Título: Conservadorismo prejudica Serra
Autor: Lyra, Paulo de Tarso
Fonte: Correio Braziliense, 19/10/2012, Política, p. 6

PSDB luta para trabalhar a imagem do candidato, desgastada após as insistentes críticas ao kit gay produzido pelo Ministério da Educação na gestão de Haddad. Tucano aposta nos debates para reverter a desvantagem nas pesquisas

A nove dias do segundo turno das eleições municipais de São Paulo, o comando de campanha do candidato do PSDB à prefeitura, José Serra, luta para afastar a pecha de conservador colada graças ao debate em torno do kit gay produzido pelo Ministério da Educação em 2009. Até mesmo o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, em conversa com interlocutores do partido, demonstrou desconforto com o que chamou de "flerte de Serra com o conservadorismo". Para aliados de Serra, FHC fala de algo que não sabe. "Nenhum material nosso tem esse viés", esquivou-se o coordenador da campanha tucana, deputado estadual Edson Aparecido, que pretende chamar FHC para participar de algum ato de campanha nessa reta final.

O debate transformou-se, neste segundo turno, na âncora que segurou a candidatura de José Serra. Os tucanos já comemoravam, ao término do primeiro turno, terem conseguido amenizar o desgaste diante da renúncia à prefeitura, em 2006, para concorrer ao governo de São Paulo. Tanto que Serra teve mais votos que Fernando Haddad (PT) em 7 de outubro.

Mas o apoio do pastor Silas Malafaia, que declarou voto no candidato do PSDB por causa do "kit gay do Haddad", fez novamente a campanha patinar. Tanto que, nos 11 dias que se seguiram ao primeiro turno, o candidato do PT subiu 21 pontos percentuais e Serra, apenas três. "Não dá para ligar uma coisa a outra. O Malafaia deu uma declaração de apoio individual, como cidadão. Não dá para atrelar isso a uma estratégia de campanha", desconversou o coordenador de Mobilização do PSDB, deputado Walter Feldman (PSDB-SP).

Para um dos responsáveis pela campanha de Haddad, deputado Paulo Teixeira (PT-SP), o discurso agressivo do tucano foi preponderante para que o candidato do PT disparasse nas pesquisas de intenção de voto. "O Serra tentou reproduzir nas eleições municipais um discurso pesado que teve algum efeito na campanha presidencial de 2010", declarou Teixeira.

O petista foi além e afirmou acreditar que o ataque exagerado a Haddad assustou até mesmo os evangélicos. "O discurso de Serra é muito acima do tom e não combina com uma cidade como São Paulo, tão plural e que busca aceitar todas as orientações, credos e posições políticas", completou o deputado do PT. "O Haddad ganhou um pouco com isso. Mas o Serra perdeu muito. Boa parte dos eleitores dele migrou para a categoria dos indecisos", acrescentou o petista paulistano.

Confronto Daqui até as eleições, também ocorrerão outros dois debates entre Serra e Haddad. O primeiro aconteceu na noite de ontem, na TV Bandeirantes. Aliados e integrantes do staff das duas campanhas passaram o dia de ontem reunindo dados para municiar os candidatos. O PSDB acredita que essa é mais uma oportunidade para mostrar que tem o melhor candidato. "Serra tem obras e projetos em todas as áreas. Ele é um gestor competente que já fez muito por São Paulo", disse Feldmann.

Para Edson Aparecido, não há por que desistir da disputa nesse momento. Além de não acreditar nos números levantados pelas pesquisas de intenção de voto, os tucanos afirmam que as atividades de rua têm sido bastante animadoras. "O Haddad caminha cercado pela militância. Nossas caminhadas têm a presença da população", completou o tucano.

Já Paulo Teixeira argumenta que o PT soube dosar uma campanha propositiva com ataques ao adversário. "Eu diria que é um percentual 70/30, com um terço de críticas ao PSDB e outros dois terços de propostas para cidade. Foi essa credibilidade que fez com que avançássemos. A população aprovou nosso programa", disse o parlamentar.

"O discurso de Serra é muito acima do tom e não combina com uma cidade como São Paulo, tão plural e que busca aceitar todas as orientações, credos e posições políticas" Paulo Teixeira, deputado federal e um dos coordenadores da campanha de Haddad