Correio braziliense, n. 20492, 29/06/2019. Política, p. 3

 

Bolsonaro reforça aproximação com Trump

Leonardo Cavalcanti

29/06/2019

 

 

Osaka (Japão) — Em mais um lance de alinhamento com os Estados Unidos, o presidente Jair Bolsonaro se encontrou, ontem, com o norte-americano Donald Trump durante a cúpula de líderes do G20. “Somos países que, juntos, podem fazer muito pelos seus povos, de modo que possamos fazer parcerias e desenvolver o nosso país”, disse o brasileiro.
Trump, por sua vez, afirmou que Bolsonaro é um “homem especial” e querido pelo povo brasileiro. “O relacionamento entre Brasil e Estados Unidos nunca esteve nesse porte.” Segundo o norte-americano, o Brasil tem todas as riquezas. “É um país fantástico, de pessoas incríveis. E temos um grande comércio.” O encontro entre os dois ocorreu na tarde desta sexta (madrugada no Brasil).
Bolsonaro, assim como no primeiro encontro entre os dois na Casa Branca, em maio, frisou que torce pela reeleição do colega em novembro de 2020. “Espero que nos visite antes das eleições. É motivo de orgulho, para mostrar ao mundo que a política do Brasil mudou de verdade.” O chefe do Planalto disse que sempre admirou Trump.
O pano de fundo da cúpula do G20 é a disputa comercial entre chineses e norte-americanos, com denúncias de espionagem e “terrorismo econômico”. Há expectativa de um encontro entre Trump e Xi Jinping, presidente da República Popular da China. A agenda entre Bolsonaro e o chinês está prevista para ocorrer neste sábado.
“Parece que tem um rumor de que eu vou me encontrar com Xi Jinping. Acho que vai ser produtiva a reunião”, destacou Trump na conversa com Bolsonaro. No Brasil, enquanto parte do governo defende ampliar exportações para a China, outro grupo, ligado ao guru Olavo de Carvalho, rejeita relações com o país asiático. Um dos defensores dos negócios com a China é o vice-presidente Hamilton Mourão.
A Venezuela também foi tema da rápida conversa entre Trump e Bolsonaro. “Estamos de acordo em libertar a Venezuela. Estamos prestando ajuda, mandando comida”, disse o norte-americano. No fim do dia, o porta-voz da Presidência, general Otavio do Rêgo Barros, afirmou que se estudam medidas de pressão para países que apoiem o governo venezuelano de Nicolás Maduro. O militar não detalhou que medidas seriam essas. “Estamos falando em tese.”
Macron
Vinte e quatro horas depois de ser criticado pela chanceler alemã Angela Merkel e pelo presidente francês Emmanuel Macron, Bolsonaro se encontrou com os dois líderes europeus. No encontro com o francês, os temas giraram em torno do acordo União Europeia e Mercosul, fronteiras e questões climáticas. Segundo Rêgo Barros, o clima do encontro foi tranquilo. O dirigente europeu havia dito, um dia antes, que não assinaria um acordo com o Mercosul se Bolsonaro concretizasse a intenção de retirar o Brasil do Acordo de Paris sobre o clima. Merkel, por sua vez, havia afirmado que queria uma conversa clara sobre o desmatamento no Brasil e foi duramente rebatida por integrantes da comitiva brasileira e pelo próprio Bolsonaro.
Diplomacia
O presidente Jair Bolsonaro disse que pode ser possível uma visita do presidente norte-americano, Donald Trump, à América do Sul. “Graças 
a Deus, a América Latina está deixando de ser de esquerda para ser de centro-direita e até mesmo de direita.” Ele defendeu sanções contra a Venezuela e parceiros que ajudem os regimes. “Se dependesse de mim, 
isso seria feito.” Sobre a China — ontem estava previsto um encontro 
com o presidente Xi Jinping —, afirmou ter as melhores expectativas.

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Presidente comemora

29/06/2019

 

 

 

 

Em Osaka, o presidente Jair Bolsonaro comemorou o acordo do Mercosul com a União Europeia. “Histórico! Esse será um dos acordos comerciais mais importantes de todos os tempos e trará benefícios enormes para nossa economia”, disse ele, pelo Twitter, logo cedo. Em entrevista coletiva, nas instalações do G20, elogiou os ministros que participaram diretamente das negociações: Ernesto Araújo (Relações Exteriores), Paulo Guedes (Economia) e Tereza Cristina (Agricultura). Ele também enalteceu a atuação do ministro da Casa Civil, Onyx Lorenzoni, principalmente nas negociações para produtos como vinhos e derivados do leite.
“Prometi que faria comércio com todo o mundo, sem viés ideológico. Não foi retórica vazia de campanha, típica da velha política. É pra valer! Estou cumprindo mais essa promessa, que renderá frutos num futuro próximo”, disse Bolsonaro.
O presidente fez referências — tanto nas redes sociais como com jornalistas — às conversas ocorridas com a chanceler alemã, Angela Merkel, e com o presidente francês Emmanuel Macron ao longo dos dois dias de reuniões no país asiático. A cúpula do G20 terminou na madrugada de ontem.
Bolsonaro havia sido cobrado, pelos dois chefes de Estado, sobre a política ambiental brasileira e a permanência no Acordo de Paris — que trata de compromissos dos países em relação às mudanças climáticas e que foi assinado em 2015. “Merkel chegou a arregalar os olhos, mas de maneira cordial, mostramos que o Brasil mudou o governo e assim vai ser respeitado. Falei para ela também da psicose ambientalista”, disse. “No caso do Macron, eu o convidei para conhecer a Amazônia e ver que não existe esse desmatamento tão propalado.” 
No encontro com o francês, porém, Bolsonaro reiterou o compromisso de o Brasil permanecer no Acordo de Paris. Macron havia vinculado as negociações de livre-comércio da União Europeia com o Mercosul à permanência do Brasil no acordo sobre o clima. (LC)