O globo, n.31387, 14/07/2019. Mundo p. 29

 

Eduardo Bolsonaro defende candidatura em vídeo 

Amanda Almeida 

14/07/2019

 

 

Em meio acríticas do próprio círculo bolso na ri sta, o deputado federal Eduardo Bolson aro( PS L- SP) publicou um vídeo, no YouTube, no qual defende o seu nome para o cargo de embaixador do Brasil nos Estados Unidos. Nele, o deputado rejeita críticas de que iria abandonar o mandato. Ele afirma ter “gabarito” para a função eque, se for nomeado, “honrará” os votos que recebeu, trabalhando pela aproximação entre os dois países. Com quase sete minutos — e edição que incluiu imagens do presidente americano, Donald Trump, o elogiando durante a viagem dopai a Washington —o vídeo foi feito em defesa às críticas que ele e Jair Bolsonaro vêm sofrendo depois que a possibilidade de indicação para o cargo foi anunciada pelo presidente na quinta-feira. —Essa possibilidade existe não pelo fato de eu ser um mero filho do presidente Jair Bolsonaro. Sou formado em direito pela UFRJ, advogado concursado, passei na prova da OAB, escrivão da Polícia Federal, uma pós-graduação em economia. Falo inglês, português e espanhol. Tenho uma vivência no mundo. Já tive oportunidade de viajar por boa parte dele. Ejá fiz vária sidas ao Estados Unidos —lista o deputado.

A falta de experiência para o cargo é um dos argumentos usados pelos críticos da indicação.

Em representação protocolada no Ministério Público Federal, o PSOL, por exemplo, lista todas as qualificações de embaixadores, dizendo que o filho do presidente não tem um currículo compatível. O partido ressalta que o último ocupante do posto, Sérgio Amaral, serviu em Paris, Bonn, Genebra e Washington. — Se somar isso tudo, viagens internacionais que fiz com o presidente Bolsonaro, como presidente da Comissão de Relações Exteriores da Câmara,tenho um certo gabarito e é isso que emedá respaldo— defendeu-se Eduardo, acrescentando quen ã ovai abandonar o mandato, que“não trabalha pela reeleição, mas pelo país” e que não decepcionará seus eleitores: —Não estou indo para lá para passear, como outros políticos fizeram, que abandonaram seus mandatos sem dar satisfação e passaram a viver no exterior. Numa série de posts do Twitter na noite de sexta-feira, a deputada estadual Janaina Paschoal (PSL-SP) defendeu que Eduardo, seu companheiro de partido, recuse o convite. “Muito se está a falar sobre eventual nepotismo, sobre capacidade. (...) Mas eu analiso a questão sob outro ângulo. O que pensam os quase dois milhões de eleitores do deputado?”, escreveu. “Isso precisa ser respeitado.

Crescer, muitas vezes, implica dizer não ao pai.” A possibilidade também foi mal recebida por Olavo de Carvalho, ideólogo da direita. Em vídeo, ele disse que o filho do presidente tem uma “missão histórica” no Congresso —liderar uma eventual CPI para investigar o Foro de São Paulo. Olavo comentou que o deputado é responsável por lançar essa frente de atuação, que “arrisca ser o acontecimento mais importante da nossa história parlamentar”. Por isso, diz, não pode abandonar o Congresso e ocupar um cargo de embaixador, no qual, completa, não poderia “nem falar sobre o assunto”. — Seria um retrocesso. Seria a destruição da carreira (de Eduardo) —afirmou.

ACESSO À CÚPULA

Em defesa do deputado saíram o próprio pai e o assessor especial para Assuntos Internacionais da Presidência, Filipe Martins. O presidente também publicou ontem, em rede social, vídeo em que Trump elogia seu filho e perguntou: —De 2003 para cá, você sabe quem foram nossos embaixadores em Washington? Nesse período como foram nossas relações com os Estados Unidos? —questionou. Já Martins, próximo a Eduardo, argumentou ontem no Twitter que “o embaixador em Washington deve compreender o momento político dos dois países ”, eque“ter acesso à cúpulados dois governos”é essencial.

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Indicação é 'balão de ensaio', dizem fontes do Planalto 

Jussara Soares 

14/07/2019

 

 

Integrantes do Palácio do Planalto avaliam que o presidente Jair Bolsonaro soltou um “balão de ensaio” ao dizer, em entrevista coletiva, que cogitava indicar o deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), seu filho, para a embaixada do Brasil nos EUA. Par aos auxiliares, Bolson aro divulgou a informação par atestara receptividade da ideia de ter o “03”, como chama o terceiro dos seus herdeiros, em um dos postos mais importantes da diplomacia nacional.

Após a repercussão, Bolso narot enta medira extensão de um possível desgaste político e também uma eventual contestação da indicação na Justiça. O resultado desta análise pode fazê-lo recuar da sua intenção. Para seus auxiliares técnicos, neste momento a desistência da ideia “parece mais provável”, embora admitam que ele “sempre pode surpreender”. Eduardo visitou o pai ontem no Palácio da Alvorada e saiu sem dar declarações. Na manhã de sexta, o presidente se reuniu por 20 minutos com os ministros Jorge Oliveira, chefe da Secretaria-Geral da Presidência, e André Luiz de Almeida, da Advocacia-Geral da União (AGU). Os dois são considerados os principais conselheiros jurídicos de Bolsonaro.

A assessoria da Secretaria-Geral negou que o tema da reunião tenha sido a indicação de Eduardo. Segundo duas fontes do Planalto, Bolso na rotemo costume de antecipar anúncios para avaliar como suas iniciativas serão interpretada se, só depois de medira temperatura, passa aos debates para verificar a viabilidade das propostas.

A hipótese de indicar Eduardo para embaixador em Washington, relata um assessor, era comentada há meses, mas não havia nenhum indicativo de que Bolsonaro concretizaria a ideia. Ao confirmar à imprensa que cogitava a indicação, o presidente surpreendeu até mesmo seus auxiliares mais próximos. O ministro Luiz Eduardo Ramos, da Secretaria de Governo (Segov), admitiu na sexta-feira em café com jornalistas, que o presidente poderia ter esperado ao meno suma semana para anunciara possível indicação do filho para evitara repercussão em meio à votação da reforma da Previdência na Câmara. Ramos, porém, justificou que, neste momento, o presidente manifestou apenas a intenção de indicar o filho e citou como exemplo de outras declarações que não se concretizaram, como a ideia de transferira embaixada em Israel de Tel Aviv para Jerusalém.

A indicação do deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-SP) para a embaixada nos EUA era defendida pela ala ideológica nos bastidores desde a transição do governo, no fim do ano passado. A hipótese, no entanto, começou a ganhar força durante a viagem de Bolso na roa Washington em março, quando se reuniu com o presidente Donald Trump. Eduardo surgiu como uma alternativa defendida pelo grupo ligado ao ideólogo de direita Olavo de Carvalho. A primeira opção seria indicar o próprio Olavo, que teria pedido para retirar o nome da “bolsa de apostas”. Mas após o deputado ser elogiado por Trump, Bolsonaro se convenceu de que nomear o próprio filho, mirando nas boas relações com os EUA, poderia ser uma boa ideia.

O cargo de embaixador nos EUA está vago desde abril. Promovido em junho ao topo da carreira, o diplomata Nestor Forster passou a ser o mais cotado para o posto. Amigo de longa data de Olavo de Carvalho, ele apresentou o ministro de Relações Exteriores, Ernesto Araújo, ao ideólogo. Segundo fonte do governo brasileiro, o diplomata é bem visto no entorno do presidente e segue com força na disputa “de igual para a igual” pela vaga.