Título: Onda de pessimismo nas bolsas
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Fonte: Correio Braziliense, 20/10/2012, Economia, p. 18

Reunião de cúpula europeia não consegue definir plano de supervisão bancária na Zona do Euro e mercados desabam. Balanços ruins nos EUA também contribuem para a queda

Resultados trimestrais fracos de grandes companhias norte-americanas e decepção dos investidores com a falta de avanços mais consistentes dos líderes europeus no combate à crise da Zona do Euro provocaram uma onda de baixas, ontem, nos mercados acionários ao redor do mundo. A Bolsa de Valores de São Paulo teve a pior queda diária em três semanas, recuou 1,36% e perdeu o nível de sustentação de 59 mil pontos do Ibovespa, índice que mede a variação das principais ações do pregão. O indicador fechou em 58.922 pontos, acumulando queda de 0,4% na semana e de 0,43% no mês. No ano, ainda mostra valorização de 3,82%.

“A bolsa acompanhou o clima cauteloso do exterior”, disse o economista Sílvio Campos, da Tendências Consultoria. Nos Estados Unidos, os balanços das gigantes norte-americanas General Electric e McDonald’s vieram com lucros abaixo do previsto, acentuando o cenário negativo que já tinha sido instaurado na quinta-feira com os dados também decepcionantes da Microsoft e do Google. O Dow Jones, principal índice da Bolsa de Nova York, fechou em baixa de 1,52% — a pior em quatro meses. Desempenho ainda mais fraco tiveram o indicador S&P 500, que acompanha a variação dos papéis das maiores companhias, com queda de 1,66%, e a bolsa de tecnologia Nasdaq, que desabou 2,19%.

Na Europa, os investidores também mostraram pouco apetite por aplicações de risco, principalmente por causa dos resultados modestos alcançados nos dois dias do encontro de cúpula dos dirigentes da União Europeia, em Bruxelas, e dos contínuos sinais de divergência entre França e Alemanha sobre como socorrer os bancos endividados da região.

Crescimento Os chefes de Estado e de governo concordaram que um único supervisor — o Banco Central Europeu (BCE) — deverá ser responsável por inspecionar as instituições financeiras da Zona do Euro a partir do ano que vem. Mas, diante da resistência da chanceler alemã, Angela Merkel, os detalhes sobre o número de bancos a serem monitorados e os poderes do BCE ficarão para mais tarde. “Houve um bom acordo sobre o cronograma e sobre os bancos como um todo”, contemporizou o presidente francês, François Hollande.

Os líderes também reafirmaram decisões da cúpula de junho passado e se comprometeram a acelerar medidas para incentivar o crescimento e o emprego na região. Entre elas, a injeção de 10 bilhões de euros no Banco Europeu de Investimentos, elevando sua capacidade de empréstimo a 60 bilhões. Com isso, espera-se que, nos próximos três anos, sejam investidos 180 bilhões de euros.

As bolsas europeias, porém, reagiram com ceticismo. O índice FTSEurofirst 300, que reúne as principais ações do continente, fechou em baixa de 0,83%, e o indicador do setor financeiro — o STOXX Europe 600 — caiu 2,39%. As ações de bancos sofreram fortes perdas, principalmente os espanhóis, que estão à espera de um socorro bilionário da Zona do Euro para continuarem de pé. Os papéis do Bankia recuaram quase 14%, e os do Banco Popular, 5,3%.

Sem um programa mais claro de ajuda ao setor bancário no horizonte, o gerente de portfólio na Tiverton Trading, em Mônaco, Luc Bocahut, avaliou que as ações podem recuar ainda mais. “Eu seria muito cauteloso aqui. Eles (líderes da região) realmente não fizeram muito progresso”, disse. Ontem, as perdas mais intensas ocorrem nas bolsas dos países mais fragilizados pela crise. Em Madri, o pregão teve baixa de 2,31%, e, em Milão, a queda chegou a 2%. As bolsas de Paris (-0,87%) e Frankfurt (-0,76%) também registraram baixas expressivas.

Pedido de socorro A região das Ilhas Baleares vai solicitar ao governo espanhol uma ajuda de 355 milhões de euros para equilibrar suas contas. O anúncio foi feito pelo vice-presidente de Economia da região, Josep Ignasi Aguiló. Com isso, já são seis as comunidades autônomas espanholas que pediram socorro a Madri. A lista inclui a Catalunha (5 bilhões de euros), Comunidade Valenciana (3,5 bilhões), Múrcia (641 milhões), Castela-La Mancha (848 milhões) e Ilhas Canárias (756,8 milhões). Os recursos para ajudar as regiões provêm do Fundo de Liquidez Autônomo (FLA), que dispõe de 18 bilhões de euros para ajudar os governos regionais da Espanha em condições mais vantajosas do que as oferecidas em operações normais de mercado. O desequilíbrio financeiro das comunidades autônomas é um dos principais problemas do país.