Valor econômico, v.19, n.4695, 21/02/2019. Política, p. A12

 

Senador de RR surge como suspeito de fraude em eleição

Vandson Lima 

Fabio Murakawa 

21/02/2019

 

 

A suspeita de que o senador de Roraima, Mecias de Jesus (PRB) pode ser o responsável pela tentativa de fraude na conturbada eleição à presidência do Senado, em 2 de fevereiro, provocou uma mobilização das forças da Casa.

Corregedor do Senado, Roberto Rocha (PSDB-MA) afirmou que ele e o presidente Davi Alcolumbre (DEM-AP) procurariam o senador o quanto antes para buscar esclarecimentos. A suspeita sobre Mecias surgiu após reportagem da revista "Crusoé", que apontou indícios de que ele teria inserido duas cédulas de votação na urna - ambas com votos para Renan Calheiros (MDB-AL).

Segundo Rocha, foi encaminhado ontem um pedido ao ministro da Justiça, Sergio Moro, para que a Polícia Federal contribua com as investigações. Rocha alega que, a partir da análise preliminar de vídeos da votação e de cerca de 11 mil fotos feitas do plenário naquele dia, as imagens deixam margem para dúvidas nos votos de seis a 10 senadores.

"O que ocorre é que a votação foi feita com uma cédula e esta era inserida em um envelope. Esse envelope tem uma dobra na frente e um brasão atrás", explica o corregedor.

A dúvida sobre Mecias ocorre porque, em uma das imagens captadas, o voto por ele depositado não parece conter envelope algum. No dia da votação, 80 votos foram depositados como esperado, com a cédula dentro do envelope. E alguém depositou duas cédulas, sendo uma encobrindo a outra. "No caso da maioria dos senadores, foi muito fácil periciar o voto, estão claras as imagens. Há entre 6 e 10 casos que não estão. Não me recordo se o senador Mecias está entre os dez que precisaremos periciar as imagens", disse Rocha.

Se comprovado que um senador tentou promover a fraude, segundo Rocha, o caso será enviado ao Conselho de Ética do Senado. "Aí o conselho decide. Se fosse um servidor, abriria-se um procedimento administrativo. Sendo um senador, o Conselho vai decidir: se achar que não houve dolo, que ocorreu algum engano, dá uma advertência. E se achar que houve má-fé, aí é pena de morte política, que é a cassação", apontou Roberto Rocha.

Se for cassado, Mecias, que venceu com apenas 426 votos de diferença Romero Jucá (MDB) na disputa pelo Senado em Roraima, não dará lugar no Salão Azul ao atual presidente do MDB, mas a um de seus suplentes, eleitos em sua chapa: Enfermeira Roberta ou Afonso Parente.

O Conselho de Ética do Senado ainda não foi instalado, o que só estava previsto para ocorrer após o Carnaval. O presidente Davi Alcolumbre convidou o correligionário Jayme Campos (DEM-MT) para a função.

Ao Valor, ele afirmou que a tendência é aceitar. "Um posto desse é, acima de tudo, uma missão, né? E missão não se recusa".

O PSL também requisita a vaga e indicou a senadora Juíza Selma Arruda (PSL-MT). Mas outros partidos, em especial da oposição, criticaram duramente a possibilidade, já que um tema que pode chegar ao Conselho de Ética são as movimentações financeiras do senador Flávio Bolsonaro (PSL-RJ) que estão na mira do Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf).