O globo, n.31384, 11/07/2019. País, p. 08

 

Bruno Covas sobre Aécio Neves: 'Ou eu ou ele'

Tiago Dantas 

11/07/2019

 

 

Os principais líderes do PSDB em São Paulo definiram a linha de ataque contra o deputado tucano Aécio Neves (MG). Primeiro, em viagem ao exterior, o governador paulista, João Doria, disse anteontem que o melhor seria o colega deixar espontaneamenteo partido. Ontem, o prefeito de São Paulo, Bruno Covas, subiu o tom. Diante da provocação de correligionários de Minas Gerais, deu um ultimato:

— Já manifestei diversas vezes no sentido da expulsão do deputado Aécio Neves do partido. E, se o diretório do PSDB de Belo Horizonte quer a minha expulsão, essa é uma boa decisão, então, que fica agora para o PSDB nacional: ou eu ou Aécio Neves no partido.

Políticos tucanos relatam incômodo com a presença de Aécio, investigado em oito inquéritos da Lava-Jato e réu por corrupção em um processo no qual é acusado de cobrar R$ 2 milhões de propina do empresário Joesley Batista, do Grupo J&F. Na quinta-feira, o diretório municipal do PSDB de São Paulo encaminhou ao diretório nacional da sigla o pedido de expulsão de Aécio.

O diretório de Belo Horizonte reagiu, ameaçando pedir a expulsão de Covas, investigado em um processo de improbidade administrativa por supostos problemas nos editais do carnaval em 2018 e 2019.

Questionado por uma jornalista se, então, era uma questão de “um ou outro”, Covas reafirmou:

— Ou um ou outro. É incompatível.

Na noite de terça-feira, em Cambridge, na Inglaterra, onde se reúne com investidores, Doria já havia dito que “o melhor seria uma saída espontânea” de Aécio. Segundo ele, seria a forma mais “clara, transparente, equilibrada e serena” de conduzir o processo.

— Esta é uma solução política e eticamente adequada, mas é uma decisão que compete a ambos. Mas, se não adotarem, o PSDB vai adotar — afirmou o governador ao jornal “O Estado de S. Paulo”.

CONSELHO DE ÉTICA

Antes de o pedido ser analisado, no entanto, o partido precisa instalar o conselho de ética, o que não há previsão para acontecer. Doria reforçou o pedido de afastamento e lembrou que haverá eleição no ano que vem.

—Manter a filiação (de Aécio) diante de fatos aparentemente graves provoca em vários setores do PSDB um mal-estar. E, diante da perspectiva das eleições de 2020, esse mal-estar vai crescer.

O presidente nacional do PSDB, Bruno Araújo, disse anteontem que, assim que for instalado o colegiado, a representação do diretório paulistano será encaminhada.

— Toda e qualquer representação contra filiados será encaminhada diretamente ao conselho de ética, que é o órgão competente do partido para analisar essas questões e tem regramento próprio para fazê-lo.

Aécio não demonstra disposição em se licenciar. Procurado para comentar o pedido de expulsão, o deputado não quis se manifestar. Em nota, informou que “não existe nova denúncia contra ele” e que o Supremo Tribunal Federal “apenas transferiu denúncia para a Justiça Federal de São Paulo”. Aécio reafirmou ser inocente das acusações da Lava-Jato.

ACUSAÇÕES QUE PESAM CONTRA TUCANO

Empréstimo da JBS:

Réu na Justiça Federal de SP, Aécio Neves é acusado de corrupção e obstrução da Justiça por ter pedido R$ 2 milhões a Joesley Batista. A defesa diz que o empréstimo foi oferecido pelo empresário.

Pedidos de propina da JBS

Investigado na Justiça Federal de SP, Aécio teria pedido propina a Joesley quatro vezes em 2014 em troca de vantagens num eventual governo presidencial. Ele nega.

Cidade administrativa

Investigação na Justiça de Minas. Segundo a Odebrecht, Aécio teria fraudado licitação e aceitado R$ 5,2 milhões de propina na obra da Cidade Administrativa. Ele nega.

Caixa dois em campanha

O caso está na Justiça Eleitoral de MG. Executivos da Odebrecht relataram caixa dois para Aécio e Antonio Anastasia. A defesa nega.

Caixa dois em 2014

Investigado em dois processos no STF. Defesa nega irregularidades.

Hidrelétricas

Investigado no STF sob acusação de que ajudou a Odebrecht em obras federais. Aécio nega.