O Estado de São Paulo, n. 45951, 09/08/2019. Política, p.A10,
Além de Itaipu, negociações tinham mais temas de interesse
Anne Warth
09/08/2019
Mensagens revelam que objetivos incluem obras de infraestrutura como pontes e linhas de transmissão
As negociações entre Brasil e Paraguai sobre a contratação da potência da usina de Itaipu tinham outros temas de interesse do país vizinho. Mensagens trocadas entre o presidente do Paraguai, Mario Abdo Benítez, e o ex-presidente da estatal Ande Pedro Ferreira, reveladas pela imprensa paraguaia, mostram que, para o governo, as relações entre os dois países vão além dos interesses da companhia e incluem, também, obras de infraestrutura, como pontes, linhas de transmissão. O aumento da cota de importação para turistas também estava em jogo, segundo apurou o Estadão/Broadcast.
Nas mensagens, Benítez diz que a relação entre os dois países não é “apenas” com a Ande e acrescenta que o único representante do Paraguai nas negociações era o então chanceler Luis Castiglioni, desautorizando Ferreira a se manifestar nas reuniões. O presidente também diz que o Paraguai está em negociação para a construção de duas linhas de transmissão. O financiamento dessas obras ainda não foi definido.
Uma das linhas ligaria Itaipu e Assunção. Seria a segunda ligação entre as regiões, já que, durante o governo do então presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o Brasil arcou com a construção de uma linha ligando a usina à capital paraguaia. O projeto custou US$ 550 milhões e foi financiado pelo Fundo para a Convergência Estrutural do Mercosul, com aporte do Brasil e contrapartida de 15% do Paraguai.
A segunda linha mencionada pelo presidente deve ligar a usina de Yacyretá, no sul do Paraguai e na divisa com a Argentina, até a capital paraguaia. Com essa infraestrutura, o Paraguai criaria condições de utilizar toda a energia produzida no país.
Como as receitas de Itaipu financiam diversas políticas públicas no Paraguai, e havia um valor em aberto a ser faturado – em razão do impasse na contratação de energia entre os dois países –, o presidente Benítez pediu a Ferreira, segundo as mensagens, que colaborasse com o acordo.
O Estadão/Broadcast apurou ainda que, após o acerto entre Brasil e Paraguai sobre a contratação da potência de Itaipu, o governo brasileiro pretendia elevar a cota de importação na fronteira entre os dois países dos atuais US$ 300 para US$ 500. O presidente Jair Bolsonaro teria concordado.
Uma das obras que já são financiadas pela usina é a nova ponte que vai ligar Foz do Iguaçu a Presidente Franco, sobre o Rio Paraná. Ontem, começaram as obras de terraplanagem da ponte, que terá tráfego de caminhões. A ponte e as obras para ligá-la à BR-277 terão custo de R$ 463 milhões e serão pagas com recursos da margem brasileira de Itaipu. O acordo para a obra foi fechado ainda pelo expresidente Michel Temer e inclui uma outra ponte, entre Porto Murtinho, no Mato Grosso do Sul, e Carmelo Peralta, no Paraguai.
A ata anulada pelo Paraguai relacionada à contratação da potência da usina de Itaipu previa que o país vizinho compraria, neste ano, 9,6% a mais do que no ano passado. Nos anos de 2020, 2021 e 2022, o aumento da contratação anual de potência seria de 12%.