Valor econômico, v.19, n.4710, 18/03/2019. Política, p. A10

 

Flávio se articula para ganhar influência na pauta econômica 

Renan Truffi 

18/03/2019

 

 

Filho do presidente da República, o senador Flávio Bolsonaro (PSL-RJ) tem se articulado nos bastidores para ganhar espaço e se tornar um protagonista das pautas econômicas no Congresso. O parlamentar atua para conseguir uma vaga de titular na Comissão Mista de Orçamento (CMO), depois de garantir cadeira fixa na Comissão de Assuntos Econômicos (CAE) do Senado. Segundo aliados, a ideia é que Flávio ajude a conduzir as pautas econômicas do governo, como a questão orçamentária e a reforma da Previdência.

A investida acontece após Flávio Bolsonaro tornar-se alvo de um procedimento para investigar movimentação suspeita de R$ 1,2 milhão em sua conta bancária e na de seu ex-motorista Fabrício Queiroz, por meio de 48 depósitos em dinheiro.

O caso está sendo analisado em primeira instância, a cargo do Ministério Público Estadual do Rio de Janeiro.

Como Flávio ficou impossibilitado de liderar a articulação política do governo, devido à repercussão negativa em torno do escândalo, a ideia é que ele busque esse protagonismo na área econômica. Nas palavras de um integrante do PSL, Flávio continuará "abaixo da linha do radar" para evitar ficar em evidência, enquanto se movimenta nos bastidores para ocupar espaços relacionados ao debate da Previdência, por exemplo. No último dia 13 de fevereiro, ele se encontrou com o ministro da Economia, Paulo Guedes, justamente para discutir as alterações no sistema de aposentadorias.

A indicação para que Flávio seja o titular da CMO deve ser feita nesta semana, oficialmente, pelo líder do PSL no Senado, Major Olímpio (SP). Mas, para que efetivamente ele conquiste a cadeira na comissão, será preciso negociar com PSDB e Podemos. Juntos, os três fazem parte de um mesmo bloco que teria direito a apenas duas vagas, no entendimento de alguns assessores parlamentares do PSL. Neste cenário, um dos dois partidos teria de abrir mão da vaga para que o PSL pudesse indicar Flávio. Isso porque o partido de Bolsonaro tem uma bancada menor que as outras duas legendas.

Como argumento, o PSL vai dizer aos outros partidos que Flávio Bolsonaro teria um acesso "diferenciado" ao presidente da República, o que "facilitaria" as negociações em torno de um Orçamento que agradasse tanto os congressistas como o governo federal.

"Sem a menor dúvida, ele tem interesse (na vaga da CMO). É mais do que justo que ele participe porque está preocupado com o País e com o equilíbrio orçamentário. Ele é filho do presidente da República e naturalmente há uma interlocução diferenciada por ele ter acesso familiar e direto ao presidente, então é mais do que justo", afirmou Olímpio ao Valor. Além de Flávio Bolsonaro, o PSL deve indicar a senadora Selma Arruda (PSL-MT) como suplente.

A indicação para a CMO também é vista como forma de Flávio Bolsonaro recuperar capital político em sua região eleitoral, o Rio de Janeiro. O Estado passa por uma grave crise fiscal com déficit orçamentário de R$ 8 bilhões, além de ter iniciado o ano com cerca de R$ 17,5 bi em despesas não pagas pela gestão anterior.

"Ele é cobrado por tudo: por ser senador de um estado deficitário e também por ser filho do presidente. Ele está sendo assediado por todas as forças políticas, então é mais do que justo que ele lute para participar numa comissão dessa natureza. Eu acho que ele tem todos os predicados para ser um representante lá", defendeu Major Olímpio.

As discussões sobre quem serão os nomes indicados pelo bloco devem acontecer em reunião prevista para esta terça-feira, 19, sob liderança do senador Eduardo Girão (Podemos-CE), mas ainda devem se estender ao longo dos próximos dias. O Podemos, por exemplo, tem ao menos três candidatos para a mesma cadeira: Rose de Freitas (Podemos-ES), Elmano Férrer (Podemos-PI) e Oriovisto Guimarães (Podemos-PR).

Pelo PSDB, um dos candidatos deve ser o senador Izalci Lucas (DF). Ele disse não ver problema na possibilidade do PSDB negociar esse espaço com Flávio Bolsonaro dependendo de quais forem "os argumentos".