Título: BC garante que juros não subirão tão cedo
Autor: Cristino, Vânia
Fonte: Correio Braziliense, 19/10/2012, Economia, p. 10

Decisão de dar último corte na taxa Selic provoca críticas de economistas que erraram feio em suas apostas no mercado

Ainterrupção na queda dos juros veio para ficar. Na ata da penúltima reunião do ano do Comitê de Política Monetária (Copom), divulgada ontem, o Banco Central fez questão de deixar bem claro a sua intenção: nada de novas reduções neste ano, com a taxa básica da economia (Selic) permanecendo em 7,25% — o patamar mais baixo da história — durante um bom período. Foi "um último ajuste nas condições monetárias", assegurou o BC, para não deixar dúvidas.

Apesar de transparente, a ata do Copom só fez aumentar a polêmica em torno da política monetária, iniciada depois do corte de 0,25 ponto da Selic na semana passada. Até o último instante, parte do mercado manteve a aposta de que o BC não mexeria mais nos juros, independentemente dos sinais emitidos por alguns de seus diretores. O grupo mais conservador de analistas e de investidores acreditava que o BC daria um peso maior à inflação, que se mantém em um patamar desconfortável — acima de 5% no acumulado de 12 meses. A instituição, porém, preferiu baixar um pouco mais a Selic, sob o argumento de que o custo de vida está sob controle e o momento é de dar estímulos a uma frágil atividade econômica.

Como perdeu as apostas, arcando com pesados prejuízos, esse grupo passou a gritar contra o BC, tentando desqualificar a capacidade do banco de manter a inflação dentro das metas fixadas pelo Conselho Monetário Nacional (CMN), de até 6,5%. O argumento mais usado é de que o BC está agindo politicamente e que não há a menor possibilidade de o país conviver com taxas reais (que descontam a inflação) de 2%. Para os críticos do BC, os juros terão de subir rapidamente assim que a atividade retomar o fôlego.

Essa gritaria provocou contrariedades no governo, em especial na equipe do Banco Central, comandada por Alexandre Tombini. Em resposta, técnicos da equipe econômica asseguraram que o BC está no caminho certo, que a choradeira é de perdedores e que, não fossem as consecutivas baixas da Selic desde agosto do ano passado, quando a taxa estava em 12,5% ao ano, o país teria mergulhado em uma recessão, impondo um custo elevadíssimo à sociedade. Para comprovar isso, basta ver o que está ocorrendo nas nações desenvolvidas, que, mesmo com juros negativos, estão no atoleiro.

"Não vamos nos render a economistas que só estão tentando justificar o injustificável. Eles induziram seus clientes ao erro e, agora, querem pôr a culpa no BC", disse um assessor do Palácio do Planalto. "É preciso deixar claro que o Banco Central não trabalha para o mercado financeiro, mas para o país. E todas as justificativas para as decisões de política monetária têm sido técnicas e transparentes", assinalou. Na ata divulgada ontem, os cinco diretores do BC que votaram pelo último corte da Selic asseguraram que a alta atual da inflação decorre de choque de preços internacionais (commodities), pressão considerada passageira e que não é afetada pela política de juros.

Divergências Os críticos do BC estão se apegando aos três diretores que votaram pela manutenção da Selic em 7,5% — Anthero Meirelles, Carlos Hamilton e Sidnei Marques. Eles justificaram que a recuperação da atividade já está contratada, devido aos consecutivos cortes dos juros, dos gastos maiores do governo e da oferta de crédito. Para os três, é possível que pressões de demanda e de custos possam acelerar a inflação. O economista-chefe do BES Investimento, Jankiel Santos, concorda com eles. Ele observou que a maioria dos membros do Copom ficou mais preocupada em garantir o crescimento econômico do que com o cumprimento das metas de inflação.

"Cinco dos oito diretores ignoraram suas próprias previsões de que a variação do IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo) deverá se manter acima da meta no futuro previsível, mesmo levando em conta a queda potencial de 16,2% das tarifas de energia elétrica no próximo ano", avaliou. Ele acredita que o BC será forçado a elevar a Selic quando se tornar evidente que a recuperação econômica levará a inflação para perto do teto da banda da meta, de 6,5%. "Nós acreditamos que isso ocorrerá mais cedo do que o Copom pensa. Por isso, mantemos nossa previsão de que será necessário um controle mais firme da política monetária em 2013."

Mais otimista, José Francisco de Lima Gonçalves, economista-chefe do Banco Fator, observou que muita gente está esquecendo que o país entrou numa crise em 2008 e que ela ainda não acabou. "Portanto, usar a taxa de juros para deixar a inflação no centro da meta (4,5% ao ano) significaria uma grande frustração em termos de crescimento, além de uma piora considerável nas finanças públicas", ponderou. No seu entender, dada a defasagem da ação de política monetária, de nada adiantaria para a inflação deste ano o BC ter, por exemplo, interrompido a queda dos juros em julho ou agosto. Isso só comprometeria o baixo crescimento previsto para o ano, de 1,6%, com reflexo negativo sobre o nível de emprego, que já está 25% abaixo do resultado de 2011, e nas expectativas de empresários e consumidores.

» Olho no futuro

O Banco Central tem reiteradamente afirmado que não se pode fazer política monetária olhando para a inflação corrente. A perspectiva é o futuro. Além disso, é importante não esquecer que, mesmo com juros mais altos, o custo de vida só ficou abaixo de 5,5% nos anos de 2006, 2007 e 2009. Para Eduardo Velho, economista-chefe da Planner Corretora, na eventual necessidade de um aperto na economia em 2013, o BC lançará mão de instrumentos não convencionais de política monetária (medidas macroprudenciais), como restrições ao crédito.