O Estado de São Paulo, n. 45952, 10/08/2019. Economia, p. B8

 

Cresce o temor de novo PIB negativo

Daniela Amorim

10/08/2019

 

 

Resultado ruim dos serviços faz analistas reverem projeções para o 2º trimestre

A atividade no setor de serviços recuou 0,6% no 2.º trimestre do ano, o que elevou o temor de uma possível recessão técnica no País, provocada por duas quedas consecutivas no PIB. No 1.º trimestre, o PIB já havia recuado 0,2%.

Apesar do alívio e da esperança de que a aprovação da reforma da Previdência na Câmara comece a abrir caminho para a retomada da atividade econômica, os dados continuam a mostrar que o desafio será realmente grande. Ontem, o IBGE divulgou que o setor de serviços fechou o mês de junho com queda de 1% em relação a maio.

No acumulado do segundo trimestre, houve queda de 0,6% em relação ao primeiro trimestre. O número veio na sequência de dados também fracos da indústria e do comércio, o que aumentou o temor de que uma “recessão técnica”, ou seja, dois trimestres seguidos de queda no produto interno bruto (PIB). No primeiro trimestre, o PIB já havia recuado 0,2%.

Para o economista-chefe do Banco Fator, José Francisco de Lima Gonçalves, o PIB não escapa de uma queda na passagem do primeiro para o segundo trimestre. “A economia está prostrada. Quem não acha que (o PIB) vai cair acha que vai zerar, Não dá para comemorar isso”, resumiu Gonçalves.

Nos cálculos do economistachefe da corretora Necton Investimentos, André Perfeito, a atividade econômica deve ter encolhido 0,2% no segundo trimestre. O economista-chefe da Garde Asset, Daniel Weeks, está um pouco mais otimista, à espera de um resultado ainda ligeiramente positivo, graças a alguns números melhores de geração de emprego e da produção de automóveis.

“Mas, de qualquer modo, não deve ser um dado animador e reforça que a retomada vai ser de fato muito gradual, condizente com um PIB de 0,8% em 2019”, disse Weeks, que ainda revisará suas estimativas para a atividade econômica.

O economista Alexandre Lohmann, da consultoria GO Associados, também está revisando suas estimativas para a economia no segundo trimestre – devem ser ajustadas de um crescimento anteriormente previsto de 0,2% para uma estagnação (0%) ou ligeira alta de 0,1%. A Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC) já cortou sua projeção para o crescimento do PIB em relação ao primeiro trimestre, embora ainda permaneça positivo: a alta prevista passou de 0,3% para 0,2%.

“O consumo das famílias deve puxar (o PIB para o terreno positivo). Houve alta de 1,2% nos serviços prestados às famílias em relação ao primeiro trimestre. Isso deve ajudar o PIB do segundo trimestre em relação ao primeiro”, disse Fabio Bentes, economista da CNC.

Os serviços prestados às famílias cresceram 4,8% no primeiro semestre do ano em relação ao mesmo período de 2018. Foi o desempenho mais robusto entre as cinco atividades pesquisadas dentro do setor de serviços. “Pode ter relação com algum tipo de renda extra que possa estar sendo auferida pela população”, disse Rodrigo Lobo, gerente da Pesquisa Mensal de Serviços no IBGE, explicando que as famílias gastaram mais com hotéis e alimentação fora de casa.

O pesquisador pondera, porém, que o avanço no semestre foi puxado pelo segmento de hospedagem, que pode ter sido impulsionado por uma forte queda de preços registrada nos últimos anos. O segmento de alimentação fora do domicílio tem mostrado melhora apenas nos últimos dois meses.

FGTS. Na média global, os serviços cresceram apenas 0,6% no primeiro semestre. Os serviços de informação e comunicação (2,6%) tiveram o maior impacto positivo. As perdas ocorreram nos transportes, serviços auxiliares aos transportes e correio (-2,7%) e serviços profissionais, administrativos e complementares (-0,3).

Para Fabio Bentes, o segundo semestre será melhor para o setor de serviços, que também deve se beneficiar da liberação de saques do FGTS e PIS/Pasep.

“Para a segunda metade do ano, a expectativa é de melhores resultados da atividade do setor, que deve se beneficiar da melhora da confiança dos empresários e consumidores acompanhando a melhoria do ambiente de negócios, além do estímulo pontual à demanda via liberação dos saques das contas do FGTS”, disseram os analistas Lucas Souza e Thiago Xavier, da Tendências Consultoria Integrada.

________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

Dólar fecha em alta pela 4ª semana seguida

Altamiro Silva Junior

Paula Dias

10/08/2019

 

 

As tensões provocadas pela disputa comercial entre os Estados Unidos e a China fizeram o dólar acumular uma alta de 1,26% nos últimos cinco dias no mercado brasileiro. Esta foi a quarta semana consecutiva de valorização da moeda americana, que subiu 4,09% no período. Só neste mês, o dólar já acumula alta de 3,2%, subindo em cinco dos sete pregões. Na sessão de ontem, a moeda americana terminou cotada em R$ 3,9405, com valorização de 0,33%.

O movimento tem sido puxado pela intensificação da disputa entre EUA e China, que tem feito investidores fugirem de ativos de risco, vendendo moedas de emergentes, e buscarem proteção no dólar. “A tensão comercial deve prosseguir e provocar ondas de volatilidade nos mercados de moedas nas próximas semanas”, disse o estrategista de moedas em Nova York do banco BBVA, Alejandro Cuadrado. Para ele, é difícil neste momento o dólar voltar a patamares vistos em julho, quando recuou ao nível de R$ 3,70.

Mas, apesar do cenário externo mais desafiador, o executivo do BBVA avalia que há razões para ficar otimista com o real, principalmente na comparação com outras moedas de emergentes. Entre as razões, ele menciona a expectativa de mais cortes de juros nos EUA e avanços da agenda econômica com a aprovação da Previdência.

Bolsa. Após três altas seguidas, o Ibovespa, principal índice da B3, a Bolsa paulista, fechou ontem em leve baixa de 0,11%, aos 103.996 pontos. Apesar da forte turbulência dos últimos dias, o índice encerrou a semana com alta acumulada de 1,29%, na contramão das perdas dos índices americanos.