O Estado de São Paulo, n. 45983, 10/08/2019. Metrópole, p.A13

 

Suicídio é 2ª causa de morte entre jovens, diz OMS

Paula Felix

10/09/2019

 

 

 Recorte capturado

 

 

 

Dados divulgados ontem mostram que a cada 40 segundos há um caso e 79% dos relatos estão em países de baixa e média renda

 

Paula Felix

 

O suicídio é a segunda causa de morte entre jovens de 15 a 29 anos no mundo, atrás apenas de acidentes de trânsito. E a cada 40 segundos uma pessoa se suicida – 79% dos casos se concentram em países de baixa e média renda. Esses e outros dados fazem parte de um novo relatório da Organização Mundial da Saúde (OMS), divulgado ontem, véspera do Dia Mundial de Prevenção ao Suicídio.

Quando olhamos para uma faixa etária ainda mais jovem – de 15 a 19 anos –, o suicídio aparece como segunda causa de morte entre as meninas, após as complicações na gravidez, e a terceira entre meninos, depois de acidentes de trânsito e violência. A OMS estima que cerca de 800 mil pessoas morrem por suicídio por ano – os números do relatório são referentes a 2016. No Brasil, foram registrados 13.467 casos, a maioria – 10.203 – entre homens, segundo a entidade.

Os números da publicação apontam que a taxa global de suicídio foi de 10,5 por 100 mil habitantes. Há diferenças quando se observa a renda dos países. Nos de média renda, o índice foi de 9 por 100 mil; nos de baixa, de 10,8 por 100 mil; e nos de alta renda, 11,5 por 100 mil – nesses, o número de mortes de homens foi quase três vezes maior que o de mulheres.

No período de 2010 a 2016, a região das Américas foi a única a apresentar crescimento da taxa global de suicídios. A alta foi de 6% enquanto a taxa global caiu 9,8%. As regiões do Pacífico Ocidental e do Sudeste Asiático também registraram queda de 19,6% e 4,2%, respectivamente. Mais da metade dos casos de morte por suicídio no mundo (52,1%) ocorre entre pessoas com menos de 45 anos.

 

Crise. Professor de Fisiologia do Comportamento da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), Ricardo Monezi diz que o suicídio entre jovens é um problema de saúde pública em todo o mundo e não é causado apenas por um motivo. Além das mudanças e conflitos que costumam ocorrer nessa fase da vida, os jovens enfrentam cobranças e vivem o isolamento causado pelo uso excessivo das tecnologias.

“Vivemos em um mundo extremamente tecnológico, que tem grande carga de informação, e os jovens são cobrados para ter atitudes de alto desempenho em diferentes áreas de vida. Eles precisam exibir uma performance que a gente vê em grandes empresários”, diz Monezi. “O jovem está sendo demandado pela família e pela sociedade. Isso traz conteúdos emocionais que fazem com que entre em crise.”

Segundo Monezi, a situação faz com que pessoas dessa faixa etária convivam com “as duas maiores doenças incapacitantes do mundo: a doença do passado, que é a depressão, e a doença do futuro, que é a ansiedade”. As situações que faziam com que os jovens se sentissem deslocados da sociedade, como o bullying, tomaram proporções maiores. “Hoje tem o cyberbullying. Tem uma sociedade virtual que posta, julga e condena.” O isolamento é outro problema. “Se você pega o metrô, as pessoas não se olham no vagão, porque estão imersas em seus celulares.”

 

Prevenção. Segundo o levantamento da organização, as principais formas de cometer suicídio foram: enforcamento, envenenamento com pesticidas e uso de armas de fogo. Restringir o acesso aos meios que podem ser utilizados para cometer o ato é uma das ferramentas para diminuir casos de suicídio, de acordo com a OMS.

 

Risco

‘Estamos perdendo a sensibilidade do contato, do toque, do olho no olho, de sermos humanos uns juntos aos outros, algo que descaracteriza as relações.”

Ricardo Monezi

PROFESSOR DA PUC-SP