O globo, n.31386, 13/07/2019. Economia, p. 21

 

A volta dos estrangeiros na bolsa, reforma é atrativo para investidor de fora 

Ana Paula Ribeiro 

João Sorima Neto 

13/07/2019

 

 

O avanço do processo de votação da reformada Previdência no Congresso pode ajudar a trazer de volta ao mercado acionário brasileiro um personagem há tempos distante: o investidor estrangeiro. Todo o movimento recente de valorização do Ibovespa, o principal índice do mercado de ações do país, foi sustentado exclusivamente por locais. Na quarta-feira, o índice bateu um novo recorde, aos 105.817 pontos, ainda que recuasse a 103.905 ontem. Apesar do bom desempenho dos últimos meses, o estrangeiro se manteve fora. No acumulado do ano, R$ 5,2 bilhões já saíram das aplicações em ações detidas pelos investidores externos. Esse quadro deve mudar

com o avanço da Previdência e da agenda de medidas econômicas que deputados e senadores devem analisar a partir de agosto, depois do recesso parlamentar. Nem mesmo o adiamento, para agosto, da votação do segundo turno da reforma na Câmara tira o otimismo dos investidores.

DESTRAVAMENTO

Para a equipe do banco Brasil Plural, os parlamentares estão demonstrando compromisso coma aprovação de uma reforma robusta. “Mesmo que a conclusão da reforma na Câmara seja adiada em duas semanas, é pouco provável que esse compromisso se altere .” O relatório foi divulgado pela manhã, antes da confirmação do adiamento. —É claro que as decisões de investimento não são imediatas, mas, coma aprovação total( da Previdência) na Câmara e o cronograma de aprovação no Senado, em outubro, já será possível ver os investimentos voltando em seis meses. Esse movimento não é só por causa da Previdência, mas pelo seu destrave e pela expectativa de outras medidas, como tributária e de incentivo do governo, que melhoram todo o panorama — avalia Alexandre Pierantoni, sóciodiretor da consultoria global Duff & Phelps no Brasil. Acautela adotada pelos estrangeiros é justificada, segundo especialistas.

—A memória do estra ng eiroé demais longo prazo. Tivemo soque aconteceu no governo Michel Temer, em 2016, quando a reforma parou. Isso gerou cautela por parte dos estrangeiros. Eles estão esperando uma aprovação concreta da reforma e de quanto será a desidratação de fato — explica JersonZanlorenzi, responsávelpelames ade renda variável do banco BTG Pactual.

O BTG considera que a

economia fiscal da reforma da Previdência, ao final do processo, será de ao menos R$ 800 bilhões em dez anos. Com isso, o Ibovespa pode chegar aos 120 mil pontos em seis meses, mesmo que com uma menor participação do estrangeiro. Atualmente, eles representam cerca de 20% da movimentação da Bolsa, abaixo da média histórica, em torno de 30%. O que também deixa também o estrangeiro sem pressa de entrar no Brasil é que a Bolsa ainda está barata. Em dólar, o Ibovespa está em torno de 28 mil pontos, bem longe do recorde de 42 mil, registrado em 2008.

— Para o investidor estrangeiro,

ainda está barato. Mesmo que suba um pouco mais, ainda irá compensar para ele. Então ele pode esperar —diz Zanlorenzi. As reformas institucionais também devem contribuir para a retomada da oferta de ações, inclusive as aberturas de capital. Para Piero Minardi, presidente da Associação Brasileira de Private Equity (Abvcap), a aprovação da reforma é uma sinalização importante, mas, para a concretização de negócios — fundos comprando participações em empresas locais —, é preciso haver novos avanços:

— As decisões dos private equities são mais lentas. A reforma faz com que se comece a olhar os negócios, mas é preciso haver outras coisas, como a reforma tributária e a mudança na tributação de fundos. Apesar do clima interno positivo, Maurício Oreng, economista do Rabobank para o Brasil, aponta fatores externos que reforçam a cautela estrangeira.

— A reforma e a redução dos juros nos Estados Unidos (espera-se um corte este mês) ajudam, mas há uma guerra comercial sem solução e uma desaceleração da economia global. Esses dois fatores reduzem o apetite de risco por parte do investidor estrangeiro —explica Oreng.