O globo, n.31386, 13/07/2019. Economia, p. 22

 

BNDES quer iniciar venda da carteira de ações em setembro 

Martha Beck 

13/07/2019

 

 

Nova direção. Gustavo Montezano assume a presidência do banco na próxima semana, após a saída de Joaquim Levy
Onovo presidente do BNDES, Gustavo Montezano, trabalha na elaboração de um programa de desinvestimento a ser anunciado a partir de setembro. A ideia é montar um cronograma para a venda das participações do banco em outras empresas. Esses ativos, alocados na BNDESPar, o braço de investimentos em ações, somam R$ 110 bilhões. Os papéis serão vendidos de acordo com um plano que será divulgado até o fim do ano. A carteira inclui ações em empresas de setores como energia elétrica, siderurgia, saneamento, petróleo e imobiliário. A interlocutores, o novo comandante da instituição — que toma posse oficialmente na semana que vem — tem dito que é mau negócio para um banco de fomento de um país em desenvolvimento ter recursos parados

em ativos especulativos. Para ele, o BNDES precisa ter como foco o direcionamento de dinheiro para projetos que melhorem a qualidade de vida da população. Isso passa pela aplicação de recursos, por exemplo, na modelagem de projetos que ajudem estados e municípios a privatizar empresas estatais dentro de um esforço de equilíbrio fiscal. Deixar o cronograma para setembro faz parte de uma estratégia para aproveitar o otimismo gerado pela aprovação da reforma da Previdência na Câmara dos Deputados. E como julho e agosto são época de férias no Hemisfério Norte, a janela de oportunidade viria no mês seguinte. O plano de Montezano é se desfazer dos ativos com cautela, de modo que não haja prejuízo para o banco.

COMPRA DE IMÓVEIS

No fim do processo, a BNDESPar terá como missão gerirumacarteirareduzida.Ela poderá atuar como intermediária, comprando imóveis de clientes do BNDES e depois repassando ao mercado. Desta forma, o banco poderia ajudar um estado ou município que busca equacionar as próprias contas, comprando um imóvel do governo local e posteriormente revendendo. Montezano também tem afirmado à equipe do banco que o BNDES precisa aproveitar sua experiência para se tornar um banco de serviços. É aí que entrará a modelagem de projetos para investimento, como foco em áreas como saneamento, infraestrutura e iluminação pública. O BNDES também passará a ter um plano trianual estruturado com metas. Esses objetivos ainda serão definidos, mas devem incluir um número de projetos de modelagem de privatização, de estados atendidos e de ampliação da oferta de serviços como água e esgoto.

O novo presidente estabelecerá cinco metas para sua gestão: acelerar a venda de ativos, fixar o plano trianual, melhorar a relação com os clientes, além de devolver recursos ao Tesouro Nacional — serão R$ 126 bilhões este ano — e continuar o processo de abrir a chamada caixa-preta do BNDES, à qual o presidente Jair Bolsonaro faz referência recorrentemente. Montezano assumiu o comando do BNDES depois da saída de Joaquim Levy, que pediu demissão do cargo após Bolsonaro declarar publicamente que estava insatisfeito com a atuação do economista. Uma das queixas do presidente era a suposta leniência de Levy em divulgar o que ele classifica de caixa-preta do BNDES.

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Banco cria diretorias dedicadas a atender União, estados e municípios 

Rennan Setti 

13/07/2019

 

 

O novo presidente do BNDES, Gustavo Montezano, remodelou a estrutura de comando do banco, criando novas diretorias, um adelas baseada em Brasília. Entre os novos diretores estará Adalberto Vasconcelos, que foi recentemente exonerado do cargo de secretário do Programa de Parcerias de Investimentos( P PI ). Em apresentação a funcionários ontem, Montezano ressaltou que “o BNDES deve ser sustentável e não necessariamente

lucrativo” e se comprometeu a“explicara caixa-preta ”— termo usado pelo presidente JairBol sonar opara criticar oque eleava lia como falta de transparência do banco — em dois meses. O nome de Montezano já foi aprovado pelo Conselho de Administração do banco, e sua posse oficial está marcada para a próxima terça-feira em Brasília. Segundo o banco, a principal mudançaéa criação dedi retorias dedicadas a atender clientes públicos, como União, estados e municípios. Além disso, será criada uma diretoria de Relacionamento Institucional e Governo, baseada em Brasília “com um time dedicado a atenderes ses clientes e viabilizar soluções deimpact opositivo para a população”, esclareceu o banco, em comunicado. Adalberto Vasconcelos ocupará esse posto. A área de privatizações, uma das principais missões do BNDES sob o comando de Montezano, ficará com Leonardo Cabral. Formado pelo Instituto Militar de Engenharia como Montezano, Cabral é sócio da gestora Laplace Finanças, passou pelas áreas de fusões e aquisições do Credit Suisse e da Ambev e foi assessor da presidência da Petrobras para aquisições e desinvestimentos entre 2016 e 2017.

BANCO DE SERVIÇOS

OBND ES confirmou que o assessor especial do ministro Paulo Guedes, Fábio Abrahão, e o engenheiro Petrônio Cançado (considerado pupilo de Guedes) vão compor a diretoria, como O GLOBO havia antecipado. Abrahão responderá pela área de assessoria de infraestrutura, setor em que fez carreira, com passagem pelo instituto de logística Ilos e pela firma de investimento Infra Partners. Já Cançado cuidará da área de crédito e garantia. O engenheiro foi sócio na gestora BR Investimentos, de Guedes, entre 2008 e 2011, e passou por Unibanco, Pactual e pelas gestoras Vinci Partners e RB Capital.

“A estrutura organizacional segue anova estratégia de atuação doBND ES—em alinhamento como Ministério da Economia — como um banco de serviços para o Estado brasileiro, com concentração das atividades no apoio a projetos de relevante impacto social”, afirmou o banco, em nota. O banco terá uma diretoria dedicada à área de recursos humanos“ded ica daàadapt ação do sempre gadosàn ova estratégia corporativa”. Até então, o RH do BNDES ficava dentro da diretoria de Estratégia e Transformação Digital. A diretoria de operações será ocupada por Ricardo Barros, hoje diretor de programa da Secretaria Especial de Desestatizações, na qual atuava Montezano. A área de compliance (conformidade) ficará com Alexandre Marques, auditor do Tribunal de Contas da União (TCU). Ex-TCU, o engenheiro Saulo Puttini ocupará a diretoria jurídica.