Título: Processo de paz deve recomeçar amanhã
Autor: Pedreira, Vinícius
Fonte: Correio Braziliense, 17/10/2012, Mundo, p. 17

Apesar dos atrasos para o início das negociações de paz entre as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc) e o governo colombiano, está confirmado para a manhã de hoje o primeiro encontro das delegações em Oslo. No entanto, de acordo com um comunicado assinado pelo presidente Juan Manuel Santos e por integrantes da guerrilha, a agenda só será concluída amanhã, com a instalação pública da mesa de diálogo. A previsão para hoje é de que ocorra uma reunião preparativa, em que serão abordados temas logísticos. Os negociadores de Santos partiram na tarde de ontem para Oslo.

A incerteza de realização das conversas acentuou-se com a reivindicação para que o governo da Colômbia solicitasse à Organização Internacional de Polícia Criminal (Interpol) a suspensão do alerta vermelho — um mecanismo para identificar ou localizar pessoas em qualquer parte do mundo. Dessa forma, os integrantes da guerrilha poderiam partir para Oslo sem riscos de serem presos. Outra questão delicada foi o pedido dos rebeldes para a inclusão da rebelde Tanja Nijmeijer, de cidadania holandesa, nas conversações. Tanja participa do grupo desde 2000 e já foi acusada do sequestro, em 2003, de três americanos empregados por uma empresa de segurança.

Mesmo com o impasse, as autoridades colombianas confirmaram “o direito” da rebelde de fazer parte da delegação das Farc e da suspensão do “alerta vermelho”, de acordo com um comunicado enviado à agência de notícias France-Presse. Com isso, a dúvida e a preocupação sobre a continuação da quarta tentativa de acordo, depois de mais de 50 anos de conflito armado, foram superadas. “Essas dificuldades iniciais são o que podemos chamar de primeira fase para negociação, marcada pelas definições sobre quem vai participar”, explica ao Correio Gilberto Rodrigues, professor de relações internacionais da Faculdade Santa Marcelina (SP).

Para o estudioso, as expectativas de algum acordo são boas na atual conjuntura colombiana. “O governo Santos amadureceu a ideia da negociação, com base em várias derrotas impostas à guerrilha. O momento, para os guerrilheiros, é muito oportuno, porque estão enfraquecidos, desmobilizados e o cenário nacional já não é mais favorável aos seus objetivos”, comentou. Rodrigues ressalva, no entanto, que decisões para as questões mais delicadas devem ser tomadas com muita cautela, por envolverem outros países. Os cinco pontos pré-discutidos — participação política do grupo; reforma agrária; narcotráfico; fim do conflito armado; e a busca por justiça pelas famílias das vítimas — revelam dificuldades comuns a qualquer processo de paz. “Ninguém quer conferir anistia e provocar impunidade”, completa Rodrigues.

A visão é compartilhada por Cristina Rojas, professora da Carleton University (em Ottawa, Canadá). Segundo ela, o que ocorrerá em Oslo será apenas o início de um diálogo e um passo para o acordo de paz. “Realmente, existe uma situação de otimismo em relação às Farc. É um importante passo, mas é interessante lembrar que outros grupos paramilitares na Colômbia ainda causam prejuízos”, ressalva ao Correio.