O Estado de São Paulo, n. 45979, 06/09/2019. Política, p. A9

 

Exonerado, Queiroz agiu pelo gabinete de Flávio

Caio Sartori

06/09/2019

 

 

Diálogos captados pela Promotoria do Rio indicam que ex-assessor demitiu servidora ligada a miliciano depois de ter deixado o cargo

Ex-assessor. Queiroz foi exonerado do gabinete de Flávio Bolsonaro em outubro de 2018

Troca de mensagens entre Fabrício Queiroz e Danielle Mendonça da Costa da Nóbrega – ex-mulher de Adriano Nóbrega, um dos milicianos mais procurados do Rio – indica que, mesmo após ser exonerado do cargo, o ex-assessor continuou a agir como integrante do gabinete do então deputado estadual, hoje senador, Flávio Bolsonaro (PSL-RJ), filho mais velho do presidente Jair Bolsonaro. As conversas foram rastreadas pelo Ministério Público.

Segundo o jornal O Globo, diálogos via WhatsApp indicam que Queiroz informou à assessora, em 6 de dezembro de 2018, que ela havia sido exonerada. No mesmo dia, o Estado revelou que relatório do Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf) apontou a existência de movimentações “atípicas” nas contas bancárias de Queiroz. O MP do Rio investiga se houve “rachadinha” (prática ilegal em que o servidor repassa parte ou a totalidade de seu salário para o parlamentar que o contratou) no gabinete de Flávio na Assembleia do Rio.

Queiroz já não era oficialmente funcionário do hoje senador desde 16 de outubro. As conversas com Danielle, contudo, sugerem que ele seguia tomando decisões em nome do parlamentar, que sempre afirmou não saber das atividades do PM. O exassessor pediu ainda a ela que deixasse de usar o sobrenome Nóbrega, a fim de evitar a associação do miliciano com o gabinete de Flávio na Assembleia.

Os contatos entre Queiroz e Danielle foram monitorados pelo Grupo de Atuação Especial no Combate ao Crime Organizado (Gaeco), em investigação sobre milícia – que resultou na prisão de 13 suspeitos na Operação Os Intocáveis.

Um dos investigados com prisão decretada é o ex-capitão da PM Adriano Nóbrega, que foi casado com Danielle. Além dela, Raimunda Veras Magalhães, mãe do ex-oficial, também trabalhou no gabinete de Flávio na Assembleia. As investigações sobre a suspeita de “rachadinha” são atribuição de outro órgão da Promotoria, o Grupo de Atuação Especializada de Combate à Corrupção (Gaecc).

Em nota, o advogado Paulo Klein afirmou que, pela influência que tinha no gabinete, Queiroz continuava a ser procurado por assessores – principalmente os nomeados por ele, como Danielle – mesmo fora do cargo. A defesa disse lamentar “que, mesmo diante da comprovada fragilidade de sua saúde, a devassa em sua vida pessoal e profissional não cessem, inclusive com o vazamento de informações relacionadas ao seu sigilo telefônico”.

“De todo modo, tais diálogos tinham como objetivo evitar que se pudesse criar qualquer suposição espúria de um vínculo entre ele e a milícia. A senhora Danielle foi convidada por ele a participar do gabinete em razão do trabalho social relevante do qual participa. Infelizmente, ao que parece, neste momento, todo e qualquer fato é distorcido com vistas a revelar algo supostamente ilícito, quando, em verdade, somente houve trabalho sério, honesto e comprometido.”

Procurado, Flávio Bolsonaro não quis comentar.

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Entrevista - Frederick Wassef: 'Está em curso uma campanha para atingir o presidente'

Ricardo Galhardo

06/09/2019

 

 

Frederick Wassef, advogado de Flávio Bolsonaro

‘Está em curso uma campanha para atingir o presidente’

O advogado Frederick Wassef, responsável pela defesa do senador Flávio Bolsonaro (PSL-RJ) no caso das movimentações suspeitas apontadas pelo Coaf, disse ao Estado que setores interessados em desgastar o governo tentam transformar em “monstro” o ex-capitão da PM Adriano Nóbrega, com o objetivo de vinculá-lo ao seu cliente e ao presidente Jair Bolsonaro. A seguir os principais trechos da entrevista:

Como um funcionário que já foi exonerado do gabinete do hoje senador Flávio pode demitir outra pessoa do mesmo gabinete?

Estes fatos se deram em dezembro de 2018, no final do mandato parlamentar. Todos os funcionários já tinham sido demitidos.

Estas mensagens reforçam suspeitas de vínculo entre Flávio e milícias?

Essa história de tentar vincular milícias com Flávio Bolsonaro é absolutamente falsa, inverídica e leviana. Jamais existiu qualquer vínculo do senador Flávio com qualquer milícia ou criminosos.

Qual era a relação do senador Flávio com Adriano Nóbrega?

Falam muito da ex-mulher e da mãe dessa pessoa que chamam de miliciano. Desafio a imprensa a responder se existe alguma sentença condenatória transitada em julgado no Judiciário brasileiro afirmando que o capitão Adriano é miliciano, é criminoso, foi condenado. Não existe. Essa história foi uma forçação de barra de gente que está querendo transformar este capitão em um grande vilão com o objetivo específico de tentar atingir a imagem e a reputação do Flávio.

Por que Flávio homenageou o capitão Adriano?

Quando o senador homenageou o capitão, ele era um herói da PM com ficha limpa, prestou grande serviço à sociedade e nada maculava a sua conduta. O senador não tem bola de cristal para imaginar que dez anos depois este capitão poderia ser envolvido em qualquer tipo de investigação.

Mas hoje Adriano Nóbrega é suspeito de liderar milícias.

Essa conduta de pegar essa pessoa, o capitão Adriano, dizer deliberadamente que é miliciano, transformá-lo em monstro para depois casar com o meu cliente é uma prática perigosa para a democracia brasileira.

Essa mensagem não pode ser usada pela acusação como tentativa de obstruir a investigação?

O que está em curso aqui é uma campanha para atingir o presidente da República, é uma campanha que não para e que começou antes mesmo de o Jair Bolsonaro sentar na cadeira. Não existe fato novo.