O globo, n.31536, 10/12/2019. Economia, p. 17

 

Exportações 

Nem dólar alto deve garantir melhora na balança comercial em 2020

Eliane Oliveira 

Manoel Ventura

João Sorima Neto

Leo Branco 

10/12/2019

 

 

A mudança de patamar do dólar nas últimas semanas, com cotação acima de R$ 4, não será suficiente para melhorar o desempenho das exportações em 2020. A falta de perspectiva quanto a uma melhora na economia argentina, aguerra comercial entre Estados Unidos e China, a tendência de aumento de medidas protecionistas no mundo e o desaquecimento da demanda internacional devem fazer com que as vendas externas cresçam a taxas menores do que as importações, que serão impulsionadas pela recuperação da atividade no Brasil.

Consultorias e instituições ligadas ao comércio exterior estão revendo projeções, com saldos menores do que o resultado esperado para 2019 — um superávit de cerca de US$ 45 bilhões. A pesquisa Focus do Banco Central, que reúne a opinião do mercado financeiro, prevê superávit de US$ 38,9 bilhões no próximo ano, quase US $10 bilhões amenos do que estimava em setembro.

— O câmbio tem um efeito importante, mas eu diria que, nesse patamares atuais, não dá para dizer que vai estimular fortemente as exportações — afirma o economista Silvio Rosa, sócio da Tendências Consultoria.

Ele projeta crescimento de 0,5% das exportações no ano que vem — totalizando US$ 225,3 bilhões — enquanto as importações, que ficariam em US $185,2 bilhões, aumentariam 3%. Comisso, o superávit seria de US$ 40,1 bilhões.

A economista-chefe da XP Investimentos, Zeina Latif, aponta que enquanto o real se desvaloriza, a demanda externa não deve subir, afetando os embarques brasileiros.

—O que o dólar f azé aumentara rentabilidade. Oque poderia ajudar seria um aquecimento do comércio mundial,oque não deve acontecer— diz. — A nossa indústria está defasada, estamos cada vez importando mais. A piora da balança está surpreendendo.

Para Haroldo Ferreira, presidente executivo da Abi calçados, de indústrias calçadistas, a desvalorização do real frente ao dólar nas últimas semanas ainda não foi suficiente para melhorar as projeções para 2020. O motivo: o sobe e desce do câmbio reduza competitividade das indústrias.

— Nossos concorrentes asiáticos controlam o câmbio e conseguem ter previsibilidade em contratos de longo prazo. Nós não — diz Ferreira, para quem um cenário positivo às exportações seria com dólar acima de R$ 4,20.

Em 2019, o volume de calçados exportados deve crescer 2%, num patamar de US$ 950 milhões, oque frustrou a expectativa do setor de superara barreira de US$ 1 bilhão. Na origem do problema está acrise econômica na Argentina, principal destino dos calçados brasileiros. Para 2020, a projeção é de aumento de 3%.

RECEIO DE PROTECIONISMO

O diretor de Desenvolvimento da Confederação Nacional da Indústria (CNI), Carlos Abijaodi, destaca que, com a recuperação da economia, as empresas vão produzir mais para o mercado doméstico, o que elevará as importações:

—Estamos com acordos comerciais que precisam ser internalizados logo, para melhorar a balança comercial. E nos preocupamos com a possibilidade de outros países copiarem os EUA e passarem a adotar medidas protecionistas.

O presidente da Associação do Comércio Exterior do Brasil (AEB), José Augusto de Castro, alerta para o risco de a China se comprometer a comprar mais produtos agropecuários dos americanos como parte da negociação.

— Existe a possibilidade de que uma trégua signifique a redução dos embarques de produtos com oc arneses o japara o mercado chinês—diz.

Algumas empresas, porém, já comemoram. A Globoaves, em Cascavel, no Paraná, prevê impacto positivo em 2020 em razão da alta do dólar e do preço da carne suína. A companhia vende frangos no mercado interno e exporta porcos para Argentina, Hong Kong, Cingapura e Vietnã.

— O preço da tonelada da carne suína praticamente vai dobrar de janeiro passado até janeiro de 2020. A alta do dólar nos ajuda. Já estamos melhorando a projeção de faturamento para o ano que vem. Em 2020, nossa receita total saltará de R$ 1 milhão para R$ 1,2 milhão —diz Roberto Kaefer, presidente da companhia.

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Bolsonaro volta a dizer que Selic pode chegar a 4,5%

10/12/2019

 

 

O presidente Jair Bolsonaro comemorou ontem o efeito da queda da taxa básica de juros na dívida interna. Bolsonaro afirmou que, com a Selic em 5%, o país economizará no ano que vem R$ 97 bilhões, e ressaltou que esse valor poderá ser ainda maior caso o Comitê de Política Monetária do Banco Central (Copom) faça uma nova redução na reunião que ocorre hoje e amanhã.

—Os juros estão em 5%. Vamos supor que seja mantida essa taxa. Isso vai proporcionar economia no ano que vem de R$ 97 bilhões. Em vez de R$ 400 bilhões, vamos gastar R$ 300 bilhões — disse Bolsonaro, em transmissão ao vivo em sua página no Facebook, durante reunião com os ministros Tereza Cristina (Agricultura), Onyx Lorenzoni (Casa Civil) e Marcos Pontes (Ciência e Tecnologia).

Bolsonaro afirmou que “pode ser que” a taxa Selic caia meio ponto percentual eque, com isso, a dívida interna estaria “um pouco equacionada”.

— Se cair mais 0,5 ponto, que pode ser que caia na próxima reunião do Copom, vamos gastar menos com isso. E se nós tivermos uma taxa Selic muito próxima da inflação, basicamente está equacionada a questão da dívida interna. Um pouco equacionada, para evitar que os economistas desçam o cacete em mim.

Semana passada, Bolsonaro já havia afirmado que a Selic deve chegar a 4,5% .

O presidente afirmou ainda que o preço da carne vai diminuir, sem dar prazo para que isso aconteça. Bolsonaro atribuiu a alta a uma entressafra:

— Estou levando pancada sobre o preço da carne. Estamos em uma entressafra, vai diminuir esse preço, pessoal está investindo cada vez mais. Mas não é fácil ser agricultor.

Bolsonaro ainda ironizou pedidos para um controle de preços da carne, dizendo que isso ocorre na Venezuela:

— Alguns falam que tem que ter um tabelamento. Na Venezuela, está tudo tabelado, vai lá comprar carne.