O globo, n.31385, 12/07/2019. País, p. 05

 

Identificação com siglas é desafio de novatos 

Marlen Couto 

Bruno Góes 

12/07/2019

 

 

A votação da reforma da Previdência na Câmara expôs a falta de identificação entre parlamentares eleitos com a proposta de renovar o Congresso e as estruturas partidárias, além de ter reforçado o debate sobre a necessidade de implantação de candidaturas independentes no país.

A avaliação é do fundador do movimento de formação de lideranças RenovaBR, Eduardo Mufarej. Dois nomes vinculados ao grupo compõem a lista de deputados insurgentes na votação

da reforma da Previdência: Tabata Amaral, do PDT de São Paulo, e Felipe Rigoni, do PSB do Espírito Santo.

— Hoje, grande parte desses candidatos de renovação, de boa renovação, se vê muito pouco identificada com os partidos, que estão obsoletos e envelhecidos. Os partidos ainda se comportam como instituições com donos — diz Mufarej, cujo movimento teve nove eleitos para a Câmara, além de um senador.

Na avaliação do fundador do RenovaBR, uma possível expulsão de Tabata traz mais perdas ao PDT. No caso da bancada pedetista, oito dos 27 parlamentares votaram a favor da proposta, contrariando a posição da legenda.

— A Tabata foi ao PDT e apresentou uma carta de independência que ela assinou junto ao partido. A legenda está insistindo numa rota equivocada. Agora, o partido perde. Ela é uma liderança com capacidade de mobilização, que numa política envelhecida fala com o jovem —diz Mufarej.

“AQUI NÃO É JUIZ MORO”

Já o presidente do PDT, Carlos Lupi, prometeu ontem divulgar nas redes sociais uma gravação em que os deputados da legenda decidem, “de forma unânime”, pelo fechamento de questão contra a reforma da Previdência. Lupi não garantiu que os dissidentes serão expulsos, mas disse que Tabata Amaral será uma protagonista do processo que será aberto na comissão de ética, graças à “presença muito forte” dela.

— E alguns começam a falar: “Desafio o PDT a me expulsar”. Por que alguns falam isso? Porque recentemente o Supremo Tribunal Federal fez um parecer dizendo que, ao partido que expulsa deputado, não há direito de pedir o mandato. Então, a expulsão passa a ser um salvo-conduto. Eu também não quero (esse enfrentamento), já estou machucado pela vida, cheio de calo, não vou jogar assim —disse Lupi.

O presidente da sigla afirmou que a discussão sobre o caso terá amplo direito de defesa e fez referência, de modo crítico, ao ministro da Justiça, Sergio Moro, ao afirmar que não manipularia o sistema de defesa e de acusação, como sugere que o ex-juiz federal possa ter feito. Moro nega ter agido de forma parcial na Lava-Jato.

—A decisão e a deliberação final é do Diretório Nacional. O que está acontecendo agora? Um processo com o amplo direito de defesa, porque aqui não é juiz Sergio Moro. A gente não manipula o sistema de defesa nem de acusação.