Valor econômico, v.19, n.4701, 01/03/2019. Política, p. A11

 

"Presidente é  o único responsávelo por tudo", diz ministro 

Andrea Jubé 

Carla Araújo 

01/03/2019

 

 

O presidente Jair Bolsonaro será mais do que um garoto-propaganda da campanha pela aprovação da reforma da Previdência, que já entrou no ar no rádio, na televisão e nas redes sociais. Ele empenhou o seu capital político para convencer a população da necessidade de aprovação da matéria. "Não tem jeito, ele é o único responsável por tudo. Como a gente diz, militarmente, por tudo o que aconteça ou deixe de acontecer", disse ao Valor o ministro da Secretaria de Governo, Carlos Alberto dos Santos Cruz. "Essa é a responsabilidade dele, esse é o preço", reforçou.

O ministro esclarece que Bolsonaro aparecerá em "momentos-chave" da campanha, como fez ao entregar pessoalmente a proposta no Congresso e ao defendê-la em rede nacional de rádio e televisão. O ministro disse que o presidente vai manter as contas pessoais nas redes sociais, mas criticou a "guerra no Twitter" no episódio da demissão de Gustavo Bebianno.

Santos Cruz, que responde pela área de comunicação social do governo - e especificamente, pela campanha publicitária da reforma da Previdência - sabe que os parlamentares pressionam para que Bolsonaro dirija-se diretamente aos brasileiros, em novos pronunciamentos e mesmo nas peças publicitárias, para esclarecer a necessidade de aprovação da reforma, e os riscos ao equilíbrio fiscal caso ela não seja aprovada.

Ele esclarece, porém, que não há previsão de que neste começo da campanha, que está sendo executada pela agência Artplan S/A, Bolsonaro protagonize os filmes publicitários. No entanto, ressalta que enquanto apenas o ministro da Justiça, Sergio Moro, foi ao Congresso entregar o pacote de projetos anticrime, o presidente fez questão de ir pessoalmente apresentar a proposta de reforma das regras da aposentadoria ao presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ). "Não foi só o [Paulo] Guedes, o presidente Bolsonaro colocou a imagem dele direto no projeto", observou.

O ministro reconhece o peso da imagem presidencial no convencimento da população. Relembra que na campanha eleitoral, Bolsonaro teve a capacidade de transformar "os brasileiros em 55 milhões de marqueteiros". Quando a liturgia do cargo se impor, Bolsonaro evitará a espontaneidade que é característica de sua personalidade, para se proteger na segurança do Teleprompter - recurso que utilizou no pronunciamento oficial aos brasileiros no dia de apresentação da reforma ao Congresso. "Ele está tratando de um assunto que afeta 100% dos brasileiros, não está na torcida do Palmeiras. Ele é espontâneo, mas no momento de anunciar a entrega de uma proposta como essa, ele sentiu que precisava fazer aquilo de maneira formal, qualquer comentário ali poderia despertar mil conjecturas", argumentou.

O ministério ainda não contabilizou o valor da campanha publicitária, porque, segundo o ministro, não é possível prever até quando ela vai se prolongar, já que depende da tramitação da proposta nas duas Casas legislativas. A Secretaria de Comunicação Social (Secom) tem um orçamento de R$ 150 milhões para este ano, bem abaixo dos R$ 315 milhões que havia em 2018, mas é possível que outras pastas - principalmente a Economia - invistam um pouco mais de recursos do Orçamento na propaganda da Nova Previdência.

A campanha publicitária, com o slogan "Nova Previdência. É para todos. É melhor para o Brasil", está no ar desde o dia 20, justamente quando Bolsonaro levou o texto da proposta ao Congresso. As peças serão suspensas no Carnaval, mas nesta primeira fase devem seguir até o dia 20 de março. A campanha tenta reforçar a imagem de que "quem ganha menos, vai pagar menos. E quem ganha mais vai pagar mais".

O ministro diz que o presidente vai manter as suas contas pessoais nas redes sociais, independente das contas oficiais da Presidência da República. Apesar disso, ele rechaça as críticas de que Bolsonaro não desceu do palanque. "Ele tem uma personalidade, não pode de repente passar a ter uma postura muito diferente só porque foi eleito, ele está mantendo coerência com o que propôs na campanha e o que está fazendo agora", argumentou. Santos Cruz lembra que outros presidentes já foram acusados de estelionato eleitoral, e Bolsonaro não se enquadrará nisso, e vai manter a comunicação direta com o eleitorado.

O episódio em que Carlos Bolsonaro, filho do presidente, chamou de "mentiroso" o ex-ministro da Secretaria-Geral, Gustavo Bebianno, pelas redes sociais, é visto como "passado" pelo ministro. Ele atribui o ocorrido ao fato de que Bolsonaro estava sem a devida orientação por estar internado no hospital, apenas com a presença da família. "Não dava para ele estar no hospital e a gente assessorando daqui. Quem estava com ele dentro do quarto era a família. O apoio dele ali é só a família, não tem ministro", disse.

"Ali foi um momento muito especial pela situação em que ele estava, confinado num quarto numa recuperação complicadíssima, onde realmente o amparo é na família", ponderou. "Mas aqui ele chama todo mundo, a gente desce ali [no gabinete], ele fala o que ele quer, você dá a opinião que quer, tá todo mundo aqui cara a cara", completou.

Santos Cruz, que tem proximidade com a família do presidente, evita falar sobre críticas que foram feitas ao comportamento de Carlos no episódio, mas admite que "não é tão fácil e nem tão simples sugerir determinadas coisas" ao presidente. O núcleo militar do governo tentou atuar como uma espécie de poder moderador na crise e convencer o presidente a afastar o filho de polêmicas.

Ele ressalva, todavia, que o episódio tumultuou a articulação que estava em construção em torno da reforma da Previdência e do pacote anticorrupção de Sergio Moro. "A gente estava querendo desencadear a Previdência, desencadear o pacote anticrime, tocar o governo pra frente, e no entanto, estávamos estacionados numa guerra de Twitter", lamentou.

No plano institucional, o ministro diz que a função do porta-voz, assumida pelo general Otávio do Rêgo Barros, tem ajudado a modular a comunicação do presidente e do governo. Ele tem livre-trânsito nos gabinetes, tanto no presidencial como nos da Esplanada. "O porta-voz está ligado diretamente ao presidente, está ali do lado, participa muito do dia a dia do presidente para poder falar por ele, esse é um aspecto", afirmou. "O outro é que ele tem que estar por dentro de todos os assuntos de governo, então ele tem uma ligação direta com o presidente e comigo em assuntos de governo", concluiu.