O globo, n.31536, 10/12/2019. País, p. 09

 

Força Nacional será enviada para área indígena 

10/12/2019

 

 

Após o assassinato de três indígenas guajajaras, o segundo ataque em pouco mais de um mês, o ministro da Justiça e Segurança Pública, Sergio Moro, autorizou o emprego da Força Nacional de Segurança Pública na terra indígena Cana Brava Guajajara, no Maranhão, por 90 dias. A portaria foi assinada no começo da tarde de ontem, e os efeitos da medida começam a valer a partir de hoje.

Os integrantes da Força Nacional devem permanecer na região indígena até 8 de março de 2020. As equipes darão apoio à Fundação Nacional do Índio (Funai) em ações de segurança pública, para garantir a “integridade física e moral dos povos indígenas, dos servidores da Funai e dos não índios”, conforme o texto da portaria.

A Polícia Federal ( PF ) em São Luís informou que um inquérito policial foi instaurado no último sábado para investigar o assassinato dos dois guajajaras e o ferimento a outros dois, em Jenipapo das Vieiras. Policiais federais foram enviados para a região do crime.

De acordo com um comunicado da PF, até a noite de ontem não havia sido encontrado indício de “vínculos entre os crimes e atritos entre indígenas e madeireiros”. Também não havia, até então, relação entre o duplo homicídio e a morte do líder indígena Paulo Paulino Guajajara —assassinado em uma emboscada na Terra Indígena Araribóia, no município maranhense de Bom Jesus das Selvas, no mês passado — e do madeireiro Márcio Greyuke Moreira Pereira, no mesmo local.

BLOQUEIO DE ESTRADA

O atentado a tiros ocorreu no último sábado na BR-226, entre as aldeias Boa Vista e El Betel, em Jenipapo dos Vieiras, cidade a 506 quilômetros de São Luís. Os mortos foram identificadas como caciques Firmino Silvino Guajajara e Raimundo Bernice Guajajara.

Durante o atentado, outros dois indígenas ficaram feridos e, até o início da noite de ontem, eles permaneciam internados. Um dos indígenas foi submetido a uma cirurgia no Hospital Macrorregional de Presidente Dutra. Embora estável, seu estado de saúde é considerado grave, segundo o último boletim divulgado pela Secretaria estadual de Saúde.

Em um vídeo publicado nas redes sociais, um dos índios feridos conta que ele e Firmino seguiam em uma motocicleta quando foram surpreendidos por dois tiros disparados por ocupantes de um veículo branco.

Após a abertura do inquérito pela PF, a Polícia Civil do Maranhão, que também acompanha as investigações, encaminhou um relatório sobre o caso ao órgão. Segundo o superintendente de Polícia Civil do Interior (SPCI), Guilherme Campelo, uma equipe da PF chegou à região de Cana Brava e já trabalha no caso.

— Realizamos os primeiros levantamentos e requisição de perícia, bem como apreensão de uma motocicleta, que estava em um dos locais de crime com um projétil alojado nela e foi recolhida para perícia. Produzimos um relatório e repassamos à PF, que já chegou em Barra do Corda com uma equipe —disse Campelo.

ASSALTOS NA RODOVIA

Coordenador da Funai, Guaraci Mendes levantou a hipótese de que os constantes assaltos no trecho da rodovia federal que corta a área indígena em Jenipapo dos Vieiras podem ter relação com os assassinatos.

Segundo a Funai, os assaltos não são cometidos por indígenas que vivem região, mas eles acabam levando a culpa nesses episódios.

—Pessoas mal-intencionadas se aproveitam da má preservação da BR-226 dentro do território (indígena) para cometer ilícitos. Aproveitam também a falta de policiamento. Então isso (assaltos) acaba se associando à imagem dos indígenas, e por conta disso eles vinham recebendo ameaças —diz Guaraci.

Os corpos foram enterrados ontem em Cana Brava.