Correio braziliense, n. 20492, 29/06/2019. Política, p. 4

 

Manifestações de volta às ruas

Rodolfo Costa

29/06/2019

 

 

Movimentos favoráveis ao governo do presidente Jair Bolsonaro voltarão às ruas amanhã e prometem fazer manifestações em cerca de 150 cidades. A promessa das lideranças é apoiar pautas consideradas de interesse do país. Entre elas, estão a defesa do ministro da Justiça e Segurança Pública, Sérgio Moro, e da Operação Lava-Jato, e o apoio à reforma da Previdência, com a inclusão de estados e municípios.

Diferentemente do que ocorreu em 26 de maio, os atos de amanhã contarão com a presença do Movimento Brasil Livre (MBL) e do Movimento Vem pra Rua. Líderes dos dois grupos explicam que a agenda, agora, não é uma defesa enfática do presidente da República. “O que aconteceu na última manifestação é que não houve consenso. Sentimos que não tinha muito a ver com o apartidarismo que pregamos. Era mais um apoio à figura de Bolsonaro. Agora, a pauta é a defesa de ideias que apoiamos”, explicou a líder nacional e porta-voz do Vem pra Rua, Adelaide Oliveira.

Os movimentos prometem cobrar a inclusão dos estados e municípios na reforma da Previdência. O assunto foi debatido entre o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), líderes partidários e governadores na última semana, mas não houve acordo. O tema voltará a ser discutido na terça-feira, e a expectativa dos grupos de rua é que a manifestação favoreça a inclusão dos entes federados no parecer final do relator, Samuel Moreira (PSDB-SP). “Estaremos nas ruas gritando que queremos os estados e municípios na reforma. Vamos cobrar a reforma de R$ 1 trilhão”, sustentou Adelaide.

Cobrança

Ao contrário do que ocorreu na última manifestação, em que Maia e o Centrão foram colocados como vilões, a ponto de terem criado uma versão “pixuleco” do demista, o momento é de não agressão à figura do Parlamento. “Vamos pôr a boca no trombone e dar nomes aos bois. Sabemos que a reforma está nas mãos do Maia. Ele controla o Congresso e tem poder para votá-la. O que o governo podia fazer, já fez. Então, faremos muito mais uma cobrança do que crítica ao Maia. Vamos pressionar outros, individualmente, como Arthur Lira (PP-AL), Wellington Roberto (PL-PB) e Paulinho da Força (Solidariedade-SP), mas não o Congresso”, explicou Adelaide.

No Distrito Federal, a manifestação será na Esplanada dos Ministérios. Mas o palco principal será a Avenida Paulista, em São Paulo. O Vem pra Rua estará em frente à sede da Federação das Indústrias (Fiesp). O MBL montará estrutura em frente ao Museu de Arte de São Paulo (Masp). O Nas Ruas estará na divisa entre a rua Peixoto Gomide e a Paulista, com um grande telão e um boneco inflável de Moro de 12 metros. A previsão é que 10 caminhões sejam usados na manifestação.

O apoio a Moro e à Lava-Jato estará nas palavras de ordem dos manifestantes. “O momento político fala por si só mais do que qualquer coisa”, destacou o coordenador nacional do MBL, Renan Santos, ao contextualizar os ataques feitos pela oposição com base em publicações do site The Intercept Brasil, que questionaram a imparcialidade do ministro da Justiça e da força-tarefa da Lava-Jato.

Adesão

A expectativa é que manifestação semelhante, com a presença dos principais movimentos, ocorram em agosto, quando o Supremo Tribunal Federal (STF) deve julgar a suspeição de Moro. “As pautas estão claras e, se nos sentirmos ameaçados, outros atos virão para defender o país, de forma ordeira e responsável”, afirmou o porta-voz do Nas Ruas, Tomé Abduch.

A deputada Carla Zambelli (PSL-SP), fundadora do Nas Ruas, prevê grande adesão em todo o país, mas em nível menor do que no último protesto. Na Paulista, são esperadas 200 mil pessoas. Ela pondera que o momento ideal para arrastar multidões foi no último domingo, com as reportagens publicadas pelo The Intercept. “Pesa, também, ser o primeiro domingo das férias de julho. Mas estamos confiantes”, ponderou.

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Moro se diz vítima de revanchismo

 

 

 

 

 

29/06/2019

 

 


O ministro da Justiça e Segurança Pública, Sergio Moro, associou ontem a divulgação de mensagens atribuídas a ele e a procuradores federais de Curitiba que mostrariam uma suposta parcialidade na atuação dele como juiz a um revanchismo contra a Operação Lava-jato. “Nas últimas três semanas, uma história longa, conhecida, tenho sofrido vários ataques. Achei que a Lava -Jato tivesse ficado para trás, estamos em uma nova fase. Mas há um certo revanchismo que às vezes reaparece”, disse Moro.
O ministro foi condecorado, no Palácio dos Bandeirantes, pelo governador de São Paulo, João Doria (PSDB), com a medalha Ordem do Ipiranga, no grau grã-cruz, o mais alto na escala da homenagem. No evento, Dória enalteceu o trabalho de Moro como juiz federal. “Se não fosse este homem, liderando um grupo de patriotas, não teríamos investigado e punido o maior esquema de corrupção da história”, disse o governador.
No momento em que a Lava- Jato sofre pressão por causa do vazamento de conversas atribuídas a membros da operação e o ex-juiz, Doria ressaltou que a força-tarefa “sempre teve e continuará tendo nosso apoio”. O governador alfinetou ainda o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), preso em Curitiba desde abril de 2018. De acordo com ele, o Brasil precisa de “mais Moros e menos Lulas”. “Não podemos aceitar ou admitir a tentativa de fazer o Brasil retroceder”, afirmou.
Moro voltou a dizer que as mensagens divulgadas pelo site The Intecept Brasil “não têm demonstração de autenticidade” e voltou a afirmar que as “invasões criminosas” de celulares estão sendo investigadas. “A Polícia Federal deve chegar aos responsáveis”, disse. O ministro agradeceu também o apoio que recebeu do presidente Jair Bolsonaro, destacou a Lava-jato como uma “vitória das instituições” e classificou como “caminho sem volta” a entrada na vida política, ao assumir o Ministério da Justiça. “O plano é consolidar os avanços contra a corrupção. Avançar no enfrentamento do crime organizado e combater o crime violento”, afirmou.
Investigação contra Flávio prossegue