O globo, n.31387, 14/07/2019. País, p. 07

 

Bolsonaro recebe youtubers que propagam fake news 

Gustavo Schmitt

Sérgio Roxo 

14/07/2019

 

 

No último dia 4, em meio uma série de reuniões com ministros e parlamentares, o presidente Jair Bolsonaro abriu espaço em sua agenda para receber no Palácio do Planalto um grupo de cinco youtubers. Os visitantes fizeram a divulgação do encontro nas redes sociais. Pelos mesmos canais em que espalharam as fotos e vídeos ao lado do presidente, esses comunicadores costumam também propagar mensagens falsas e defender, entre outras ideias, a intervenção militar no país. Autodenominados “youtubers de direita”, os visitantes de Bolsonaro aproveitaram a viagem para participar, em Brasília, da manifestação a favor do governo e da LavaJato, no último dia 30. O grupo diz que bancou a viagem por meio de um financiamento coletivo e que arrecadou R$ 54 mil, mas gastou R$ 33 mil.

BOATO FOI PARAR NA JUSTIÇA

O mais popular dos youtubers é Alberto Silva, responsável por diferentes canais na internet acusados de propagar notícias falsas. Sua página no YouTube, Giro de Notícias (GDN), tem mais de 800 mil inscritos. Em 2017, o cantor Gilberto Gil conseguiu uma liminar na Justiça do Rio para que um dos sites de Silva, o Pensa Brasil, retirasse do ar uma publicação. O site havia publicado que Gil se referiu ao hoje ministro Sergio Moro como “juizinho fajuto”, ao comentar as investigações contra o ex-presidente Lula. A frase nunca foi dita. No último dia 7, no Giro de Notícias, o youtuber publicou um vídeo com o título “Jean Wyllys pode ter a sua prisão decretada”. Na explicação de Silva, a prisão ocorreria por causa de uma suposta venda do mandato para o seu suplente na Câmara, o deputado David Miranda (PSOL-RJ). O youtuber se recusou a conversar com o GLOBO. Em 2017, em entrevista ao jornal “Folha de S. Paulo”, disse: “Quem tem de saber o que é verdade ou mentira é quem lê a matéria.” O corretor de imóveis Adilson Dini, outro membro dos “youtubers de direita”, criou o canal Ravox Brasil em julho passado. Em um vídeo, ele cita o artigo 142 da Constituição —que, numa interpretação evocada por movimentos de direita, permitiria que os militares destituíssem os Poderes. Procurado, Dini não quis dar entrevista.

—Se você pergunta, “Ravox, você quer o 142?”. Eu quero que nós tiremos os bandidos de lá. (...) O que não podemos é explicitar de forma muito óbvia porque a gente leva um cala boca — disse em vídeo, sugerindo que o canal seria tirado do ar. Os outros três vistantes de Bolsonaro também costumam publicar conteúdos inverídicos. Bruno Jansen já fez relação entre o atentado contra o presidente, durante a campanha eleitoral, e o vazamento de conversas dos integrantes da força-tarefa da Lava-Jato. Ele diz que Adélio Bispo, o autor das facadas, e Jeans Wyllys “provavelmente se conhecem”. Na mesma linha, Renato Barros e Fernando Lisboa disseminaram o conteúdo falso do perfil no Twitter “Pavão misterioso”, conta que criou narrativa conspiratória com acusações contra Wyllys, Miranda e o jornalista Glenn Greenwald, do site “The Intercept Brasil”. Indagado se o presidente, ao receber os youtubers, não estaria referendando suas práticas, o Planalto informou que não comentaria.