Título: Jornalistas sob ameaça na AL
Autor: Cavalcanti, Leonardo
Fonte: Correio Braziliense, 17/10/2012, Política, p. 6

No último dia da assembleia anual da SIP, foram divulgados dados preocupantes sobre pressões contra repórteres e jornais

Os integrantes da Sociedade Interamericana de Imprensa (SIP) encerraram ontem a 68ª assembleia da entidade reforçando a preocupação com ameaças sofridas pela imprensa. O último debate dos cinco dias de evento tratou da batalha contra a violência, que tem afetado repórteres e veículos de comunicação no continente. O cenário traçado pelos participantes não foi um dos mais otimistas ao longo do evento, por mais que medidas possam ter sido tomadas por associações de jornalistas ou mesmo governos. Na tarde de ontem, também foi anunciado o novo presidente da SIP. O equatoriano Jaime Mantilla, do Grupo Hoy, sediado em Quito, substitui Milton Coleman, editor-chefe do Washington Post e um dos principais críticos das ameaças sofridas por jornalistas no último anos.

Coleman disse que os Estados Unidos foram os principais financiadores da liberdade de imprensa, mas que, agora, chegou a vez de a América Latina também carregar essa responsabilidade. O mandato na SIP é de 12 meses.

Mantilla fez o primeiro pronunciamento como presidente da SIP durante um almoço que reuniu jornalistas e dirigentes de jornais, ontem, em São Paulo, onde foi realizada a assembleia da entidade. De Quito, por meio de videoconferência, o equatoriano disse que assume a presidência “em um momento perigoso para a liberdade de imprensa nas Américas”. Ele afirmou que a sua estratégia será reestruturar as comissões da SIP para tornar a entidade mais ágil e eficiente. Mantilla também prometeu dar continuidade ao projeto de envolver a Sociedade Interamericana de Imprensa nas redes sociais.

O Equador é um dos países considerados, atualmente, mais frágeis em relação à liberdade de imprensa, segundo os representantes da entidade, junto com Argentina e Venezuela.

Em um dos painéis da SIP, realizado na tarde de segunda-feira, o diretor da ONG Human Rights Watch para o Continente Americano, José Miguel Vivanco, criticou diretamente as declarações do presidente daquele país, Rafael Correa, que disse ser a imprensa do Equador o principal opositor do governo dele. Representantes das Nações Unidas (ONU) também criticaram Correa em junho deste ano, depois que o presidente supostamente proibiu ministros de dar entrevistas a determinados jornais e veículos de comunicação equatorianos.

Pesquisa dos riscos Na segunda-feira, Vivanco chegou a questionar o ex-presidente do Brasil Fernando Henrique Cardoso sobre as declarações de Correa, o que provocou críticas do tucano em relação ao governo brasileiro. Segundo FHC, a postura não é muito diferente da de outros países latinos na orientação contra a imprensa. Pesquisa da própria SIP com dirigentes de jornais, entretanto, não relaciona o país como um dos que mais ameaçam a atividade da imprensa (leia quadro). Os maiores riscos estão na Venezuela (82%) e na Argentina (62%). A pesquisa foi feita nos últimos três meses e, assim, verificou diretamente a relação do governo Dilma Rousseff com a imprensa que, segundo participantes da assembleia, é diferente da que mantinha o antecessor Luiz Inácio Lula da Silva.

A percepção de ataques contra a imprensa varia de país para país. Enquanto no Brasil tais ameaças vêm de medidas judiciais contra reportagens, no restante da América do Sul as preocupações estão relacionadas às ações de censura patrocinadas pelos governos centrais. Já no México, os ataques vêm, principalmente, de organizações criminosas, segundo o levantamento.

“Assumo a presidência em um momento perigoso para a liberdade de imprensa nas Américas” Jaime Mantilla, novo presidente da SIP