O globo, n.31385, 12/07/2019. País, p. 07

 

FH sai em defesa de Aécio e diz que expulsão seria oportunismo 

12/07/2019

 

 

Diante da pressão de correligionários do PSDB, o ex-presidente Fernando Henrique saiu ontem em defesa do deputado federal Aécio Neves (MG) e se manifestou contra a expulsão dele pelo partido antes que haja uma decisão judicial condenatória.

“O PSDB tem um estatuto e uma comissão de ética. Há que respeitá-los. Jogar filiados às feras, principalmente quem dele foi presidente, sem esperar decisão da Justiça, é oportunismo sem grandeza. Não redime erros cometidos nem devolve confiança”, escreveu FH em sua conta no Twitter.

O pedido de expulsão contra Aécio foi iniciativa do diretório do PSDB na capital paulista, que, por unanimidade, aprovou a representação na quinta-feira da semana passada. Os dirigentes paulistanos defenderam a expulsão como medida para “estancar a sangria” do partido. A solicitação terá de esperar a instalação do conselho de ética para ser analisada e ainda não há previsão para o colegiado entrar em funcionamento.

Em nota divulgada ontem após a repercussão da postagem de Fernando Henrique, o diretório municipal tucano em São Paulo divulgou nota reiterando o pedido pela expulsão de Aécio.

No texto, a representação paulistana do PSDB afirma que respeita a trajetória de Fernando Henrique e o considera “de suma importância para os quadros do partido e o país”, mas que não concorda com a posição dele ao defender a permanência do deputado federal.

Para o diretório, a trajetória do parlamentar “não condiz com o que FH tem de legado” e é “inadmissível” que “pessoas como Aécio Neves permaneçam nos quadros partidários”. A mensagem ressalta que a votação com o pedido de expulsão feito na quinta-feira passada foi motivada pela discordância dos integrantes do partido em São Paulo com “a postura e o histórico de Aécio, que conspurcam a imagem do partido”. O objetivo da expulsão, segundo a nota, é criar “um novo PSDB que trabalha com ética, respeito e compromisso com o país”.

Na última terça-feira, o governador de São Paulo, João Doria, disse que Aécio deveria sair espontaneamente do partido. Na esteira da declaração dele, o prefeito de São Paulo, Bruno Covas, foi ainda mais incisivo no dia seguinte, quando defendeu que o mineiro seja expulso. Em resposta ao diretório do PSDB de Belo Horizonte, que ameaçou pedir também a expulsão do prefeito, Covas afirmou que o partido deve escolher entre ele ou Aécio.

Aécio foi alvo de nove inquéritos abertos no Supremo Tribunal Federal após delações de executivos de Odebrecht e JBS, entre 2016 e 2017. Com as mudanças na regra do foro privilegiado, quatro processos foram redistribuídos para outras instâncias. Num deles, Aécio virou réu. Dois casos foram arquivados e todos os outros seis ainda são inquéritos. Sobre as acusações, o deputado tem negado qualquer irregularidade.