Título: Os dois na estrada
Autor: Tranches, Renata
Fonte: Correio Braziliense, 18/10/2012, Mundo, p. 26

No dia seguinte a um debate com vitória apertada de Obama sobre Romney, os candidatos à Casa Branca voltam aos cenários decisivos

Com a campanha revigorada após seu forte desempenho no debate de terça-feira à noite, o presidente Barack Obama caiu ontem na estrada com destino a Iowa e Ohio, dois estados-chave nesta eleição, nos quais a presença dos candidatos se tornou rotineira. O desafiante republicano, Mitt Romney, seguiu para a Virgínia, igualmente decisiva na disputa. Pesquisas divulgadas logo após o debate na Universidade Hofstra, em Hempstead (Nova York), deram Obama como vencedor do embate, mas com uma margem mais modesta que a da vitória de Romney no primeiro confronto. O duelo foi assistido por 65,6 milhões de telespectadores.

Para além dos números, porém, editoriais e comentaristas dos maiores jornais norte-americanos e analistas consultados pelo Correio consideram a performance do democrata forte o suficiente para reverter o impacto dos últimas semanas. Faturando o desempenho no debate, Romney cresceu nas pesquisas nacionais e nos estados. Na sondagem do Gallup, atualizada antes do segundo confronto, o republicano exibiu sua liderança mais folgada em toda a campanha: 51% a 45%, pela primeira vez fora da margem de erro. Na média calculada pelo site Real Clear Politics, o desafiante aparecia ontem com 47,4%, e o presidente, com 47%.

Em um comício em Chesapeake, Mitt Romney retomou a linha de ataque ao retrospecto de Obama na Casa Branca, em especial em relação à economia, e desafiou-o a explicar claramente como pretende tirar o país da crise. "O presidente ainda não tem uma agenda para um segundo mandato", disparou. O democrata, falando em Mount Vermont (Iowa), criticou o adversário por defender uma medida autorizando as concessionárias de planos de saúde a negar cobertura em casos como os de câncer de mama. "Ser uma mulher não é uma condição preexistente", afirmou.

Duelo quente

Na noite anterior, 90 minutos de falas interrompidas, ataques diretos entre os candidatos e até entreveros com a mediadora resultaram em uma vitória de Obama, embora não tão imponente. Em uma consulta feita pela tevê CNN, o democrata foi considerado melhor por 46% dos entrevistados, contra 39% que preferiram a performance de Romney. A CBS News captou números semelhantes: 37% a 33% para Obama, com 30% optando por um empate. A vantagem mais ampla foi apurada na pesquisa Reuters/Ipsos: 48% a 33%.

Nas páginas de opinião dos jornais, a notícia foi o retorno do presidente ao espírito combativo que faltou no primeiro encontro. Para o New York Times, ele "atacou, atacou e atacou mais uma vez". O conservador The Wall Street Journal avaliou que o confronto "mudou de novo a trajetória da campanha". O Washington Post destacou o tom agressivo da noite, que "mais parecia uma competição de gritos".

Especialistas americanos também elogiaram a performance de Obama. Alan Schroeder, professor de Jornalismo da Universidade Northeastern, em Boston (Massachusetts), especialista e autor de vários livros sobre debates presidenciais, acha que Obama foi capaz de usar o formato do evento — no qual eleitores fizeram as perguntas — para marcar um claro contraste com o oponente. "Foi um retorno impressionante e, provavelmente, o melhor debate da carreira de Obama", resumiu. Diretor da Escola de Comunicação da universidade onde ocorreu o debate, Evan Cornog destacou que o presidente parecia muito mais confortável do que no primeiro confronto. "Ele se mostrou muito melhor e Romney não teve uma performance tão forte", opinou.

A dúvida que persiste é se a performance do democrata se refletirá em uma reação nas pesquisas de intenção de voto nos próximos dias. Depois de amargar uma queda quase contínua, resultado de seu mau desempenho no início do mês, Obama conseguiu ensaiar uma leve reação. Mas a campanha democrata ainda tem com o que se preocupar. A pesquisa nacional Gallup, que mostrou Romney seis pontos à frente, também apontou o republicano como franco favorito para lidar com a crise econômica. E mesmo em política externa, tema no qual Obama sempre teve vantagem, as preferências se dividem quase por igual.

Nos estados, a luta é cabeça a cabeça O roteiro seguido pelas campanhas no dia seguinte ao debate coincide com o mapa da corrida pela Casa Branca estado a estado, em uma eleição que será decidida pela matemática do Colégio Eleitoral. Entre as 50 disputas, de nove a 12 são consideradas indefinidas pelos principais jornais e institutos de pesquisa. O republicano Mitt Romney, embora tenha crescido nas intenções de voto em escala nacional desde o primeiro debate, continua em situação desfavorável nessa aritmética e, por isso mesmo, voltou à estrada na Virgínia, um campo de batalha emblemático.

Na média de pesquisas calculada pelo site Real Clear Politics, o presidente Barack Obama aparece à frente por menos de um ponto percentual: 48,4% contra 47,6%. Romney tinha aparecido liderando as três pesquisas mais recentes e investe no eleitorado conservador. O presidente, que levou a melhor na Virgínia em 2008, aposta na presença concentrada de funcionários públicos, receosos do discurso antigastos do republicano. O estado elege 13 deputados para o Colégio Eleitoral.

O comando de campanha democrata escalou Obama para aparições em Iowa e Ohio. O primeiro, com apenas seis delegados, é uma espécie de talismã: foi onde o atual presidente começou seu caminho nas primárias democratas de 2008. Mais até que o peso eleitoral, Iowa é visto como um termômetro do ânimo dos eleitores também em estados vizinhos do Meio-Oeste — e, entre eles, Ohio (18 delegados) é a joia da coroa nesta eleição. A média do Real Clear mostra o democrata à frente, por 48,3% a 46,1%.

O Colégio Eleitoral é composto por 538 delegados, distribuídos pelos 50 estados e por Washington (capital) proporcionalmente à população. O voto direto dos eleitores determina, em cada estado, qual dos dois candidatos enviará a sua chapa de delegados para a eleição (indireta) que define o presidente. São necessários 270 votos para vencer. Considerando a tendência das pesquisas, o Real Clear calculava ontem que Obama teria assegurados 201 delegados e Romney, 191, com 146 em disputa em11 estados. Nesse universo, o presidente aparecia à frente em oito estados, com um total de 95 votos eleitorais. O desafiante liderava em três, que lhe renderiam 53 delegados.

Atentado à sede do Fed

Um bengalês de 21 anos, supostamente ligado à rede terrorista Al-Qaeda, foi detido ontem em Nova York depois de ter tentado cometer um atentado contra o prédio do Federal Reserve (Fed), o banco central dos Estados Unidos. Segundo a Procuradoria, Quazi Mohammad Rezwanul Ahsan Nafis foi detido de manhã perto do prédio, no sul da Ilha de Manhattan, depois de acionar o detonador do que acreditava ser uma bomba de 450kg, instalada em um carro. O suspeito não sabia, porém, que as duas pessoas que acreditava ter como cúmplices, e que haviam fornecido a ele os falsos explosivos, fossem um informante e um agente disfarçado do FBI. Nafis foi acusado de tentativa de uso de arma de destruição em massa e de fornecer material à Al-Qaeda.

46% Total de entrevistados pela CNN que consideraram Obama o vencedor do segundo debate. Romney teve 39% das preferências

51% Intenções de voto em Mitt Romney na última pesquisa nacional do Gallup. Obama teve 45%