Título: Universidade mais perto de alunos pobres
Autor: Castro, Grasielle
Fonte: Correio Braziliense, 17/10/2012, Brasil, p. 9
Censo do ensino superior mostra aumento no percentual de estudantes de baixa renda e de negros matriculados em faculdades públicas e particulares. Porém, acesso ainda é considerado insatisfatório pelo ministério
Os negros, pardos e estudantes com renda mais baixa estão, aos poucos, conquistando espaço nas universidades. Dados do Censo da Educação Superior 2011, divulgados ontem pelo Ministério da Educação (MEC), mostram, que, entre 1997 e 2011, o percentual de negros de 18 a 24 anos que frequentam ou já concluíram o ensino superior saltou de 4% para 19,8%. Já a quantidade de universitários de menor poder aquisitivo pulou de 0,5% para 4,2% (veja quadro). A tendência de crescimento é válida para a população em geral. O levantamento mostrou que as matrículas aumentaram 5,7% de 2010 para o ano passado, chegando a 6,7 milhões — 2,3 milhões de calouros. O maior avanço foi registrado nas universidades públicas, com uma elevação de 7,9% de matriculados. Entretanto, os números ainda são considerados baixos tanto pelo ministério quanto por especialistas.
Segundo o ministro da Educação, Aloizio Mercadante, o problema da educação superior brasileira é histórico. Ele lembra que a primeira universidade do Brasil é do século passado, além do fato de uma grande parcela da população não ter tido acesso à educação por um longo período por causa da desigualdade. “Os 20% mais pobres não fizeram universidade porque não tinham como fazer”, argumenta.
Para Mercadante, os responsáveis pela atual expansão no ensino superior são as políticas indutivas como o Programa Universidade para Todos (Prouni), o Financiamento Estudantil (Fies) e o Programa de Apoio a Planos de Reestruturação e Expansão das Universidades Federais (Reuni). A aposta mais recente da pasta é a lei de cotas sociais e raciais. “A política de inclusão para renda baixa e a escola pública vai ajudar a melhorar esse indicador ao longo da próxima década. Esse é um esforço que o Brasil precisa fazer. A política mais sustentável de distribuição de renda é a educação e uma educação inclusiva.”
Ex-consultor da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura e professor da Faculdade de Educação da Universidade de Brasília (UnB), Célio Cunha reconhece que os dados sinalizam para a democratização do ensino. “Temos uma dívida histórica com a população mais pobre, pelo menos no plano quantitativo, mas não podemos esquecer da qualidade desse ensino”. Cunha ressalta, porém, que o número de brasileiros graduados ainda é baixo comparado a países vizinhos e destaca a importância de uma análise em relação a quantidade de alunos que concluem a etapa escolar. O MEC não divulgou os números de evasão escolar.
Oportunidade A maranhense Fernanda Neves representa bem o perfil dos calouros que engrossam as estatísticas do ensino superior brasileiro. No 2º de semestre de odontologia em uma instituição particular do Distrito Federal, a garota de 22 anos será a primeira da família a romper a barreira do ensino médio. “Meu pai é microempresário e minha mãe atendente de uma loja. Eles não têm curso superior. Estão muito orgulhosos”, conta Fernanda. Para custear a mensalidade de R$ 1,7 mil, tentou uma bolsa do Prouni, mas não foi selecionada. O pai, então, passou a ajudá-la. Outro exemplo é o estudante Bruno Vieira Duarte. Ele faz parte dos alunos que procuraram cursos tecnológicos, grupo que cresceu 11,3% de 2010 para 2011. No caso de Bruno, pesou menos a vocação e mais a oportunidade. “Queria fazer artes cênicas, mas vou pagar para trabalhar? Então escolhi sistemas de informação, para ingressar logo no mercado”, diz o estudante de 19 anos.
A expectativa é que as matrículas continuem a crescer. Na avaliação do ministro, se o ritmo de crescimento for mantido, o país alcançará em 2020 a meta do Plano Nacional da Educação (PNE) de ter 33% dos jovens com idade entre 18 e 24 anos no ensino superior — hoje o percentual é de 14,6%.
Colaborou Renata Mariz
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Em busca do diploma Confira o percentual de pessoas, entre 18 e 24 anos, que frequentam ou já concluíram o ensino superior (1997-2011):
1997 2004 2011 Região Brasil 7,1 12,1 17,6 Norte 3,6 6,3 11,9 Nordeste 3,4 6,4 11,9 Sudeste 9,3 15,4 20,1 Sul 9,1 17,3 22,1 Centro-Oeste 7,3 14,0 23,9
Renda domiciliar per capita 20% de menor renda 0,5 0,6 4,2 20% de maior renda 22,9 41,6 47,1
Gênero Feminino 7,9 13,9 20,5 Masculino 6,2 10,3 14,6
Cor Brancos 11,4 18,7 25,6 Negros 1,8 5,0 8,8 Pardos 2,2 5,6 11,0
Turmas menores A Comissão de Educação, Cultura e Esporte do Senado Federal aprovou ontem, em decisão terminativa, um projeto de lei (PLS 504/2011), de autoria do senador Humberto Costa (PT-PE), que estabelece um limite máximo de 25 alunos por turma na pré-escola e nos dois anos iniciais do ensino fundamental. Para os períodos seguintes, segundo o projeto aprovado, o limite passa a ser de 35 alunos. De acordo com o senador Roberto Requião (PMDB-PR), o objetivo da matéria é buscar melhores condições de aprendizagem para as crianças brasileiras. O projeto segue para a Câmara dos Deputados.
Câmara aprova PNE O Plano Nacional de Educação (PNE), principal documento de metas para o setor, teve a tramitação concluída ontem na Câmara dos Deputados. A Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) aprovou a proposta com a meta de investimento de 10% do Produto Interno Bruto (PIB) em educação, a ser atingida em 10 anos. Atualmente, União, estados e municípios investem juntos, por ano, cerca de 5% do PIB no setor. O projeto do governo previa a aplicação de 7% do PIB. Agora, a proposta será analisada pelo no Senado.