O globo, n.31536, 10/12/2019. Economia, p. 19

 

Guedes quer estabilidade de servidor ligada a avaliação

Renata Vieira 

10/12/2019

 

 

O ministro da Economia, Paulo Guedes, voltou a defender ontem a reforma administrativa, que prevê a reestruturação das carreiras e dos salários dos servidores. Apesar de o presidente Jair Bolsonaro ter empurrado a discussão da proposta para 2020, Guedes indicou que é preciso condicionar a estabilidade do funcionário público a avaliações de seu desempenho pelos cidadãos e por seus pares. Ele também defendeu a introdução de novos critérios de avaliação, como inteligência emocional e produtividade.

Para Guedes, isso mudaria a percepção da opinião pública sobre o servidor que ganha, em média, de três a quatro vezes mais que trabalhadores da iniciativa privada em funções semelhantes sem, na avaliação dele, entregar serviços de qualidade sempre:

—A pessoa entra, fez o concurso, passou, tem um ano de profissão, e já tem essa estabilidade? E se for um mau servidor? E se logo depois de fazer a prova ficar seis anos chegando tarde, saindo cedo, usando justamente dessa indemissibilidade? Já que você não é demissível, pode chegar na hora que quiser, sair na hora que quiser, fazer o que quiser... Nós queremos justamente que a opinião pública respeite a valorização do servidor. Não basta fazer o concurso. Será que ele tem inteligência emocional para trabalhar aqui? Será que é um bom servidor mesmo, está disposto a se sacrificar, fazer uma tarefa extra, passar um sábado e domingo (trabalhando), será que ele realmente atende a população bem, realmente passou no teste?

O ministro sugeriu ainda que o desempenho de novos servidores seja avaliado pelos colegas com mais tempo na carreira e, principalmente, pelos cidadãos. E descreveu um teste simples que, na opinião dele, poderia ser implementado.

Em um encontro de dirigentes da Secretaria Especial de Previdência e Trabalho, na sede do INSS, em Brasília, Guedes afirmou que o processo de mudança do sistema brasileiro de aposentadorias não se esgota com a reforma da Previdência, promulgada em novembro. Ele disse que o governo espera que a Câmara dos Deputados inclua estados e municípios nas novas regras da aposentadoria. A proposta consta da chamada PEC Paralela, proposta de emenda à Constituição já aprovada pelo Senado.

‘BOMBAS-RELÓGIO’

Guedes disse ainda que o sistema de repartição, que rege a Previdência no país, tende ao desequilíbrio por causa da demografia, já que haverá cada vez menos trabalhadores na ativa financiando os benefícios dos aposentados:

— O sistema de repartição tem algumas bombas-relógio. A primeira é a demográfica. Quando eu era jovem e entrei no mercado de trabalho, você tinha catorze contribuintes para cada aposentado. Hoje, já são sete para cada aposentado. Daqui a 20, 30 anos, serão dois para cada aposentado. Significa que o sistema não resiste.

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Projeção de crescimento do PIB em 2019 volta a superar 1% no Focus 

Gabriel Martins 

10/12/2019

 

 

Com maior otimismo sobre o desempenho da economia neste fim de ano, as projeções decrescimento do Produto Interno Bruto( PIB) em 2019 seguem sendo revisadas para cima. No mais recente Boletim Focus, divulgado ontem pelo Banco Central, a média das projeções ficou em 1,1%, acimado 0,99% registradona semana passada.

As projeções para a alta do PIB em 2020 também estão mais positivas. A média dos economistas do mercado ouvidos subiu de 2,22% para 2,24% em uma semana.

Em 2018, segundo o IBGE, o PIB cresceu 1,3%. Desde junho as estimativas do Focus para este ano estavam abaixo de 1%. Entre outros fatores, contribuiu para a melhora a alta de 0,6% do PIB no terceiro trimestre deste ano, divulgada pelo IBGE na semana passada, superando expectativas do mercado, que apostava em algo em torno de 0,4%.

—A economia do Brasil ainda está em um quadro de recuperação modesto. Dependendo do quarto trimestre, que teve impacto dos saques do FGTS, 2019 pode fechar com o PIB crescendo entre 1,1% e 1,2%. Repetir o 1,3% do ano passado talvez seja ambicioso — avalia Alberto Ramos, economista-chefe para a América

Latina do Goldman Sachs.

— A composição do crescimento do PIB é boa, com forte influência de investimento privado e do consumo.

Na pesquisa Focus, a expectativa dos analistas é que o dólar feche o ano custando R$ 4,15 e caia a R$ 4 no fim de 2020. A moeda americana fechou ontem a R$ 4,13, com queda de 0,4%. A Bolsa recuou 0,13%, a 110.977 pontos.