Valor econômico, v.19, n.4707, 13/03/2019. Finanças, p. C1

 

Petrobras capta US$ 3 bi no exterior 

Daniela Meibak 

Talita Moreira 

13/03/2019

 

 

A Petrobras voltou ao mercado de capitais internacional depois de um ano, e levantou ontem US$ 3 bilhões com a oferta de títulos que vencem em dez e 30 anos. O dinheiro vai financiar uma recompra de papéis mais antigos e mais caros que será feita pela estatal nas próximas semanas.

A operação terá o efeito prático de reduzir a dívida líquida da companhia, segundo fontes que acompanham o processo. Isso porque, além dos recursos captados ontem, a empresa deve usar caixa para financiar o pagamento de alguns papéis que estão em circulação no mercado.

A Petrobras estabeleceu um teto de US$ 3,2 bilhões para a recompra de bônus antigos com vencimentos entre 2021 e 2025, mas o Valor apurou que esse limite deve ser revisto e poderá ficar acima de US$ 4 bilhões. Estão em circulação no mercado US$ 12,4 bilhões desses papéis.

"A captação está em linha com o plano estratégico de desalavancagem da Petrobras e extensão do prazo médio da dívida", diz uma fonte que acompanhou de perto a operação. A companhia tinha dívida líquida de R$ 268,824 bilhões no fim de dezembro, o equivalente a 2,34 vezes o Ebitda ajustado. Essa relação vem caindo com o processo de desalavancagem em curso na estatal.

O presidente da Petrobras, Roberto Castello Branco, disse ontem, num evento em Houston, que pretende transformar a empresa em um produtor de baixo custo. A combinação entre a nova emissão de bônus e a recompra dos títulos, além de alongar, barateia o perfil da dívida da Petrobras.

Na operação de ontem, foram vendidos US$ 750 milhões na reabertura de uma emissão de bônus feita no ano passado e que vence em 2029. O retorno ao investidor (o "yield") ficou em 5,95% ao ano - abaixo da taxa estimada no início do dia, de 6,05%, e com quase nenhum prêmio sobre os papéis que já estavam em circulação.

A Petrobras também colocou US$ 2,25 bilhões em bônus que vencem em 2049 e saíram com "yield" de 6,9% ao ano. No início do dia, a taxa indicativa estava um pouco acima de 7%.

Os títulos foram vendidos com custos próximos a operações recentes com características similares. No ano passado, a emissão de dez anos feita em janeiro pela Petrobras teve um prêmio de risco - cálculo feito com a diferença entre o yield e o retorno dos títulos americanos - de 332 pontos-base. Ontem, a oferta saiu a 335 pontos. No caso dos títulos de 30 anos, a última vez que a companhia vendeu papéis com prazo similar foi em 2017 e, na ocasião, o prêmio de risco foi de 400 pontos-base. Ontem, ficou em 390 pontos.

A oferta da Petrobras vem após um começo de ano morno para emissões de bônus de companhias brasileiras e sinaliza que os investidores estão ávidos por bônus do país - a demanda ultrapassou US$ 10 bilhões e mais de 400 ordens de compras foram feitas, segundo uma fonte. Antes dessa oferta, a Suzano foi ao mercado externo para captar US$ 750 milhões em títulos de dez anos, e o BTG Pactual emitiu US$ 600 milhões em títulos elegíveis a compor o capital de nível 2 do banco.

Embora o mercado internacional permaneça bastante líquido, o volume de ofertas de emissores de países emergentes está aquém do que se viu no mesmo período do ano passado, observa uma fonte que atua na estruturação de emissões externas. Em 2018, até 13 de março, companhias brasileiras captaram US$ 8,9 bilhões via emissões de bônus - o dobro do captado no mesmo período deste ano.

"As companhias fizeram a lição de casa nos últimos anos na gestão dos passivos. Agora, esperam que a economia volte a crescer para investir e, assim, tomar mais dívida. Por isso, a lentidão do mercado", diz essa fonte.

Outro interlocutor comenta que a liquidez do mercado de capitais local também influencia o baixo volume levantado no exterior. "Muitas empresas emissoras frequentes em dólar hoje consideram o mercado local porque, mesmo quando é necessário swap cambial, o custo está competitivo." Tendo isso em mente, diz essa fonte, o mercado de dívida deve ter um 2019 parecido com o que foi o ano passado: fraco em termos de volume. A expectativa é que sejam levantados em torno de US$ 15 bilhões até dezembro.

O contexto internacional para países emergentes ainda está positivo, principalmente pela recente postura mais estimulativa dos principais bancos centrais do mundo. O seguro contra calotes do Brasil, medido pelo contrato de CDS ("credit default swap") de cinco anos ficou em 155 pontos-base ontem, menor patamar em cerca de um ano.