O Estado de São Paulo, n. 45990, 17/09/2019. Política, p. A8

 

PSL -RJ desembarca da base de Witzel

Caio Sartori

Fabio Grellet

17/09/2019

 

 

Decisão da sigla, a maior bancada na Assembleia, foi tomada após governador criticar Bolsonaro e citar plano de concorrer à Presidência

‘Pré-candidato’. Witzel disse em entrevista que é um ‘governador querendo ser presidente’

Maior partido da Assembleia Legislativa do Rio com 12 deputados, o PSL anunciou ontem o desembarque da base do governo de Wilson Witzel (PSC). A legenda, comandada no Estado pelo senador Flávio Bolsonaro, era a principal sustentação do governador, eleito na esteira do bolsonarismo. A discordância se deu após Witzel fazer críticas ao presidente Jair Bolsonaro em entrevista e reafirmar o desejo de concorrer à Presidência da República.

“Eu sou um governador de Estado querendo ser presidente da República. (...) Tem questões macro que só um presidente pode resolver, e eu tenho projetos para o Brasil”, afirmou à Globonews. O desembarque foi ordenado por Flávio após a entrevista, na qual Witzel também negou que sua vitória eleitoral tenha se dado por causa da onda bolsonarista.

Durante a campanha, Witzel, que concorria em sua primeira disputa eleitoral, não teve o apoio formal de Bolsonaro, mas foi apoiado por seu filho Flávio. Após ser eleito, Witzel agradeceu ao filho do presidente: “Não posso deixar de fazer um agradecimento especial a um querido irmão que me estendeu as mãos e seguiu comigo. É uma pessoa que tem na sua família o DNA da esperança”, disse, em evento na Escola de Magistratura do Rio de Janeiro.

A bancada já vinha insatisfeita com o governador, que há meses tenta se desvencilhar do PSL e marcar posição para uma eventual disputa contra Bolsonaro. Isso se deu tanto na distribuição de cargos no governo quanto na relutância em apoiar a pré-candidatura à Prefeitura do Rio do deputado estadual Rodrigo Amorim, como desejam lideranças do PSL.

Com o desembarque, os parlamentares do partido terão que deixar os cargos que ocupam na gestão Witzel, o que inclui duas secretarias (Ciência e Tecnologia, ocupada por Leonardo Rodrigues, e Vitimização e Amparo à Pessoa com Deficiência, comandada por Major Fabiana) e a vice-liderança do governo na Alerj, atualmente com Alexandre Knoploch – que já criticava o governador, mesmo sendo seu representante na Casa.

A postura de Witzel na eleição de 2020 ainda é uma incógnita. Embora tenha protagonizado embates com Marcelo Crivella (PRB), os dois fizeram as pazes em julho e não está descartado o apoio do governador à campanha à reeleição do prefeito – outra possibilidade é se aliar ao ex-prefeito Eduardo Paes (DEM).

O desembarque foi decidido ontem, após reunião da bancada. Uma nota assinada pelo líder da sigla na Assembleia, Dr. Serginho, diz que a saída se dá “por discordar de posicionamentos políticos do governador. Os 12 deputados do partido reiteram o compromisso com o Estado do Rio.”

Federais. Em Brasília, os deputados federais Carlos Jordy e Luiz Lima, ambos do PSL do Rio, endossaram a decisão. “É triste e lamentável, mas é algo que se tornou insustentável. O governador tinha uma afinidade muito grande conosco, mas vem se mostrando um crítica ferrenho ao governo federal no intuito de desgastá-lo. Isso é desleal”, disse Jordy. Segundo ele, Witzel está “queimando a largada.” Para Lima, a relação começou a ficar estremecida quando o governador escolheu secretários privilegiando escolhas políticas e não técnicas.

Já o deputado federal Daniel Silveira (PSL-RJ) afirmou discordar da decisão da bancada estadual. Para ele, a decisão foi tomada apenas por Flávio e que não teria a concordância do presidente. “Jair não quer o rompimento, mas o Flávio quer romper a bancada estadual. A federal ele não determina isso, quem determina é o Jair.”

Discordância'

“(Desembarque do PSL da base do governo do Rio é ) por discordar de posicionamentos políticos do governador.”

Bancada do PSL do Rio

EM NOTA

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Parlamentares governistas tentam barrar três CPIs

Mariana Haubert

Daniel Weterman

17/09/2019

 

 

Comissões batizadas de ‘Lava Toga’, ‘Vaza Jato’ e ‘Fake News’ se tornaram alvo de deputados e senadores da base

Deputados e senadores governistas se organizaram, nos últimos dias, para barrar a criação de duas comissões parlamentares de inquérito no Congresso. A CPI da Lava Toga no Senado, para investigar a atuação de ministros do Supremo Tribunal Federal, e a da Vaza Jato na Câmara – articulada pela oposição para apurar as conversas entre o então juiz Sérgio Moro e procuradores da Lava Jato – preocupam o Planalto porque há o temor de que as investigações possam respingar no governo e em aliados.

Uma terceira CPI, a das Fake News, já instalada, passou a ser monitorada pela base do governo no Legislativo, tendo à frente o senador Flávio Bolsonaro (PSL-RJ), filho do presidente. No Senado, a tentativa de abrir a investigação contra integrantes do Supremo rachou o PSL. Flávio tentou que os colegas da legenda retirassem o apoio à comissão. Diante da pressão, Juíza Selma (MT) anunciou que vai sair do PSL. O líder do partido no Senado, Major Olímpio (SP), pediu que o próprio Flávio deixe a legenda, como mostrou a Coluna do Estadão.

Olímpio afirmou mais tarde que não sairá do PSL porque foi convencido por pessoas próximas a permanecer no partido. “Vou continuar apoiando o presidente Bolsonaro e as pautas do governo. Não vejo o presidente tomando posição contra a Lava Jato. É uma posição do filho do presidente, que é senador. Mas isso é contraproducente à bandeira do próprio partido”, disse ele ao Estadão/Broadcast.

A senadora Soraya Thronicke (PSL-MS) foi uma das que pediram para Selma e Olímpio continuarem no PSL. E minimizou o movimento de Flávio. “Estou pedindo para todo mundo se perdoar, parar de brigar e esperar a poeira abaixar.” Para ela, Flávio tentou barrar a CPI por entender que a investigação atrapalharia o governo do pai.

Na avaliação da deputada Carla Zambelli (PSL-SP), a CPI vai enfraquecer tanto o Legislativo quanto o Judiciário. “E não vai acontecer o que é preciso, de fato, que é a saída dos ministros.” Para ela, a discussão está concentrada no fato de Flávio ter sido o único senador do PSL a não assinar o pedido de criação da comissão. “Acham que a assinatura do Flávio é a mesma coisa que uma assinatura do presidente Jair Bolsonaro. E não é.”

Já o deputado Coronel Tadeu (PSL-SP) afirmou que, apesar da movimentação interna no partido para esvaziar as duas CPIs, ele vai continuar defendendo a da Lava Toga. “Gerou mesmo um clima desconfortável o Flávio ter sido o único que não apoiou”, admitiu o parlamentar. Para Tadeu, o argumento de que a CPI não terá condições de investigar a fundo a atuação dos ministros do Supremo é um “factoide” para convencer os bolsonaristas a desistirem da CPI. “Vou continuar defendendo porque, caso contrário, perco minha identidade. Tiro uma máscara e coloco outra?”

Em relação à CPI da Vaza Jato, a bancada do PSL é uníssona em defender seu enterro, sob o argumento de que foi proposta pela oposição e tem o objetivo de investigar denúncias de que a força-tarefa da Lava Jato teria cometido irregularidades. Mas há também preocupação de que as investigações possam enfraquecer pilares do governo, como o ministro Sérgio Moro, que foi juiz da operação.

Fake News. O governo tem trabalhado ainda contra a CPI das Fake News, que apura denúncias de utilização das redes para difamar candidatos nas eleições de 2018. Flávio questionou qual seria o fato determinado para a criação da CPI. O presidente da comissão, Angelo Coronel (PSD-BA), argumentou que o objetivo é “investigar ataques cibernéticos que atentam contra a democracia”. Flávio respondeu: “Totalmente amplo, não é?”.

‘Contraproducente’

“Vou continuar apoiando o presidente Bolsonaro e as pautas do governo. Não vejo o presidente tomando posição contra a Lava Jato. É uma posição do filho do presidente, que é senador. Mas isso é contraproducente à bandeira do próprio partido.”

Major Olimpio (SP)

LÍDER DO PSL NO SENADO