O Estado de São Paulo, n. 45999, 26/09/2019. Economia, p. B1

 

Guedes, Maia e Alcolumbre traçam estratégia para pauta econômica

Idiana Tomazelli

26/09/2019

 

 

Para ministro, ‘acerto’ no mundo político pode fazer avançar propostas essenciais para ajustar as contas do País

Encontro. Guedes e o presidente da Câmara, Rodrigo Maia

Após medição de forças entre Câmara e Senado por protagonismo na agenda econômica, os chefes das duas Casas se reuniram ontem com o ministro da Economia, Paulo Guedes, para traçar uma estratégia e tentar acelerar o andamento no Congresso Nacional de pautas consideradas prioritárias pela equipe econômica.

A reunião durou cerca de uma hora e meia e a visão na área econômica é de que houve um “acerto” no mundo político que abrirá caminho para o avanço das propostas que são essenciais para o ajuste nas contas do País. Participaram do encontro o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), o Presidente do Senado, Davi Alcolumbre (DEM-AP), e lideranças do governo e de partidos aliados nas duas Casas.

Na reunião, ficou acordado que a equipe econômica vai apoiar a Proposta de Emenda à Constituição (PEC) do deputado Pedro Paulo (DEM-RJ) para acelerar e ampliar os “gatilhos” de ajuste nas despesas obrigatórias, que incluem benefícios previdenciários e salários de servidores.

A defesa pública da PEC de Pedro Paulo pela equipe econômica era uma cobrança de deputados que estão engajados na aprovação da iniciativa – entre eles o autor e o presidente da Comissão de Constituição e Justiça (CCJ), Felipe Francischini (PSL-PR). A proposta está parada na CCJ.

A PEC dos gatilhos está sendo considerado pela área econômica como um “primeiro passo” na direção do chamado “pacto federativo”, cuja intenção é tirar as amarras do Orçamento e descentralizar recursos para Estados e municípios. O ministro pretende propor, num segundo passo desse pacto, a desvinculação (retirar os carimbos do Orçamento), desindexação (retirar a necessidade de conceder automaticamente reajustes) e desobrigação de despesas – trinca de medidas que rendeu o apelido de PEC “DDD”.

A intenção por trás da PEC DDD é desobrigar o governo de reajustar automaticamente algumas despesas. Horas antes, em audiência na Comissão Mista de Orçamento (CMO), o ministro indicou que ninguém vai mexer no reajuste obrigatório do salário mínimo pela inflação, mas sugeriu que a indexação será assegurada para “os mais pobres”. Como antecipou o Estadão/Broadcast, há parlamentares que defendem o fim da obrigatoriedade de reajustes para quem ganha acima do salário mínimo.

Outras medidas que estão na agenda prioritária debatida na reunião são o chamado Plano Mansueto, que está parado na Câmara e deve ser resgatado. A proposta dá a Estados pouco endividados, mas com dificuldades de caixa, acesso a novos empréstimos em troca de medidas de ajuste fiscal.

A reforma tributária também está no plano prioritário do governo. A proposta foi o epicentro da disputa por protagonismo entre Câmara e Senado. Mais cedo, Guedes disse que a ideia é entrar com a proposta na semana que vem “em conjunto com Senado e Câmara”. A reforma administrativa, para rever a estrutura de carreiras e salários no Executivo, a autonomia do Banco Central e a privatização da Eletrobrás também estão na lista de prioridades.

Sob ataques até mesmo dentro do governo, Guedes recebeu ontem a deferência de Maia. “Conte com este presidente da Câmara, que tem muita convergência de ideias”, disse Maia, que já trocou “farpas” com Guedes à época da tramitação da reforma da Previdência na Câmara.

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“Conte com este presidente da Câmara, que tem muita convergência de ideias.”

Rodrigo Maia

PRESIDENTE DA CÂMARA DOS  DEPUTADOS AO MINISTRO PAULO  GUEDES, COM QUEM JÁ TROCOU  ‘FARPAS’ NA TRAMITAÇÃO DA  REFORMA DA PREVIDÊNCIA

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Ministro Bate boca de novo na Câmara

Idiana Tomazelli

26/09/2019

 

 

Pavio curto / Guedes discute e sessão é encerrada 4 horas antes

O pavio curto do ministro da Economia, Paulo Guedes, ficou evidente mais uma vez ontem na Comissão Mista de Orçamento, quando a audiência foi encerrada após o ministro bater boca com parlamentares de oposição.

Como em encontros anteriores, Guedes se irritou quando as perguntas dirigidas a ele ganharam tom pessoal.

O deputado Glauber Braga (Psol-RJ) questionou o ministro sobre investimentos dele na educação privada. Guedes subiu o tom quando, ao tentar responder, foi interrompido por Braga. “É minha vez de falar, não estou aqui para conversar sobre minhas finanças pessoais, estou aqui para falar sobre orçamento público. Estou aqui para ser respeitado.”

A sessão foi encerrada com duas horas e meia de duração, por volta das 17h, muito antes do previsto na agenda de Guedes, que esperava o encerramento da audiência para as 21h.

Não foi a primeira vez que a participação do ministro no Congresso terminou em bateboca e confusão. O embate mais famoso foi o do “tchutchuca x tigrão”, em abril, na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da Câmara.

O ministro caiu na provocação do deputado Zeca Dirceu (PT-PR) que o acusou de ser “tigrão” com os aposentados, idosos de baixa renda e agricultores, mas “tchutchuca” com privilegiados do Brasil. “Tchutchuca é a mãe, é a avó, respeita as pessoas”, respondeu Guedes.

Em maio, o ministro perdeu o controle na Comissão Especial da reforma da Previdência. Guedes reagiu ao ser emparedado por opositores que o questionavam sobre investimentos com recursos de fundos de pensão sob sua gestão. “Depois de seis horas (da tarde), a baixaria começa. É o padrão da Casa, ofensa, ataque”, disparou. “Se eu ‘googlar’ dinheiro na cueca vai aparecer coisa”, disparou, em referência ao episódio em que um assessor do petista José Guimarães foi pego com dólares na cueca.