O Estado de São Paulo, n. 45950, 08/08/2019. Metrópole, p. A18

 

Salles sai em defesa da gestão de Bolsonaro e critica Noruega

André Borges

08/08/2019

 

 

Ele destacou caça às baleias em país europeu e falou em distorção da questão ambiental; na Câmara, confrontou petista e saiu escoltado

Inpe. Ministro disse que diretor do órgão saiu por divulgar informações midiáticas alarmistas

O ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, defendeu ontem no Congresso Nacional as ações da gestão Jair Bolsonaro na área ambiental, o que levou a um bate-boca na Câmara e a críticas ao governo da Noruega no Senado. O governo europeu tem se mostrado contrário às mudanças propostas pelo governo no Fundo Amazônia, principal programa do País de combate ao desmatamento.

Em audiência no Senado, Salles destacou que a Noruega, que responde por 94% das doações de R$ 3,4 bilhões para o fundo, possui passivos ambientais. “A Noruega é o pais que explora petróleo no Ártico, eles caçam baleia. E colocam no Brasil essa carga toda, distorcendo a questão ambiental”, declarou o ministro ao comentar as negociações sobre mudanças na iniciativa, que estão paralisadas. O Estado não conseguiu contato ontem com a Embaixada da Noruega no Brasil.

A polêmica em torno do Fundo Amazônia começou em 17 de maio, quando o ministro anunciou uma análise que teria identificado “fragilidades na governança e implementação” dos projetos apoiados. Salles anunciou os resultados da análise na sede do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), em São Paulo. Segundo nota oficia, a análise foi feita amostra de 30% dos 103 contratos já firmados pelo fundo desde 2008.

Uma semana depois, Salles também sinalizou a intenção de mudar as regras do fundo, para permitir que os recursos pudessem ser usados para pagar indenizações a donos de propriedades privadas que vivam em áreas de unidades de conservação, como revelou o Estado.

Em contrapartida, Noruega e Alemanha afirmaram que estavam satisfeitas com a administração, feita pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), e com a seleção de projetos.

Os governo europeus ainda não se posicionaram oficialmente sobre o que será feito de suas doações atuais ou futuras.

O ministro ressaltou que sua proposta é criar um comitê executivo que passe a analisar e fiscalizar as ações do conselho consultivo do fundo. “Não estamos nos tornando, nem de longe, esse patinho feio que interesses comerciais e midiáticos têm dito”, afirmou Salles. Já representantes dos servidores do BNDES, do Ibama e do Instituto Chico Mendes (ICMBio), órgãos do Ministério do Meio Ambiente, prometem lançar hoje um abaixo-assinado pedindo ao ministro o restabelecimento dos comitês de governança do Fundo Amazônia.

Bate-boca. Mais cedo, Salles esteve em audiência na Câmara dos Deputados para tratar das questões ambientais. Houve bate-boca com parlamentares e o ministro deixou a audiência escoltado pela polícia legislativa.

O deputado federal Nilton Tatto (PT-SP) comparou Salles a um “bandeirante” e disse que ele era um ministro da Agricultura no ministério do Meio Ambiente e um “office-boy” de ações contra a preservação do meio ambiente. Salles reagiu, houve confusão com parlamentares da bancada do agronegócio e a sessão foi encerrada.

Durante a discussão, Salles atacou Tatto, dizendo que “grilagem” é o que acontece na área conhecida como “Tattolândia”, reduto eleitoral da família Tatto na zona sul de São Paulo, e defendeu a agricultura brasileira. “Não sou ministro da Agricultura, mas teria grande orgulho em defender uma atividade que gera emprego e renda neste País”, disse.

Inpe. No Senado, o ministro disse ainda que a exoneração de Ricardo Galvão do cargo de diretor do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), só publicada ontem, ocorreu porque o pesquisador teria divulgado informações midiáticas alarmistas. Segundo Salles, Galvão deixou o cargo porque “colocou lenha na fogueira”, em vez de ter agido com “bom senso”.

O governo tem declarado que os dados oficiais são equivocados, mas ainda não apresentou nada que aponte quais seriam, então, os dados corretos.

'Demonização’

“Não aceito que demonizem a atividade (agrícola). Quer saber de grilagem? Vá conhecer uma área lá no sul de São Paulo, a Tattolândia.”

Ricardo Salles

MINISTRO DO MEIO AMBIENTE