Valor econômico, v.19, n.4687, 11/02/2019. Política, p. A8

 

Com filiações. Podemos se torna a segunda maior bancada no Senado 

Vandson Lima 

Fabio Murakawa 

11/02/2019

 

 

De partido nanico até um ano e meio atrás, quando tinha apenas Alvaro Dias (PR) como seu representante do Senado, o Podemos se tornou em 2019 uma das principais forças da Casa. Entrou o ano com cinco integrantes, já chegou a oito e deve confirmar mais duas filiações nos próximos dias, formando a segunda maior bancada, com dez senadores. Os planos da sigla para o futuro próximo são ainda mais ambiciosos: destronar ainda nesta legislatura o MDB, hoje com 13 cadeiras, como maior partido no Senado.

Distante de seu homônimo espanhol, que é um partido de esquerda, o Podemos brasileiro inspira-se, diz Dias, no "En Marche!", do presidente francês Emmanuel Macron: liberal na economia, aberto nos costumes e entusiasta de mecanismos de participação direta. "Tem dado certo. O que a gente discute com quem entra é liberdade total. A diretriz é seguir a consulta às redes sociais na maioria dos temas. Se houver dificuldade com algum tema, libera", diz o senador, que foi candidato a presidente nas eleições de 2018. Terminou em nono lugar, com 0,8% dos votos.

O Podemos agrega posições antagônicas. Na Câmara, por exemplo, o partido vai de Pastor Feliciano (SP) a João Carlos Bacelar (BA) - o primeiro é um dos maiores entusiastas do projeto Escola sem Partido e o segundo, um ferrenho opositor. "Na economia tem unidade, o direcionamento é liberal. Nos costumes, temos de pastor evangélico a grupos LGBT. A ideia é essa mesmo", aponta Alvaro.

A consulta popular, contudo, não servirá para guiar o Podemos em todos os temas. "Reforma da Previdência, por exemplo, é mais complicado por causa das corporações. Servidor público passa o dia no computador. Eles são organizados e isso distorce o resultado em relação à opinião geral", avalia.

Alvaro não confirma, mas o Valor apurou que dois nomes estão muito próximos de se filiar ao Podemos nos próximos dias: Antônio Reguffe (sem partido-DF) e Flávio Arns (Rede-PR). No caso deste último, ele deve esperar a distribuição das comissões do Senado para que a Rede, que havia eleito cinco senadores e já perdeu dois, não fique prejudicada.

A Rede deve ficar com a Comissão de Meio Ambiente. Com a migração de Arns, todos os senadores do Paraná estarão filiados ao Podemos: além dele e de Dias, há ainda o senador recém-eleito Oriovisto Guimarães.

Lasier Martins (RS), que deixou o PSD e se filiou ao partido esta semana, é o segundo vice-presidente do Senado, terceiro na hierarquia da Casa. A sigla também estará à frente da Comissão de Assuntos Sociais (CAS), com Romário (RJ).

Além do tamanho, Alvaro atribui a posição de destaque do partido no Senado à sua atuação na eleição para a presidência, da qual Davi Alcolumbre (DEM-AP) saiu vencedor. Ambos parte do grupo contrário ao retorno de Renan Calheiros (MDB-AL) ao comando do Legislativo, Alvaro e Alcolumbre dividiam um mesmo eleitorado na disputa interna. A manutenção das duas candidaturas poderia levar à vitória de Renan, o que fez o senador do Podemos desistir, diz. "Se eu tivesse concorrido, ia dividir voto com Alcolumbre. O cálculo era: como o presidente da sessão era o José Maranhão [MDB-PB, aliado de Renan], ele ia invocar o artigo 60 do regimento interno, que diz que a eleição se dá por maioria simples. E aí Renan, que tinha ali uns 23 votos garantidos, ganhava", lembra. Sem Dias, Major Olímpio (PSL-SP) e Simone Tebet (MDB-MS), que desistiram em favor de Alcolumbre, o senador do DEM fez 42 votos e se elegeu.

Para a atuação no Senado, o Podemos fechou acordo para formar um bloco com o PSDB. O PSL, partido do presidente Jair Bolsonaro, pode ser agregado, mas Dias rechaça que isso signifique apoio ao governo. "É apenas para ter um bloco grande para atuar nas comissões", justifica.

Na Câmara, o Podemos ainda é um partido diminuto. Elegeu 11 deputados e a incorporação do PHS deve trazer mais três nomes.