Correio braziliense, n. 20483, 20/06/2019. Política, p. 2

 

Bolsonaro: Moro é patrimônio nacional

Jorge Vasconcellos

Bernardo Bittar

20/06/2019

 

 

Poder » Presidente diz não ter visto nada de anormal nos supostos diálogos entre o então juiz e procuradores da Lava-Jato e ressalta que, se depender dele, o ministro seguirá no governo. Senadores veem fortalecimento do ex-magistrado

O presidente Jair Bolsonaro saiu em defesa do ministro da Justiça, Sérgio Moro, enquanto o ex-juiz da Operação Lava-Jato prestava depoimento no Senado sobre mensagens atribuídas a ele pelo site The Intercept, que o acusa de ter aconselhado procuradores quando comandava a 13ª Vara Federal de Curitiba. O chefe do Planalto disse que Moro é “um patrimônio nacional” e que, se depender dele, o ministro continua no governo.

Em audiência na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) do Senado, Moro se defendeu das acusações de que teria feito conluio com procuradores da Lava-Jato, afirmou não ter apego ao cargo e disse que deixará a pasta se forem encontradas irregularidades cometidas por ele.

Para senadores, Moro saiu fortalecido da sessão, em que a discussão acabou voltando-se principalmente para quem é a favor ou contra a Lava-Jato. Integrantes do PT e do PDT foram os únicos a atacar, de fato, o ministro, que deixou a Casa “muito maior do que entrou”, como disse o senador Chico Rodrigues (DEM-RR). O ex-juiz foi elogiado por parlamentares que permaneceram no plenário 3 até o fim da audiência.

Cada parlamentar inscrito na sessão teve cinco minutos para questionar o ministro, com mais dois de tréplica. Moro dispunha de três minutos para responder às dúvidas dos congressistas. Ele foi chamado de ídolo pelo novato Jorge Kajuru (PSB-GO) e quase levou às lágrimas o senador Luis Carlos Heinze (PP-RS), que disparou: “Viemos aqui apenas para lhe aplaudir”.

Renan Calheiros (MDB-AL), que andava discreto entre seus pares, tentou pressionar Moro. Quis saber se o então juiz havia homologado delações antes da lei de 2013 que a regulamentou. O ministro disse que sim, com base em outras leis que previam a colaboração. Logo depois, o senador, que responde a 13 inquéritos no Supremo Tribunal Federal (STF), deixou o plenário.

Embate

Causou mal-estar, porém, o diálogo ríspido entre o líder do PT na Casa, Paulo Rocha (PA), e Moro. O parlamentar fez questão de lembrar que o juiz foi responsável pelo julgamento de um processo contra ele, que acabou absolvido. Rocha também comparou as conversas de Moro e Deltan Dallagnol com a divulgação, autorizada pelo então juiz, dos diálogos entre os ex-presidentes Luiz Inácio Lula da Silva e Dilma Rousseff, em 2016.

“É absolutamente diferente utilizar hackers criminosos e pedir uma escuta com amparo judicial”, respondeu Moro. Ele também declarou “nunca ter tido satisfação pessoal em condenar quem quer que seja”, numa clara referência a Lula.

“Trama”

De Guaratinguetá (SP), onde participou de solenidade de formatura de sargentos na Escola de Especialistas da Aeronáutica, Bolsonaro foi categórico na defesa do ministro. “Eu também não tenho apego ao meu cargo. Qualquer ministro é livre para tomar as decisões que bem entender. Sérgio Moro é um patrimônio nacional, não é do presidente da República”, afirmou. Ao ser questionado se há possibilidade de o ministro sair, respondeu: “Se depender de mim, não”. “Sérgio Moro é dono de si, não vi nada de anormal até agora”, declarou.

Bolsonaro acusou, sem citar nomes, o jornalista do The Intercept Glenn Greenwald e o marido dele, o deputado David Miranda (PSol-RJ), de armarem uma “trama” para atingi-lo. Ele citou o episódio em que o parlamentar foi detido por espionagem em Londres, em 2013, no auge das reportagens de Greenwald sobre documentos dos Estados Unidos vazados pelo ex-agente de inteligência norte-americano Edward Snowden. “Aquele casal lá, um deles foi detido há pouco tempo na Inglaterra por espionagem, um outro aqui tem suspeita de vender o mandato, e a outra menina, namorada do outro, está fora do Brasil”, disse o presidente. “Atacam quem está do meu lado para tentar me atingir. Vão quebrar a cara. Podem procurar outro alvo, esse já era. Sérgio Moro é nosso patrimônio.”

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Lava-Jato diz que desativou contas

20/06/2019

 

 

A força-tarefa da Operação Lava-Jato do Paraná informou, ontem, que os procuradores da República desativaram suas contas do aplicativo Telegram em abril. Em nota, a Lava Jato relatou que, desde então, “vários de seus integrantes vêm constatando ataques a seus aplicativos”.

A manifestação foi divulgada após o ministro da Justiça, Sérgio Moro, comparecer à Comissão de Constituição e Justiça do Senado para falar sobre supostas mensagens do Telegram — nas quais o ministro e procuradores da Lava-Jato teriam ajustado passos da operação. As conversas foram divulgadas pelo site The Intercept e são relativas à época em que o atual ministro era juiz federal em Curitiba.

Ainda, conforme divulgado em 14 de maio, a PGR determinou a instauração de um procedimento administrativo para acompanhar a apuração de tentativas de ataques cibernéticos a membros do Ministério Público Federal.

Na nota, a força-tarefa narrou que “desde abril, vários de seus integrantes vêm constatando ataques criminosos às suas contas no aplicativo Telegram, inclusive com sequestro de identidade virtual”. “Tendo em vista a continuidade, nos dias subsequentes das invasões criminosas, e o risco à segurança pessoal e de comprometimento de investigações em curso, os procuradores descontinuaram o uso e desativaram as contas do aplicativo Telegram nos celulares, com a exclusão do histórico de mensagens tanto no celular como na nuvem”, registrou a Lava-Jato.

“Houve reativação de contas para evitar sequestros de identidade virtual, o que não resgata o histórico de conversas excluídas. Também, imediatamente após as constatações, e antes que houvesse notícia pública sobre a investida hacker, a força-tarefa comunicou os ataques à PGR e à Polícia Federal em Curitiba, que, uma vez que não prejudicaria as linhas investigatórias em curso, orientou a troca dos aparelhos e dos números de contato funcionais dos procuradores.”