Título: Dilma vai a Manaus fustigar inimigo de Lula
Autor: Lyra, Paulo de Tarso
Fonte: Correio Braziliense, 23/10/2012, Política, p. 4

Como a candidata do PCdoB aparece nas pesquisas com poucas chances de se eleger, a presidente da República sobe ao palanque de Vanessa Grazziotin apenas para marcar posição contra o tucano Arthur Virgílio

A presidente Dilma Rousseff esteve na noite de ontem em Manaus para participar do comício da senadora Vanessa Grazziotin, candidata do PCdoB à prefeitura manauara. Mas o próprio PCdoB reconhece que as chances de êxito contra o candidato do PSDB, Arthur Virgílio, são remotas. A mais recente pesquisa de segundo turno mostra o tucano com 61% das intenções de voto, contra 29% de Grazziotin. "Realmente é difícil. O Arthur é um nome consolidado, foi líder e ministro do governo Fernando Henrique Cardoso e tem muita força política no Amazonas", lamentou o presidente nacional do PCdoB, Renato Rabelo.

Mesmo assim, Dilma manteve a viagem para a capital amazonense. Contrariou, inclusive, uma resolução tomada por ela mesma de não subir em palanques "de candidatos que não tivessem se viabilizado politicamente" para disputar o segundo turno. A abertura das urnas em 7 de outubro já havia mostrado a dificuldade de uma reviravolta em Manaus. O tucano venceu por 40,55% a 19,9%.

Mas Dilma foi convencida a ir pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Manaus não está no centro da geopolítica petista. O interesse de Lula é pessoal. Ele está imbuído do desejo de evitar a eleição de Arthur Virgílio. O ex-presidente foi à cidade no primeiro turno para tentar barrar a eleição do tucano. Dilma mudou de ideia após reunir-se com ele em São Paulo, em 9 de outubro.

O ódio de Lula remete à derrota do governo na votação da CPMF — o chamado imposto do cheque —, em 2007. Na época, Arthur Virgílio era líder do PSDB no Senado e articulou, com o líder do DEM, José Agripino (RN) e uma parte da base insatisfeita com o Planalto a derrubada da contribuição sobre movimentação financeira. Em 2010, Lula articulou uma aliança do governo federal com o então governador Eduardo Braga (PMDB) para evitar que o tucano se reelegesse. Conseguiu. Braga teve uma votação maciça para o Senado e a segunda vaga ficou com a própria Vanessa Grazziotin.

A mesma conjunção de forças repetiu-se agora. O governador do Amazonas, Omar Aziz (PSD), apoia Vanessa. Na semana passada, esteve em Brasília para combinar com a presidente investimentos de R$ 476 milhões para obras de infraestrutura rodoviária e construção de sete aeroportos. "Nosso esforço é para mostrar à população que a situação de Manaus ficará mais fácil se houver um alinhamento entre os governos federal, estadual e municipal", completou Renato Rabelo.

Se a situação de Manaus é delicada, os comunistas entusiasmam-se com o segundo turno nas eleições em São Luís. Apadrinhado pelo presidente da Embratur, Flávio Dino (PCdoB), o candidato do PTC, Edvaldo Holanda Júnior, lidera a disputa com 10 pontos percentuais em relação ao atual prefeito, João Castelo (PSDB). Fora das eleições, aliados do presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP), começaram a atacar Edvaldo na tentativa de evitar o fortalecimento de Dino para o governo do estado em 2014.

Mas Dilma sequer cogitou subir no palanque de Edvaldo, em São Luís. Para Rabelo, a posição bem definida da família Sarney dificultou a presença dela na capital maranhense. O resultado, até o momento, mostra o aumento da influência de Flávio Dino no Maranhão. Em 2008, ele disputou o segundo turno contra José Castelo, mas acabou derrotado.

No ano passado, após a queda de Orlando Silva do Ministério do Esporte, o ex-deputado e ex-presidente da Associação dos Juízes Federais (Ajufe) foi cotado para o cargo, porém declinou. Seu plano era deixar a presidência da Embratur em março deste ano para concorrer à prefeitura de São Luís. Mas uma fatalidade pessoal — a morte do filho Marcelo Dino, de 13 anos, em fevereiro — adiou os planos da candidatura para 2014.

"Realmente é difícil. O Arthur é um nome consolidado, foi líder e ministro do governo Fernando Henrique Cardoso e tem muita força política no Amazonas"

Renato Rabelo, presidente nacional do PCdoB