Valor econômico, v.19, n.4708, 14/03/2019. Política, p. A16

 

"Ás vezes, a gente passa dos limites", diz Carlos 

Cristiane Agostine 

Carolina Freitas 

14/03/2019

 

 

Responsável pelas redes sociais do presidente Jair Bolsonaro, o vereador Carlos Bolsonaro (PSC-RJ) reconheceu que, por vezes, se excede na internet e disse que tem ouvido conselhos para superar o período eleitoral. Em entrevista à jornalista Leda Nagle, divulgada ontem no YouTube, o filho do presidente disse levar broncas de Bolsonaro por sua atuação nas redes sociais e que "se sente muito culpado de vez em quando" e "aliviado" em outros momentos.

Ao ser questionado sobre sua agressividade, Carlos disse que não é "bravo" e afirmou que se a jornalista soubesse da quantidade de mensagens que ele responde, ela o consideraria "um anjo". Em seguida, ponderou: "Às vezes, a gente passa dos limites. É claro. E o ser humano - não que tenha o direito de passar dos limites -, às vezes passa. É humano."

O vereador disse que tem escutado conselho de amigos para mudar o tom. "Dizem: 'o período eleitoral já passou. Vocês têm que ter um sentimento de proatividade porque agora são vidraça'. Entendo isso, mas ao mesmo tempo as pancadas vêm também. Então, a cada 20 pancadas que a gente recebe, vale responder uma de vez em quando", afirmou.

Carlos disse que recebe broncas de seu pai e amigos. "Permito que isso aconteça, leio o que as pessoas me escrevem, me sinto muito culpado de vez em quando, me sinto aliviado de vez em quando. Então, como qualquer pessoa normal, sempre procuro evoluir para poder passar uma mensagem que possa agregar a todo mundo no final das contas."

Apesar de reconhecer excessos, defendeu a estratégia de redes sociais da família. Ele não declarou arrependimento em relação ao vazamento do áudio do então ministro da Secretaria-Geral da Presidência, Gustavo Bebianno. "Só quero defender meu pai. Não tenho pretensões. Só quero levar adiante um plano em que eu acredito", afirmou. Questionado sobre a divulgação pelo presidente, no Twitter, de um vídeo obsceno associado ao carnaval, Carlos reafirmou a decisão do pai. "Foi para isso que ele foi eleito. Chocante ou não é a realidade. Que problema há nisso?" Para o vereador, "o público ficou esmagadoramente" ao lado do presidente no episódio. A repercussão foi negativa e houve críticas dentro do governo.

O vereador destacou sua proximidade com o pai, mas disse que é um "fardo" ser filho do presidente. "Não acho mérito nenhum nisso", afirmou. "É extremamente dolorido ser filho do presidente". Carlos disse que "jamais" pensou que seu pai pudesse se eleger presidente e reforçou que não pretende suceder Bolsonaro na Presidência.

Avesso à imprensa, Carlos disse ver "parcialidade total" na mídia e os jornalistas como "militantes". "Quero ajudar, estou tentando ajudar o jornalista a fazer jornalismo", afirmou. "Dentro da formação, os senhores [jornalistas] carregam consigo uma ideologia que às vezes é tomada de um seio ideológico que acaba contaminando a informação. Não acho isso agradável, tanto é que raramente converso com jornalista", declarou. Questionado sobre como se informa, citou as redes sociais. "Cada dia que passa vejo menos televisão e leio menos jornal. E cada dia me sinto mais bem informado."

Na entrevista, Carlos emocionou-se ao lembrar da facada levada por seu pai em setembro de 2018, durante atividade de campanha, quando estava junto com Bolsonaro em Juiz de Fora. Com os olhos marejados e a voz embargada, o vereador disse que viu seu pai quase morrer por duas vezes. E retomou os ataques ao responsável pela facada, Adélio Bispo de Oliveira. "Não acredito que ele é maluco", disse, contestando o laudo médico que diz que Adélio não tem sanidade mental.

Carlos irritou-se ao falar que há quem duvide do atentado. "Tem canalha que diz que a facada foi fake. Você entende a minha raiva?", disse.

Ao falar sobre a Previdência, agradeceu o ex-candidato do Psol à Presidência Guilherme Boulos, por criticar a reforma proposta pelo governo. "Dá para aprovar a Previdência ela sendo bem explicada", afirmou. "Boulos fazendo campanha contra a gente já ajuda muito. A gente agradece. Quem nunca trabalhou fazendo campanha contra a nova Previdência é muito bom".