Valor econômico, v.19, n.4701, 01/03/2019. Empresas, p. B2

 

Petrobras se prepara para megaleilão 

André Ramalho

Rodrigo Polito 

01/03/2019

 

 

A Petrobras pretende usar os bilhões de reais que receberá com a renegociação do acordo da cessão onerosa para comprar novos ativos no leilão dos excedentes da cessão onerosa. O presidente da companhia, Roberto Castello Branco, disse ontem que não conta com os recursos para desalavancar a empresa e que a petroleira reduzirá suas dívidas com base, sobretudo, num programa "mais agressivo" de desinvestimentos. Nesse sentido, o principal trunfo está no plano de venda das refinarias, cujo modelo de negócios deve ser definido em três meses.

Castello Branco anunciou ontem que espera alcançar um nível de endividamento ideal em até três anos. De acordo com ele, a petroleira buscará a redução de sua alavancagem, medida pela relação entre dívida bruta/Ebitda (lucros antes de juros, impostos, depreciação e amortização), para patamares entre 1 vez e 1,5 vez. A estatal encerrou 2018 com a relação dívida bruta/Ebitda em 2,7 vezes.

"Vamos nos esforçar, tomar todas as medidas, desenvolver iniciativas para que finalmente nós consigamos uma situação estável, tendo endividamento baixo e remunerando justamente o capital dos nossos acionistas. Estimamos que é possível fazer isso em dois a três anos", afirmou o executivo, durante coletiva de imprensa.

As gestões passadas da Petrobras trabalhavam com um conceito de alavancagem diferente, medido pela relação dívida líquida/Ebitda. Em 2018, a estatal fechou o ano com uma alavancagem de 2,34 vezes, patamar abaixo da meta de 2,5 vezes - redução possível graças ao aumento, acima do esperado, dos preços internacionais do petróleo, o que ajudou a compensar o fato de a empresa ter atingido menos de 40% da meta de venda de ativos, de US$ 21 bilhões para o biênio 2017-2018.

Castello Branco destacou que a estratégia de desalavancagem da empresa, para os próximos anos, será baseada em três pilares: desinvestimentos, corte de custos e aumento da produção. Além disso, ele afirmou que a Petrobras pretende reduzir sua posição de caixa dos atuais US$ 14 bilhões para US$ 10 bilhões.

"A cessão onerosa, o que viermos a obter de indenização, na revisão do contrato, não está nos nossos planos de desalavancagem. Não estamos contando com recursos da cessão onerosa para desalavancar a companhia... Nosso maior interesse é realmente participar do leilão [dos excedentes] e termos oportunidade para no futuro expandirmos a produção", disse.

Ontem, o Conselho Nacional de Política Energética (CNPE) definiu que o leilão será realizado no dia 28 de outubro. Pelas regras, os vencedores deverão pagar à Petrobras uma compensação pelos investimentos realizados pela estatal na descoberta dos volumes excedentes - reservas que ultrapassam os 5 bilhões de barris aos quais a estatal tem direito de produzir no pré-sal, como parte do contrato da cessão onerosa, de 2010, que permitiu à União aumentar sua fatia no capital da petroleira.

Ao ser questionado se a Petrobras pretende aumentar a meta de venda de ativos, hoje da ordem de US$ 26,9 bilhões até 2023, Castello Branco disse que, ao prometer um programa de desinvestimentos "mais agressivo", quis dizer que a ideia é tentar desinvestir mais rápido e mais ativos, mas que não possui estimativas do que pode arrecadar com isso. "Quem vai determinar os valores de desinvestimentos é o mercado", disse.

O principal trunfo do programa de desinvestimentos será a venda de refinarias. Ele afirmou que o modelo de negócios ainda está sendo estruturado, mas antecipou que a petroleira não pretende manter participações minoritárias nas unidades que forem incluídas no plano. "Se vendermos uma refinaria, queremos vender 100% dela", afirmou.

Ele também disse que a empresa quer aumentar o número de potenciais compradores. O projeto original de desinvestimentos, anunciado ainda na gestão Pedro Parente, em abril de 2018, previa a venda de 60% de dois polos de refino, um no Sul e outro no Nordeste, e vetava a participação de empresas que tenham como principal atividade a comercialização global de petróleo e derivados de terceiros, conhecidas como tradings.

"O modelo do ano passado, nós não concordamos [com ele], até mesmo porque exclui compradores. Nós não queremos excluir ninguém. Então, está fora de questão. O modelo será outro", afirmou o executivo.

Ele reiterou que a estatal detém 98% da capacidade de refino do país, mas que vê espaço para reduzir essa fatia para cerca de 50%. Pelo plano de desinvestimentos anunciado no ano passado, a fatia de mercado da estatal seria reduzido para 60% da capacidade.

Além do refino, Castello Branco disse que a venda da Transportadora Associada de Gás (TAG), avaliada no mercado em cerca de US$ 8 bilhões, deve ser concluída no curto prazo. O diretor financeiro e de relações com investidores da Petrobras, Rafael Grisolia, disse, ainda, que as termelétricas deverão entrar no programa de desinvestimentos da companhia e que a empresa também quer aumentar desinvestimentos de campos terrestres e em águas rasas.