível do debate para que não haja violência e ele faz exatamente o contrário”, disse o ex-ministro.

Em caminhada na Lapa, Fernando Haddad rebateu as acusações de José Serra, mas preferiu não avaliar o kit gay distribuído pela gestão tucana em São Paulo em 2009. “O que o Serra fez e faz não se deve fazer na política: produzir efeitos deletérios para a democracia a partir da desinformação”, avaliou. “Mas desde janeiro fui alertado de que ele faria isso, porque fez em 2010 (contra Dilma Rousseff na disputa presidencial). Não posso reclamar. Eu sabia que ele faria esse tipo de jogo”, disse Haddad.

O debate em torno da cartilha educativa levou José Serra a bater boca com jornalistas duas vezes ontem. Confrontado sobre o kit gay paulistano — cartilha que tem orientações para o combate à homofobia nas escolas distribuída na época em que era governador, em 2009 — e uma possível conveniência eleitoral dos tucanos devido ao apoio do pastor Silas Malafaia, Serra disparou contra o jornalista Kennedy Alencar. “Você não leu a cartilha inteira. O que você está falando é mentira. Eu sei que você tem suas preferências políticas, mas modere, você está na CBN, não pode fazer campanha eleitoral!” Mais tarde, novamente questionado sobre o tema, Serra sugeriu que uma jornalista do Grupo Folha fosse “trabalhar com Haddad”.

O mensalão também voltou à tona na troca de acusações entre os dois candidatos à prefeitura de São Paulo. Mais uma vez, Serra comparou Haddad ao ex-ministro da Casa Civil José Dirceu. “Fernando Haddad só faz ataques pessoais. Quando eu faço crítica a políticas e a propostas de governo, ele diz que são ataques pessoais. É o estilo do Zé Dirceu. Quando você aponta um problema, ele diz que é ataque pessoal”, afirmou Serra. Haddad rebateu: “Tenho 12 anos de vida pública e todos os meus colaboradores diretos têm reputação ilibada. Não é o caso do Serra, que tem problemas de toda ordem, na Secretaria do Meio Ambiente, com o seu vice (Alexandre Schneider, do PSD)”, apontou o petista.

Durante comício na Zona Oeste de São Paulo, Haddad — que no domingo chegou a prometer cessar os ataques ao adversário para se ater à discussão de propostas para a cidade — disse aos eleitores que Serra pretende promover uma “privatização dos leitos” do Sistema Único de Saúde (SUS)”. “Nós não queremos que o Serra venda 25% dos leitos do SUS para as redes privadas. O Serra tem a privatização nas veias.”

"Baixo nível"

Em audiência no Senado ontem, o ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, entrou no clima da disputa paulistana e disse que Serra faz política de “baixo nível” em São Paulo. “Seria bom que o candidato Serra percebesse que a população de São Paulo não aceita mais a injúria como forma de ação política”, afirmou Cardozo, acrescentando que, enquanto Fernando Haddad faz propostas para a cidade, o tucano apenas dispara “acusações pessoais de baixo nível”.

Paulinho desautorizado Na contramão do deputado federal Paulinho da Força, candidato derrotado do PDT na disputa pela prefeitura de São Paulo, com 0,63% dos votos, que anunciou apoio a Serra no segundo turno, a Direção Nacional do partido declarou ontem que está ao lado de Haddad. Em nota, o PDT diz “apoiar a candidatura do professor Fernando Haddad por ele representar, na cidade de São Paulo, os compromissos com as conquistas sociais e com a escola de horário integral, que são as principais bandeiras do trabalhismo”.